novembro 23, 2024 11:59

Sem explicações, Cascavel retira material de unidade de saúde; moradores denunciam abandono

A Unidade Mista de Saúde Bom Samaritano, localizada na Comunidade Indígena da Barata, a 60 quilômetros da sede do município de Alto Alegre, está abandonada pelo governo do Estado. É o que denunciam, sob anonimato, servidores e moradores da região. De acordo com eles, a estrutura está deteriorada, faltam médicos e material para atender a população. A denúncia foi feita a O Poder nesta quinta-feira, 17.

Na sexta-feira, 11, o secretário de Saúde, Airton Cascavel, fez uma visita-surpresa e levou do Bom Samaritano vários itens, como soro e fio de sutura, sem dar explicações. Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que o material retirado era “excedente” e foi enviado para outras unidades.

“A nossa unidade está bastante desassistida pelo Poder Público. Trabalhamos em condições precárias. O prédio ainda não caiu devido à boa vontade de quem trabalha no local”, afirma um funcionário, acrescentando que, recentemente, uma reforma foi feita pelos próprios servidores. “Reformaram, pintaram e instalaram uma central de ar”.

Um morador afirma que fechar a unidade de saúde, seria prejudicial para a comunidade. “Deixar isso acontecer faria um estrago grande para toda a região. Ainda não sei por que não fecharam, haja vista as condições em que o prédio se encontra”, lamenta.

Em 2020, uma emenda parlamentar de R$ 1 milhão foi aprovada para reforma da Unidade Mista Bom Samaritano, sendo que R$ 500 mil foram empenhados, ou seja, reservados pelo Poder Executivo para o gasto destinado, mas nem um centavo sequer foi transferido para Roraima.

Além de não ter sido reformada, a unidade precisa de mais servidores para atender à demanda da região. Pelo menos, segundo informaram alguns funcionários, seriam necessários mais dois médicos, vigias, pessoas para trabalharem no setor administrativo e na limpeza, tendo em vista que o Bom Samaritano funciona 24 horas.

“Não temos condições de manter pacientes internados devido às condições precárias das instalações. Só temos ‘observação’. No auge da Covid, foi desumano o que ocorreu aqui. Demos suporte a toda região, mais de seis mil pessoas. O único médico chegou a atender 74 pacientes em um dia”, relata outro servidor.

Ambulância

Há pelo menos uma semana, a Comunidade da Barata não dispõe de veículos para transportar pacientes. A ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) está quebrada.

“Ainda não consertaram. Estamos aguardando mandarem da sede. Enquanto isso, quem precisa se deslocar, vai no próprio veículo. Às vezes, vão no da Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] ou na ambulância do Samu de Alto Alegre, que fica a 60 quilômetros daqui”, afirma outro denunciante.

Visita-surpresa

Na sexta-feira, o secretário de Saúde, Airton Cascavel, fez uma visita-surpresa à unidade de saúde. Acreditando que ele apresentaria soluções, os servidores se decepcionaram ao não ter respostas sobre uma possível reforma do Bom Samaritano nem em relação ao conserto da ambulância.

“Falamos sobre a falta de médicos, que estamos sem ambulância há vários dias, mas ele [Cascavel] não disse nada. Apenas determinou que as centrais não sejam instaladas, pois o prédio vai ser reformado. Mas quando? Nada foi dito a respeito.”

Testemunhas relataram a O Poder que Airton Cascavel, que estava acompanhado de uma mulher no dia da visita-surpresa, levou da unidade de saúde material médico-hospitalar, mas não informou por quais motivos estava retirando os itens do local.

“Ele pegou insumos. Foram pelo menos 30 caixas contendo soro, papel grau cirúrgico e fio de sutura. Colocou tudo numa caminhonete branca e foi embora. Dias depois, mandaram avisar que iriam buscar as centrais”, afirma um dos denunciantes.

Gestão compartilhada

Em nota, a Secretaria de Saúde esclareceu que a gestão da Unidade Mista Bom Samaritano é compartilhada entre o governo do Estado e a prefeitura de Alto Alegre.

Para melhorar a estrutura física, ainda de acordo com a Sesau, o governo abriu processo licitatório para contratação de empresa para reformar a unidade. O cronograma com datas e prazos será divulgado após a finalização do processo, que segue os trâmites determinados em lei.

Quanto à ambulância que atende a unidade, esclarece que o veículo apresentou problema e foi encaminhado para manutenção nesta quarta-feira, 16. Mas o hospital não ficou desguarnecido, uma vez que se o reparo não for concluído nesta quinta, 17, conforme previsão, um novo veículo será providenciado para a substituição.

“É importante esclarecer que durante a visita do secretário de Saúde à unidade, o material excedente, que foi por engano para a unidade, foi removido e destinado para outras, sem comprometer o funcionamento da Unidade Mista Bom Samaritano”, afirma a Sesau.

Sobre a falta de médico, a gestão reforça que tem trabalhado para manter a estrutura adequada para as demandas das unidades hospitalares, realizando, inclusive, a contratação de mais profissionais.

Prefeitura

Por telefone, o prefeito de Alto Alegre, Pedro Henrique Machado (PSD), assegurou à reportagem que a prefeitura não administra com o Estado a Unidade Mista Bom Samaritano.

“Se houver uma gestão mista, deve ser entre o governo do Estado e o Dsei [Distrito Especial de Saúde Indígena]. Sei dos problemas que existem no local e iremos construir, até agosto, uma UBS [unidade básica de saúde] na Comunidade da Barata”, garantiu.

Dsei

Um servidor do Dsei afirmou à reportagem que o Bom Samaritano é administrado pelo governo do Estado e que o distrito é responsável pela atenção básica.

Ainda de acordo com ele, o Dsei mantém uma unidade básica de saúde na Comunidade da Barata.

 

Érico Veríssimo, para O Poder

Foto: Arquivo pessoal

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