A saída de Celso Russomanno (Republicanos) da disputa não significa que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vai ficar fora dos temas da reta final da eleição para a Prefeitura de São Paulo.
O candidato do PSOL a prefeito, Guilherme Boulos, já indicou que, além de destacar a relação de seu adversário, Bruno Covas (PSDB), com o governador paulista, João Doria (PSDB), tentará colar a imagem do tucano à do presidente. Tanto Doria quanto Bolsonaro não têm se mostrado como bons cabos eleitorais na capital paulista, segundo o Datafolha.
E, para ligar Covas a Bolsonaro, Boulos até resgatou um dos termos que mais identificam o que foi a eleição de 2018: o BolsoDoria. A associação ficou ainda mais fácil para o candidato do PSOL depois que Russomanno, candidato de Bolsonaro, declarou apoio a Covas no segundo turno.
Eu sempre disse, desde o início da campanha, que nós vamos enfrentar o BolsoDoria. Agora está mais claro do que nunca.
Apesar de hoje estarem afastados e se atacarem constantemente, Doria e Bolsonaro já tiveram uma relação mais próxima. Na eleição de 2018, o tucano investiu na dobradinha BolsoDoria para poder se capitalizar politicamente na disputa pelo governo de São Paulo e se colocar como antipetista, já que Bolsonaro enfrentava Fernando Haddad (PT) no cenário nacional.
Boulos já citava ser oposição ao bolsonarismo e ao governo Doria, mas indicava a representação de cada um a partir de candidatos diferentes: Russomanno e Covas, respectivamente. Com o apoio dos dois formalizado, o BolsoDoria passou a ser destinado para o atual prefeito —que declarou não ter votado em Bolsonaro em 2018.
O apoio do Russomanno ao Bruno Covas é a nova versão do BolsoDoria. É o BolsoDoria versão 2020. Essa aliança que estava um pouco separada por razões eleitorais, por projetos pessoais, se refaz. O Bruno Covas é João Doria e o Russomanno é Bolsonaro.
Radicalismo
Antes mesmo de Russomanno definir o apoio a Covas, Boulos já demonstrava que iria ligar o tucano ao bolsonarismo. Na segunda (16), o candidato do PSOL disse que Covas estaria atrás de “votos bolsonaristas”. Com a fala, Boulos tentava rebater a tese do tucano, que disse que iria enfrentar o radicalismo no segundo turno. O tucano, depois, negou ter se referido a Boulos ao utilizar o termo.
Boulos, porém, aproveitou a polêmica e disse que Covas adotou o “discurso do bolsonarismo” e “do ódio”.
“Ele quer o voto bolsonarista e quer me atacar a partir disso. É triste ver o Bruno Covas cair nessa cilada”, disse na segunda. “Que o Bruno Covas tenha aderido a isso por conveniência eleitoral só o diminui.”
Covas à direita?
Para Lilian Furquim, doutora em Ciência Política e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) de São Paulo, “Bolsonaro vai ser um instrumento para jogar o Covas mais à direita”. “Mas com alcance limitado”, opina.
Ela lembra que Doria e Covas ficaram mais próximo em razão das ações de combate à pandemia do novo coronavírus. “E isso pode ficar mais fresco na memória [do eleitor]”, lembrando que a gestão do tucano tem boa avaliação, além de rejeição mais baixa na comparação com Boulos.
Da Redação O Poder
Fonte e Foto: UOL