Considerando o alto número de enterros de vítimas da Covid-19, na cidade de São Paulo, o Serviço Funerário, vinculado à Secretaria Municipal das Subprefeituras, desde quinta-feira (25), está contratando de forma emergencial 50 veículos modelo van, minivan ou perua para o translado funerário nos cemitérios da capital paulista.
Sem serviço por conta da pandemia, o Sindicato do Transporte Escolar de São Paulo (STE) revela que a categoria foi chamada pela empresa ganhadora do contrato público para o serviço, que começa nesta segunda-feira (29).
No documento assinado pela gestão municipal, ao qual a CNN teve acesso, é justificada uma exponencial taxa de mortes na capital causadas pela pandemia para contratar, em situação emergencial e sem licitação, a empresa Era Técnica Engenharia Construções e Serviços.
Fica acertada a locação de 54 veículos, sendo 50 deles adaptados para a prestação de serviços de translado funerário, com motorista e ajudante, além de combustível e quilometragem livre com um custo calculado de R$ 1.549.044,00.
Os motoristas das vans trabalharão, principalmente, no transporte de vítimas do novo coronavírus dos hospitais e IML (Instituto Médico Legal) ao local do enterro.
Mais quatro veículos de passeio também são pedidos pela Prefeitura para o transporte de agentes funerários, por R$ 203.503,10, totalizando um valor estimado mensal do contrato em R$ 1.752.547,10.
Em entrevista à CNN, o presidente do STE, Wesley Florêncio, confirmou ter sido procurado por um representante da Era Técnica, na última quinta-feira (25), para avisar a categoria sobre uma reunião que seria realizada, no dia seguinte, na sede da empresa para interessados no serviço. Ele diz que repassou o recado aos colegas e que houve procura, mas com receio.
“Eu soube que, aproximadamente, 130 vans, inclusive de turismo, apareceram na reunião. Eles vão ter que retirar os bancos das vans, retirar as faixas de identificação para poder fazer esse transporte de corpos. O impacto é muito grande. E depois? Essas vans vão voltar para as escolas? Esse é o medo do transportador. Eu entendo dessa maneira que eles não queiram se expor”, explica.
Apesar de avaliar a possibilidade de atuarem nos cemitérios como um trabalho digno, Florêncio diz que a categoria do transporte escolar está esquecida pelo poder público.
“Há um ano, estive no Palácio do Governo e tivemos uma reunião com vice-governador, Rodrigo Garcia. O Governo do Estado nos prometeu uma linha de crédito e até agora isso não saiu”, diz.
Procurada pela reportagem, a empresa Era Técnica disse que “toda e qualquer informação será fornecida pela Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal das Subprefeituras, a qual o Serviço Funerário está ligado”.
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informa que estão realizando esforços para dar agilidade ao serviço nesse período de pandemia com o objetivo de reduzir o sofrimento dos familiares e que a contratação da Era Técnica foi feita de forma transparente e em consonância com a legislação vigente.
“Com essa medida, o Serviço Funerário do Município de São Paulo, que atualmente conta com 45 veículos, dobra o número de carros. O Crédito Suplementar é um reforço na dotação orçamentária, pois não estavam previstos esses gastos”, explica a Secretaria Municipal de Subprefeituras.
Em nota enviada à CNN, o Governo de São Paulo informou que mantém canal aberto com todos os setores da economia e representantes de associações e que o Estado desembolsou quase R$ 2 bilhões de crédito pela Desenvolve SP, Banco do Povo e Sebrae para auxiliar empreendedores a atravessarem a crise em 2020. Ainda segundo a nota, neste ano, o governo também liberou mais R$ 275 milhões de crédito via Banco do Povo e Desenvolve SP para empreendedores.
Conteúdo CNN
Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo