Os vereadores da Câmara Municipal de Itacoatiara expulsaram o repórter Melk Santos durante sessão plenária realizada na noite de terça-feira, dia 14. O jornalista foi ameaçado de ser algemado caso não deixasse o plenário.
Condenação e rejeição da cassação
A Justiça Federal condenou o vereador Jucinei Freire da Silva, conhecido como Ney Nobre, a 10 anos e 4 meses de prisão em regime fechado por fraudes em financiamentos rurais do Banco da Amazônia (BASA), por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Mesmo diante da condenação, na segunda-feira, 13, os parlamentares da Câmara rejeitaram o pedido de cassação do mandato de Ney Nobre por quebra de decoro parlamentar. A justificativa dos vereadores foi de que os crimes não teriam ocorrido nesta legislatura. A decisão repercutiu na cidade com a cobertura do repórter Melk.
Ameaça e expulsão
Durante a sessão seguinte, na terça, 14, o presidente da Câmara, vereador Arialdo Guimarães (Mobiliza), ao avistar o repórter, pediu que ele não se manifestasse.
“Posso contar com sua decência, meu querido? Obrigado. Lá fora você presta justiça com quem você quiser, mas aqui dentro eu gostaria do respeito”, disse o parlamentar.
Em seguida, outro vereador pediu questão de ordem e determinou a saída imediata de Melk, afirmando que, dentro da Casa Legislativa mantida com recursos públicos, quem mandava eram os vereadores.
“Nesta casa, quem manda é os vereadores. Então eu peço que você se retire, por favor, se não você vai sair algemado daqui”, declarou ao se direcionar ao repórter.
Após o episódio, os vereadores iniciaram a votação de projetos e requerimentos. Ao fim, o presidente abriu espaço para que os parlamentares se pronunciassem.
Defesa dos parlamentares
O vereador Richardson Aranha (Mobiliza) afirmou que o pedido de cassação teve como objetivo “criar tumulto”.
“Quem protocolou sabia que não cabia cassação fez porque era para criar tumulto, inclusive o próprio rapaz chamei ele de analfabeto no pedido de cassação passado, mas não analfabeto de uma forma pejorativa e sim porque ele não tem conhecimento do que ele assinou. […] Eu entendo que não cabia cassação, agora eu não vou discutir com o leigo, o cara que nunca sentou no banco de uma faculdade para explicar que ele está errado, não vai adiantar. Eu não aceito a ofensa, tem um rapaz que vai servir de exemplo, ele vai ganhar 17 processos criminais cuja pena de seis meses a um ano, some isso no mínimo ele vai pegar seis anos e pouco de cadeira. Ele nunca mais vai ofender ninguém”, discursou.
Já a vereadora Nilda Abrahim (Republicanos) classificou como “humilhante” ser “taxada de bandido”. A parlamentar defendeu que a Câmara apenas seguiu o regimento interno.
“Ninguém está aqui para julgar crime, nós temos que seguir o regimento, nós nos levantamos diante de uma situação para a qual a Casa não tem competência para julgar. O nosso colega está respondendo, e se cabe recurso ainda, ele não é culpado. São essas situações que as pessoas às vezes não entendem lá fora tem que aprender a ler; tem que aprender a estudar para poder falar o que é certo e não sair ofendendo as pessoas dessa maneira, têm que ter mais respeito pelas pessoas que trabalham aqui”, afirmou.
Nova tentativa de expulsão
Durante o pronunciamento do vereador Daniel Mendonça (MDB), o presidente interrompeu a fala do parlamentar ao perceber que Melk havia retornado ao plenário.
“Melk quando terminar a sessão você pode continuar o seu trabalho, para não atrapalhar, se não vou pedir pra você se retirar. Posso contar com o amigo? […] Eu estou dizendo pra você esperar terminar o trabalho pra você fazer o seu trabalho, agora se você interromper você vai ser obrigado a sair. Eu peço que os seguranças da Câmara retirem o repórter por favor”, afirmou, citando o regimento da Casa.
Diante do impasse, um dos parlamentares sugeriu o encerramento da sessão, afirmando que a situação já era “questão de polícia”.
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Thaise Rocha, para o Portal O Poder
Foto: Reprodução