No interior do Amazonas, o poder público tem se tornado, há tempos, um verdadeiro negócio de família. A cada nova gestão, os cargos de confiança(comissionados) circulam dentro da mesma árvore genealógica, mudam os sobrenomes, mas não a lógica da ocupação. O que deveria ser espaço de serviço à coletividade acaba se transformando em vitrine de favorecimento e parentesco, uma prática tão enraizada que tornou-se comum nas administrações municipais.
Em Canutama, por exemplo, o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) apura uma série de nomeações de pessoas que teriam parentesco com secretários municipais ou cargos de direção na administração. O detalhe incômodo é que o próprio Executivo municipal não conseguiu explicar de forma convincente a natureza dos cargos e o processo de seleção, um retrato do velho costume.
Situação semelhante ocorre em Barcelos, onde o presidente da Câmara Municipal, Franquiberto Leite Reginaldo (Podemos), é acusado de nomear sobrinhos e familiares de vereadores para cargos comissionados. Entre os beneficiados, estão Rafael de Oliveira Cavalcante e Ana Beatriz Reginaldo de Oliveira, esta última, filha de um vereador e sobrinha do próprio presidente. O MPAM já determinou a exoneração e cobrou explicações sobre as funções e qualificações dos indicados. O episódio mostra como até o Legislativo, que deveria fiscalizar a moralidade administrativa, acaba repetindo o modelo de apadrinhamento.
A prática de nepotismo se repete com mais intensidade no município de Urucurituba. A gestão do prefeito Leôncio Tundis (PT) enfrenta denúncias envolvendo pelo menos 24 servidores ligados por laços familiares ao vice-prefeito, secretários e vereadores. A lista inclui esposa, cunhados e sobrinhos, um verdadeiro “organograma familiar” sustentado com dinheiro público. O Ministério Público e o Tribunal de Contas já recomendaram as exonerações e a suspensão dos pagamentos.
Além de ser um desvio ético, o nepotismo na administração pública perpetua a desigualdade, a ausência de mérito e competência para ocupar cargos. O resultado é uma administração que serve primeiro à família e, só depois, se sobrar tempo, ao povo.
Enquanto isso, os órgãos de controle tentam podar os galhos dessa grande árvore genealógica do poder, mas a raiz do problema continua firme: um eleitorado que precisa refletir sobre quem escolhe para representar e a quem entrega o poder.
Da Redação


