A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia se tornou uma antecipação do calendário político de olho nas eleições de 2022. O ambiente da Comissão é politizado, inclusive, com menções a governos e gestões anteriores, o que não possui relação com o intuito de investigar os repasses do governo federal para o combate à pandemia nos Estados e municípios, e identificar os responsáveis pela morte de mais de 500 mil brasileiros.
Em ano pré-eleitoral, os futuros candidatos apostam na boa repercussão que a CPI tem em rádios, TVs, e, principalmente, nas redes sociais. Eles investem em falas contundentes para garantir bases eleitorais e cativar eventuais apoiadores.
“A CPI é formada de políticos, então, não adianta imaginar que ao lado do trabalho próprio da comissão, que é o de conduzir um inquérito, não existia também a necessidade de seus integrantes defenderem suas visões político-partidárias”, afirma o professor de Direito Eleitoral e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral (Abradep), Yuri Dantas.
Além de transmitir seu ponto de vista para os eleitores, o especialista também acredita que os políticos sentem a necessidade de mostrar aos eleitores que depositaram a confiança neles que seus votos valeram a pena e, assim, atrair a atenção de novos apoiadores. “Com essa premissa em mente, é possível dizer que a CPI terá um impacto na eleição do ano que vem, seja positivo ou negativo”, conta.
Conforme o cientista social Israel Pinheiro, toda CPI resulta em um impacto. No entanto, a da Pandemia, em especial, envolve um processo de apuração de algo que ainda estamos passando. Além disso, Israel acredita que a comissão atinge um tipo de eleitorado que acompanha as relações parlamentares, que antes era uma classe mais elitizada e, agora, é um público mais popular com interesse em ver o que vai acontecer diante do processo, que pode ser acompanhado, em grande parte, pelas redes sociais.
“Existe um grupo que acompanha e existe também um grupo negacionista que trata tudo isso como se fosse somente uma ‘caça às bruxas’, o que é um problema, pois muitos encaram isso como um circo ou teatro que não terá resultado nenhum, insistindo ainda em apoiar as próprias políticas negacionistas. A CPI da Pandemia, sem dúvida, apresentará um cenário diferente para 2022”, afirmou.
Amazonas
Para o cientista Israel, “os erros e acertos durante a pandemia de covid-19 serão cobrados na próxima eleição e alianças serão feitas, independente de quem estiver na estrutura do governo. O quadro já está se formando independente da CPI, mas ainda é muito cedo para falar”.
Até o momento, os impactos da CPI vão depender de seu resultado. Mesmo que toda a apuração tenha por trás uma questão política que justifique a gerência dos recursos, é preciso explicar para a população a execução dessas políticas que resultaram em um conjunto de erros que agora estão sendo cobrados pela sociedade.
Duração
A comissão foi instalada no fim de abril, com prazo para encerrar em julho. Porém, senadores calculam que existe apoio suficiente entre colegas para aprovar a prorrogação dos trabalhos por mais 90 dias.
Yasmim Araújo, para O Poder
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Edição e Revisão: Alyne Araújo e Henderson Martins