Nos últimos nove meses, após o primeiro caso do novo coronavírus registrado no Amazonas, no dia 13 de março deste ano, o sistema público de saúde do Estado tem sido colocado à prova, constantemente, e entrou em colapso. Enquanto o número de infectados chegou à marca de 201.013 casos, 5.285 pessoas morreram, houve exonerações, secretários sendo detidos pela Polícia Federal, investigação sobre fraude na compra de respiradores e até busca e apreensão na casa do governador Wilson Lima (PSC).
No Estado, o primeiro caso foi confirmado no dia 13 de março, uma mulher de 39 anos que veio de Londres. Poucos dias após, entre abril e maio, o Amazonas atingiu o primeiro pico da pandemia do vírus, período em que vigorou decreto do governador Wilson Lima com fechamento de estabelecimentos comerciais não essenciais. Em maio, o Estado já registrava 11.758 casos da doença.
Nesse período, quando pacientes chegavam a todo instante nos hospitais, o governo do Amazonas mandou instalar na área externa das unidades hospitalares câmaras frigoríficas para armazenar os corpos dos cadáveres.
Com o Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz, onde se concentrava o atendimento de pacientes com a Covid, chegando ao limite da capacidade de atendimento, Wilson anunciou a implantação de um hospital de retaguarda para ampliar o atendimento. O local em questão funcionou nas instalações do Hospital Nilton Lins, custou aos cofres do Estado R$ 2,6 milhões e gerou diversas críticas ao governador.
Período crítico
Entre abril e maio, familiares de vítimas da Covid sofriam para sepultar os mortos, que em alguns dias foram enterrados em valas comuns um ao lado do outro. Nesse período, o número de enterros passou de 100 em alguns dias somados aos casos da Covid.
Enquanto pessoas morriam ou padeciam na busca por atendimento, o governador se viu envolvido em nova polêmica com a compra de 28 respiradores superfaturados e inservíveis para a Covid-19. Na época, o ex-secretário de Saúde, Rodrigo Tobias, declarou que Wilson comandou a compra do equipamento em uma loja de vinhos. A compra foi 316% mais cara que aparelhos vendidos no Brasil e até mesmo no exterior.
No mês de junho, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sangria para investigar esse superfaturamento na compra dos respiradores por R$ 2.976 milhões. Na primeira fase da Sangria, Lima foi alvo de busca e apreensão, a então secretária de Saúde, Simone Papaiz, e mais 7 pessoas chegaram a ser presas.
Já na segunda fase da Operação Sangria, foi a vez do vice-governador, Carlos Almeida Filho (sem partido), ser alvo de busca e apreensão e mais quatro pessoas foram presas. Em novembro, a PF anunciou a terceira fase investigando a prática de crimes de fraude de licitação, organização criminosa, desvio de recursos e até lavagem de dinheiro.
CPI da Saúde
A suposta farra com dinheiro público virou alvo também de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), que investigou desvios do dinheiro público no período de crise da pandemia quando pessoas morriam.
Diversos agentes públicos foram ouvidos e após 120 de investigações os trabalhos foram encerrados e um relatório foi entregue as autoridades.
Segundo pico
No fim do ano, logo após as eleições, o número de casos de infecção voltou a explodir e em 24 horas o Estado chegou a registrar mais de 1.400 infectados e mais de 10 mortos. No total, o Amazonas está com 201.013 casos confirmados e 5.285 mortes, segundo dados da FVS desta quinta-feira, 31.
Diante da nova crise com o segundo pico da doença, o governador Wilson Lima chegou a editar um novo decreto fechando o comércio não essencial no período de 26 de dezembro a 10 de janeiro, mas voltou atrás após ser duramente criticado e alvo de manifestações. Agora, com o novo decreto, o comércio funciona das 8h às 16h.
Plano de combate
Com o sistema público de saúde em colapso novamente, o governador avalia operacionalização do Plano de Contingência do Governo do Amazonas para combater o avanço do novo coronavírus no Estado. O governo está na quarta fase do plano devido aos aumento de casos com atendimento em hospitais como o Platão Araújo e 28 de Agosto.
Nesta quinta-feira, 31, governador Wilson Lima inspecionou a Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), que vai passar a ofertar 20 leitos clínicos e 18 leitos de Unidade de Terapia intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19. A oferta faz parte do Plano de Contingência do Governo do Estado de ampliação de leitos nas unidades hospitalares da capital.
“Estamos otimizando todos os espaços que nós temos, e as fundações têm uma contribuição muito grande nesse momento. E essa integração com as instituições é para que leitos possam ser abertos. Na Fundação de Medicina Tropical estão sendo abertos 20 novos leitos clínicos e, até domingo, 18 leitos de UTI entrarão em funcionamento, incluindo leitos da pediatria, uma vez que a gente tem alguns casos de crianças que estão sendo acometidas pela Covid”, disse.
Na última semana, hospitais como Santa Julia, Adventista e Unimed emitiram nota afirmando que chegaram ao limite da capacidade para atendimento de pacientes com o vírus.
Câmaras frias
Da mesma forma como ocorreu no primeiro pico da Covid-19, na tarde desta quinta-feira, 31, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) voltou a instalar uma câmara fria no Hospital e Pronto Socorro João Lúcio, na Zona Leste. A estrutura será usada para dar suporte aos hospitais para acondicionar os cadáveres de pacientes que morrem pela Covid.
Além disso, segundo a SES, o Estado está reforçando a estrutura de atendimento no pós-óbito dos prontos-socorros da rede estadual, trabalhando na instalação de câmaras mortuárias nos necrotérios dos prontos-socorros da capital.
Sem vagas
O governador Wilson Lima reconheceu, durante evento na manhã desta quinta-feira, 31, que pode faltar vagas para atendimento caso o número de vagas continue aumentando como nos últimos dias.
Álik Menezes, para O Poder
Foto: Divulgação