A primeira semana de discussões na COP27, em Sharm el-Sheik, no Egito, foi marcada por discursos fortes, debates emocionados e muitas declarações de boas intenções. Mas produziu muito pouco resultado concreto.
Mais de 120 chefes de estado e de governo compareceram à Cúpula do Clima da ONU e fizeram discursos para um plenário lotado, todos prometendo agir para conter as mudanças climáticas.
A maioria desses discursos seguiu um roteiro parecido. Os líderes começavam alertando o mundo para as terríveis consequências do aquecimento global, mostravam as intenções de seus países para contornar o problema e terminavam com notas de esperança sobre a possibilidade de o planeta se salvar –caso, claro, ações enérgicas sejam tomadas sem perda de tempo.
No lado das negociações, no entanto, não houve nenhum avanço significativo.
O ponto mais festejado pelos anfitriões aconteceu logo no início da cúpula, quando os países concordaram em colocar na agenda do evento discussões sobre a questão de perdas e danos.
Trata-se de um mecanismo para compensar os países mais vulneráveis que já estão sofrendo com os impactos de eventos climáticos extremos. Essas nações são, geralmente, as que menos contribuíram para a emissão de gases causadores do efeito estufa.
A compensação deveria ser paga pelos países mais ricos, os maiores responsáveis pela emissão histórica de gases do efeito estufa –como os Estados Unidos, a Europa Ocidental, Japão, Canadá e Austrália.
No entanto, as discussões sobre os mecanismos de compensação nunca avançaram –e o Egito, aliado a outros países em desenvolvimento, vem pressionando para que esta COP27 gere resultados nesse campo.
Esses países, no entanto, sofrem grande resistência das nações ricas –que adotam todas as artimanhas possíveis para protelar a discussão.
O simples fato de o tema ter entrado na pauta da cúpula foi vendido como um grande avanço, mas, de fato, não significa nada concreto –além do agendamento de conversas entre as partes.
O presidente americano, Joe Biden, chegou atrasado à COP27, fazendo um discurso de cerca de 25 minutos na sexta-feira (11). No entanto, ele também decepcionou.
Biden evitou falar de perdas e danos, preferindo enaltecer o seu país por ter adotado uma nova legislação ambiental muito forte para conter as emissões que causam o aquecimento global. Ele também anunciou planos para diminuir a emissão de metano, um dos gases que mais contribui para o aquecimento do planeta.
O presidente americano garantiu que seu país vai atingir suas metas de corte de emissões até 2030 –o que é uma notícia importante, mas insuficiente para satisfazer todas as outras partes presentes à COP.
Alguns países anunciaram acordos bilaterais e ajuda a outras nações. O próprio Biden anunciou que os EUA destinarão US$ 150 milhões para ajudar países africanos –uma quantia que foi questionada pela imprensa local, desapontada com o baixo valor da ajuda.
No meio da semana, os enviados especiais para o clima da China, Xie Zhenhua, e dos Estados Unidos, John Kerry, estiveram juntos em uma reunião fora da pauta oficial. Os países chegaram a colaborar na frente climática anteriormente, mas foram interrompidos depois que a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitou a ilha de Taiwan. O ensaio de uma reaproximação esfriou após Kerry ter indicado que falta muito para os dois lados voltarem a colaborar.
O Brasil vem sendo assunto nos corredores da conferência por dois motivos. O primeiro, a expectativa da chegada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na semana que vem. O segundo, a importância da Amazônia para a preservação do meio ambiente.
Por enquanto só há diálogo. Apesar de ao menos 25 países terem aderido à Parceria de Líderes para Floresta e Clima, por enquanto, o Brasil ficou de fora. Em outra frente de preservação florestal, o governo brasileiro anunciou que irá formalizar uma aliança com a Indonésia e a República Democrática do Congo.
Tradicionalmente, a primeira semana da COP é marcada mais por discussões técnicas, debates da sociedade civil e alguns protestos localizados. No Egito, não foi diferente. Os pavilhões que concentravam os estandes dos países e da sociedade civil pareciam estar em festa de terça-feira (8) a este sábado (12).
Espera-se agora que as negociações entre os países avancem na segunda semana. Mas as expectativas para o anúncio de um novo acordo impactante são muito baixas.
A guerra de Putin na Ucrânia tem sido citada como desculpa por países na Europa que não devem conseguir alcançar promessas traçadas na conferência do ano passado. Desde o início da conferência, no entanto, chefes da COP27 têm exortado líderes globais a focar esforços em mais de uma frente, para que seja possível reduzir os impactos da crise climática e beneficiar os países em desenvolvimento.
Com informações da CNN Brasil
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