O Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Greenpeace Brasil mais informações sobre a descoberta de 130 embarcações de garimpo ilegal no rio Madeira, noticiado no dia 3 de fevereiro. A organização tem três dias úteis para passar as informações requeridas no autos do despacho publicado no dia 12 de fevereiro. De acordo com o documento, o pedido faz parte do procedimento instaurado para acompanhar e fiscalizar ações interinstitucionais de prevenção e repressão ao garimpo ilegal no Amazonas, especialmente nos rios Madeira, Javari, Trombetas, Amazonas entre outras Bacias Hidrográficas.
Segundo o MPF, as atividades de garimpo ilegal no rio Madeira, entre os municípios de Novo Aripuanã e Humaitá, são de extrema gravidade e complexidade. O aparecimento de 130 balsas é alarmante porque há cinco meses houve uma operação conjunta entre Ibama e Polícia Federal e 450 embarcações similares foram destruídas no local.
“A reincidência dessas atividades ilegais evidencia não apenas a resiliência das estruturas criminosas envolvidas, mas também aponta para possíveis lacunas nas estratégias de fiscalização e repressão adotadas até o momento. O modus operandi desses garimpeiros envolve o uso de dragas que revolvem os sedimentos do leito do rio com maquinário pesado, resultando na destruição do leito fluvial, contaminação das águas por mercúrio e impactos severos nas comunidades ribeirinhas que dependem do rio para sua subsistência”, diz trecho do documento assinado pelo Procurador da República, André Luiz Porreca Ferreira Cunha.
Veja:
Descoberta por radar
O Greenpeace Brasil utilizou imagens de radar SAR (Synthethic Aperture Radar), captadas pelo satélite Sentinel 1, para detectar um novo aglomerado de 130 balsas, mostrando a resiliência da atividade garimpeira na região.
As dragas de garimpo foram detectadas por meio de 12 alertas distintos. Desses, 7 correspondem a balsas agregadas em operação, enquanto os outros 5 referem-se a balsas em deslocamento ou ancoradas. As embarcações foram registradas na região do Rio Madeira entre os municípios de Novo Aripuanã e Humaitá.
Expansão descontrolada do garimpo
Dados do MapBiomas, de 2021, mostram que a área de garimpo terrestre na bacia do Madeira saltou de 3.753 hectares em 2007, para 9.660 hectares em 2020 – um aumento de 5.907 hectares, o equivalente a mais de 8.200 campos de futebol. Na Amazônia, que concentra 94% da área garimpada do Brasil, mais de 50% das operações ocorrem ilegalmente em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. O garimpo no bioma cresceu 10 vezes nas últimas três décadas, com aumentos de 301% em Unidades de Conservação e 495% em Terras Indígenas.
O Greenpeace Brasil está desenvolvendo uma ferramenta inovadora para identificar aglomerações de balsas de garimpo ilegal em tempo quase real, utilizando tecnologia de radar SAR. Essa ferramenta visa auxiliar órgãos como Ibama e Polícia Federal em ações rápidas e eficazes, mas a repressão isolada não basta.
Priscila Rosas, para Portal O Poder com informações de Greenpeace Brasil
Foto: Bruno Kelly/Arquivo Greenpeace