novembro 25, 2024 10:35

Alfredo Nascimento se ‘apega’ a ações realizadas no passado, quando foi prefeito, para conquistar o voto rejeitado

Candidato do ‘sistema’, apoiado pelo prefeito Arthur Neto (PSDB), que finaliza sua gestão dentro de 90 dias, Alfredo Nascimento, do PL, se apega a um passado distante para embasar seu discurso e atividades de campanha. Não raramente, ele adota o discurso do que fez e realizou na capital amazonense quando foi prefeito em dois mandatos, entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000, há mais de 20 anos.

A estratégia de ‘relembrar’ o eleitor do que fez é uma alternativa que ele e sua equipe de estratégia tem adotado, como forma de se manter no páreo da eleição, uma vez que sua rejeição é superior a 25% e se apresenta em quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto, segundo os últimos estudos do Instituto Pontual. Além disso, por ser o “candidato oficial”, eventuais críticas à gestão que finaliza em três meses ficam engessadas e o discurso de campanha limitado.

Com passagens pelos Executivos estadual e municipal, além de assumir o cargo de ministro do Transporte no governo do PT, Alfredo já foi senador da República e deputado federal e, com a impossibilidade de apresentar um discurso do ‘novo’, do ‘diferente’, vem dialogando com a população como o ‘experiente’.

Em visitas e reuniões em várias zonas de Manaus, Alfredo fala sobre manter ações que deram certo do prefeito Arthur Neto e ‘ressuscitar’ aquilo que deu certo no passado. Em um discurso recente, o candidato falou sobre trazer de volta o “Programa Mãe Social”, que consistia na contratação de uma “mãe social” para tomar conta de até cinco crianças de sua vizinhança, recebendo a alimentação e o material pedagógico.

‘Administração marcada por indicadores’

Sobre a educação, Alfredo tenta relembrar aos eleitores sobre construções realizada em sua gestão, que finalizou há 16 anos, ao afirmar em uma reunião com eleitores que construiu 45 escolas e proporcionou um aumento de 70% no número de vagas da rede municipal quando esteve prefeito de Manaus.

“Minha administração foi marcada por indicadores que apontavam a diminuição da evasão e repetência, da melhoria da merenda escolar, qualificação de professores, aumento do número e qualidade das escolas, mais alunos nas salas de aula. Todos os setores tiveram formidáveis desempenhos. O desafio foi alcançado e não deixamos nenhuma criança fora da sala de aula. Os professores tiveram um dos melhores salários do país. Tudo isso vai voltar”, discursou Alfredo.

Quando ministro dos Transportes, Alfredo disse que construiu 44 portos no interior do Amazonas. E sobre o transporte público de Manaus, ele tem massificado que criou os terminais de integração T3, T4 e T5 para que os passageiros pudessem pagar uma única passagem em seu deslocamento.

“Outro grande avanço para a mobilidade da capital foi a duplicação de faixas nas avenidas André Araújo, Autaz Mirim, Constantino Nery e Max Teixeira. Além disso, foram criados os corredores exclusivos, conhecidos como faixa exclusiva”, lembrou o candidato.

Na área da saúde, ele cita programas e projetos desenvolvidos quando prefeito, no período de 1997 a 2004, como o Programa Médico da Família.

BR 319

Para se defender das críticas ferozes de seus adversários, sobre sue período no Minsitério dos Transportes e a obra inacabada da BR-319, Alfredo garante que fez mais da metade da rodovia federal. “Dos 877 quilômetros, eu fiz mais de 400”, reforça.

Alfredo explicou que a rodovia tem 877 quilômetros e liga Manaus a Porto Velho. E que quando assumiu o ministério, tinha a promessa, do então presidente Lula, de fazer a BR-319, que até aquele momento não possuía trafegabilidade. Ele explicou, ainda, que apesar da falta de licenciamento ambiental para o trecho central foram asfaltados mais de 400 quilômetros da rodovia nos extremos, entre as cidades de Porto Velho e Humaitá e outro trecho saindo de Manaus.

‘Fome’

Nas conversas e reuniões com comunitários, o candidato tem usado essa estratégia de ‘lembrança’. Em recente encontro a convite dos moradores do Lago Azul, na Zona Norte, disse que a fome foi um dos maiores desafios da sua gestão à frente da Prefeitura de Manaus, quando foi duas vezes chefe do Executivo municipal (1997 a 2004). Ele lembrou que quando criou o Programa Médico da Família, em 1999, as comunidades atendidas pelas equipes de saúde tiveram, muitas vezes, os remédios substituídos por alimentos.

Estratégia

Para o sociólogo e cientista político Ademir Ramos, todos que passaram pela gestão de uma prefeitura ou ocuparam cargo no Executivo, seja municipal ou estadual, usarão o mesmo discurso de Alfredo para buscar uma identificação com o eleitor.

“O candidato busca uma relação, e nessa identificação, ele fala o que já fez para sustentar uma confiança. Todos os candidatos desse perfil têm essa mesma tática. Mas, a diferença é o que diz que fez e como fez. Isso vale para Amazonino Mendes (Podemos), David Almeida (Avante). Esses candidatos vão bater nesta tônica”, analisou o especialista.

Ramos observa que, quem passou pelo governo têm obras, projetos e programas e eles irão se vangloriar disso. A questão, enfatiza, é onde está o diferencial, de como fizeram, o método como realizou tais obras, se a sociedade teve participação efetiva, se discutiu com movimentos. “É esse diferencial que vai estabelecer a ligação com o eleitor”, acrescentou.

‘Desgaste de empatia social’

Para o advogado e cientista político Carlos Santiago, o candidato Alfredo Nascimento enfrenta um desgaste de empatia social, isso, devido a situação de quem já administrou o Executivo e acaba recebendo uma parcela de rejeição.

Nem sempre uma administração é bem avaliada, e isso causa um certo grau de rejeição, no caso do Alfredo, esse grau de rejeição se concentra quando ele esteve à frente do Ministério dos Transportes”, disse o especialista.

No entanto, Carlos Santiago explicou que este é o caminho certo e a estratégia mais plausível escolhida por Alfredo para as eleições municipais deste ano, reaproveitando na gestão dele o que foi bem avaliado e unido com programas bem sucedidos na administração do prefeito Arthur Neto, apoiador da candidatura do ex-deputado federal.

Santiago explicou que Alfredo Nascimento não pode falar um discurso do ‘novo’, da ‘mudança’ ou do ‘diferencial’, isso, devido aos longos anos de vida pública. “É normal que ele trilhe o discurso da experiência, trazendo programas bem avaliados pela sociedade durante sua gestão e, agora, na gestão do prefeito de Arthur Neto. O problema é que ele traz, não apenas o lado positivo, como a rejeição tanto dele quando foi prefeito, quanto de Arthur”, disse o cientista político.

Em sua análise, Carlos Santiago disse, ainda, que em 2018, Alfredo não foi eleito para o Senado Federal, pois, naquele momento, havia um discurso de novo na política e a sociedade acabou aderindo a esse discurso. Entretanto, ele avalia que esse discurso perdeu a forma e volta a ganhar a força o discurso da experiência, o que deve fazer Alfredo ‘surfar’ durante as eleições.

 

 

 

Henderson Martins, para O Poder

Foto: Divulgação/Redes Sociais do candidato

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