fevereiro 22, 2025 18:25

Quase sete em cada dez brasileiros temem agressão por causa de política

O acirramento dos ânimos no período de campanha eleitoral tem gerado temor entre os brasileiros: 67,5% afirmam ter medo de serem agredidos fisicamente por causa de suas escolhas políticas ou partidárias.

Os dados são de uma pesquisa feita pelo instituto Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e divulgada nesta quinta-feira, 15.  

A pesquisa também mostra que 3,2% dos entrevistados disseram ter sido vítimas de ameaças por motivos políticos em julho. O estudo, feito por amostragem, ouviu 2,1 mil pessoas entre os dias 3 e 13 de agosto.

“Percebemos que o medo da violência política está bastante espalhado entre as diversas camadas da população. Há uma preocupação real do quanto esse acirramento pode afetar a integridade física das pessoas” afirma David Marques, coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Segundo ele, o objetivo da pesquisa, chamada “Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022”, é entender o peso do medo da violência na percepção e na atitude dos brasileiros quanto ao autoritarismo e a democracia.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública já havia feito uma pesquisa sobre violência e autoritarismo, sem avaliar o apoio à democracia, em 2017. A ideia era medir a propensão da população ao apoio de posições autoritárias em um cenário que se encaminharia para as eleições de 2018. Na versão atual, a pesquisa foi feita em um período mais próximo do pleito. 

“O nível do medo da violência como um todo cresceu”, e “apesar da redução de alguns indicadores de segurança, como o de mortes violentas, muito provavelmente por causa do aumento de outras modalidades de crimes – como os patrimoniais, que afetam muito a percepção e o medo das pessoas quanto à violência.”

O instituto elabora um índice de medo da violência com base em uma série de preocupações – medo de morrer assassinado, de ser sequestrado, ser vítima de estupro, ter o celular roubado etc. 

O índice varia entre 0 e 1, onde 1 é o maior nível de medo.

Esse índice era de 0,68 em 2017 e subiu para 0,76 em 2022. A pesquisa deste ano avalia algumas modalidades de violência que não foram captadas em 2017, como o medo de violência digital (como de sofrer um golpe ou ter dados divulgados na internet) e o medo da violência política.

O medo de ser vítima de grupos armados (traficantes, milícias e pistoleiros) atinge 83,9% dos entrevistados. Chama a atenção o aumento no medo de sofrer violência por parte da Polícia Militar: de 59,5% dos entrevistados, em 2017, para 63,8% em 2022.

Marques chama a atenção para o fato de que a propensão para apoiar medidas autoritárias (como desrespeito à lei para punir criminosos) é maior entre as pessoas que têm mais medo da violência.

No entanto, de maneira geral, o índice de propensão ao apoio a posições autoritárias caiu: foi de 8,1 em 2017 para 7,29 em 2022 (em uma escala de 0 a 10), perdendo força principalmente entre os jovens de 16 a 24 anos.

Hoje, a maioria dos entrevistados (66,4%) afirma que a segurança não vai melhorar com o armamento da população.

Apoio à democracia 

A pesquisa mediu também o quanto a população apoia a democracia. Os resultados mostram que 90% dos brasileiros concordam que o candidato que vencer as eleições de 2022 nas urnas e for reconhecido pela Justiça Eleitoral deve tomar posse em 1º de janeiro. E 89,3% concordam que é essencial para a democracia que o povo escolha seus líderes em eleições livres e transparentes.

Uma das perguntas, por exemplo, era se os entrevistados consideram “importante que os tribunais sejam capazes de impedir o governo de agir para além da sua autoridade”, o que teve concordância de 62% dos entrevistados. O apoio à agenda de direitos sociais e direitos humanos teve queda em 2022.

“Democracia não é só eleição, embora ela seja essencial”, explica Mônica Sodré, cientista política e diretora da RAPS. “Não queríamos olhar apenas a partir do viés eleitoral, mas também avaliar o apoio a uma série de elementos que fazem parte de um regime democrático.”

“Apesar da queda geral do índice de apoio aos direitos, tivemos melhoras em alguns dos indicadores – a percepção da sociedade sobre o racismo aumentou de 72% para 82%”, diz Sodré. “É positivo que haja um aumento na percepção sobre o problema, que é parte central das desigualdades

O apoio a programas de transferência de renda (como o Bolsa Família ou o Auxílio Brasil) também aumentou de 84% em 2017 para 95,7% em 2022.

Sodré destaca também que as mulheres tendem a apoiar mais a agenda de direitos do que os homens e que os negros apoiam mais a agenda de direitos do que os brancos.

“É algo que faz bastante sentido considerando o histórico dessas minorias quanto à violência e desigualdade”, afirma. 

Democracia e direitos

A pesquisa também mostra um importante paradoxo: o apoio à democracia é menor nos mesmos grupos em que se encontra um maior apoio à agenda de direitos humanos e sociais: a população de menor renda e menor escolaridade. Ou seja, ao mesmo tempo em que anseiam por ter seus direitos garantidos, esses grupos também são os mais propensos a relativizar a democracia.

Segundo Sodré, isso se explica pelo fato do país ser marcado pela desigualdade e de os benefícios da democracia não estarem sendo sentidos por toda a população.

A democracia não se traduziu em ganho de qualidade de vida e bem estar para todo mundo no Brasil, diz ela. “E, embora os grupos mais vulneráveis valorizem um conjunto de atributos que vem com a democracia, eles também estão mais propensos a relativizá-la e apoiar medidas autoritárias na espera de resolução de seus problemas.”

 

Da Redação, com informações da BBC News Brasil 

Foto: Divulgação 

 

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