Em audiência pública virtual, realizada pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), para debater o retorno das atividades presenciais e comerciais durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), nesta segunda-feira, 8, especialistas alertaram sobre um possível colapso de infecção pelo vírus no mês de julho. O relaxamento da quarentena foi dividido em quatro etapas pelo governo do Amazonas e a primeira fase iniciou no dia 1º deste mês.
De iniciativa do presidente da casa, deputado estadual Josué Neto (PRTB), que é oposição ao governo, ele informou que prefeitos e secretários de Saúde dos municípios receberão a ata da reunião por meio da Associação Amazonense de Municípios (AAM) e uma nova audiência já está sendo elaborada para discutir o tema com autoridades do Estado. Na audiência, que durou mais de quatro horas, o discurso entre os especialistas foi um só: “o momento não é ideal para o relaxamento da quarentena”.
Cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Fernante, disse que o Amazonas está longe atingir a imunidade de rebanho, quando a maioria da população já foi diagnosticada pelo vírus. “Por isso, defendemos medidas mais restritivas, e abrir atividades comerciais é contraindicado neste momento, pois, pode haver um colapso ainda maior no mês de julho”, observou.
Para Fernante, manter um sistema ‘sanfona’, com reabertura e fechamento do comércio não é algo ideal para se fazer, pois, pode provocar uma infecção ainda maior, com muitas mortes pelo vírus. “Ainda não se sabe sobre o processo de reinfecção, por isso, o ideal manter as medidas mais restritivas”, ressaltou o especialista.
A presidente da Comissão de Saúde da Aleam, deputada Mayra Pinheiro (PP), disse que a população de Manaus não chegou a 70% de isolamento, que os números de distanciamento social chegaram, no máximo, a 40%.
“Não chegamos na curva descendente, ainda estamos ascendendo, então, o ideal era manter o isolamento social”, destacou a deputada.
‘Imunidade de rebanho’
De acordo com o professor Alexander Steinmetz, diretor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), estudos realizados pela instituição mostram que a população amazonense estaria contaminada de 10% a 15%. “É importante ressaltar a título de comparação que a unidade de rebanho do sarampo é atingida quando 90% da população tem contanto com o vírus, e mesmo assim nós temos surtos anuais surgindo nas pessoas receptivas, então, nós estamos muito longe de atingir a imunidade de rebanho no momento. É algo muito especulativo. Todos os estudos científicos mostram que estamos muito longe de atingir isso”, afirmou.
Alexander Steinmetz defendeu que o Governo do Estado faça testagem aleatória com a população e forma periódica.
O médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT), Bernardino Albuquerque, também afirmou que o processo de abertura chega em uma ocasião imprópria. “Nós não tínhamos nenhuma resposta efetiva, se vamos abrir ou continuar nessas medidas de restrições. O que nós tivemos, aí, que foi inerente as medidas de contenção. A melhora da qualidade dos pacientes, isso interferiu na mortalidade por essa doença, no entanto, a ciência nos mostra que a situação não está concluída. Nós ainda temos aí uma situação futura muito preocupante, de ter uma segunda onda que possivelmente poderá ser pior do que a primeira”, disse.
Governo
Em nota, a Secretaria de Comunicação (Secom) informou que desde o anúncio do plano de reabertura gradual, o governo do Amazonas tem esclarecido que a decisão de retomada gradativa tem como base indicadores epidemiológicos e da rede de assistência à saúde. “Portanto, a execução do primeiro ciclo de reabertura foi possível graças à estabilização e, nas últimas semanas, queda de óbitos e internações por Covid em Manaus”, diz a nota.
O avanço para os ciclos seguintes, segundo o governo, dependerá de nova avaliação dos indicadores.
Dados
Desde o início da reabertura das atividades comerciais, dados divulgados pela Fundação e Vigilância em Saúde (FVS), mostram diferentes números de infectados. Na segunda-feira, 1° de junho, por exemplo, o Amazonas diagnosticou 396 casos do novo coronavírus, na terça os números saltaram para 1.421 casos, na quarta reduziu para 1.152 infectados, na quinta-feira o número foi de 2.126 novos casos, quase o dobro do dia anterior.
Já na sexta-feira, 5, os números de infectados reduziram para 1.193, no sábado o total de infectados ficou em 1.119 e no domingo, os números reduziram para 487. Os números de mortes pelo vírus somaram do dia 1º de junho até o domingo, 7, um total de 179, saltando de 2.071 para 2.250 óbitos em sete dias.
Henderson Martins, para O Poder
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