Roraima – Os ex-diretores da Cooperativa de Produção Agropecuária do Extremo Norte Brasileiro – Grão-Norte, Afrânio Marco Vebber e Alan Costa da Silva, foram denunciados pelo Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), por desvio de R$ 12,8 milhões em grãos. A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 14, pelo órgão fiscalizador.
A denúncia foi ajuizada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRR. Eles são investigados por apropriação indébita e dano qualificado. “A dupla conseguiu desviar cerca de 11 mil toneladas de grãos, avaliadas em R$12,8 milhões, que foram vendidas no mercado local e para comerciantes da Guiana”.
Eles são responsáveis pelo desvio de grãos do Complexo Agroindustrial de Silos Graneleiros, localizado na região do Monte Cristo, zona Rural de Boa Vista, às margens da BR-174. O crime ocorreu entre 2018 e 2019, sendo descoberta no início de 2020. À época, o local pertencia ao Governo do Estado e era administrado pela Cooperativa.
“As apropriações, mediante desvios, ocorriam de forma paulatina, justamente para não levantar suspeitas. Almejando criar aparente legitimidade para as negociações de compra e venda de grãos, os denunciados introduziram naquele local uma empresa homônima, a Gão Norte Serviço, de propriedade de Alan [o qual, até então, era Gerente da Cooperativa]”, narra trecho da denúncia do MPRR.
De acordo com o órgão fiscalizador, ao todo, 20 vítimas foram identificadas, entre produtores, pequenas associações e cooperativas de agricultores de Roraima. “Caso sejam condenados, Afrânio e Alan, podem pegar penas de até cinco anos e seis meses de detenção, multa e devolução dos valores desviados, com a devida correção monetária”.
Desvio
Um grupo de produtores cobrou, em agosto do ano passado, da Polícia Civil e do Ministério Público esclarecimentos sobre o sumiço de grãos que estavam armazenados no Complexo de Silos de Monte Cristo. Os agricultores prejudicados registraram boletim de ocorrência e aguardava as investigações. Entretanto, o inquérito estava em segredo de Justiça.
O desaparecimento foi constatado em fevereiro do mesmo ano, quando a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Procuradoria-Geral do Estado exigiram a entrega do complexo, que era administrado pela Cooperativa Grão Norte, para ser vendido, sendo que permaneceu de responsabilidade do Governo de Roraima.
No mês de setembro, a Polícia Civil desencadeou a Operação Êxodo 23:16, que cumpriu dois mandados de prisão, sendo de um ex-funcionário e um diretor da Grão-Norte, e cinco de busca e apreensão, sendo na área urbana de Boa Vista, dois na zona Rural e o último na cidade de São Paulo.
O trabalho foi executado pelas equipes do Grupo de Resposta Imediata (GRI), do Grupo de Resposta Tática (GRT) e coordenado pelo delegado Marcos Lázaro, diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (DPJC).
À época, Lázaro afirmou que “o esquema milionário desviou grãos de soja, milho, sorgo e milheto da Safra/2019 depositados nos silos da Grão-Norte por dezenas de grandes, médios e pequenos produtores, representados por uma cooperativa e uma associação. O esquema criminoso deixou um prejuízo que ultrapassa a casa dos R$ 15 milhões”.
Gestão de Denarium
O desvio de grãos ocorreu no início da gestão do governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), de 2018 a 2019, mas foi descoberto no ano seguinte, inclusive, fontes da reportagem informaram que, à época, Denarium teria tido prejuízos com o crime e conseguido bloquear a conta dos proprietários da Grão-Norte.
Em junho de 2020, o governador enviou um projeto de lei à Assembleia Legislativa (ALE-RR), que permitia a venda do Complexo Agroindustrial Silos Graneleiros do Monte Cristo, que estava sob responsabilidade Grão Norte há quase 20 anos, mas em abril voltou para os cuidados do Executivo Estadual, que realizou o leilão do complexo neste ano.
Da Redação O Poder
Foto: Arquivo/Secom