A visibilidade que os vereadores Amom Mandel (sem partido) e Rodrigo Guedes (PSC) ganharam nos últimos dias incomodou mais os parlamentares que os R$ 31,9 milhões que devem ser gastos na construção do “puxadinho”, como ficou conhecido o futuro Anexo II da Câmara Municipal de Manaus (CMM). A Sessão Plenária desta segunda-feira, 20, foi marcada por discursos com indiretas, tentativas de relativizar a construção, posicionamentos contra a obra por pressão social ou até mesmo silêncio absoluto.
Informações dos bastidores falam que alguns vereadores tentaram adotar a “pauta positiva” como forma de diminuir os impactos que os escândalos sobre a construção do Anexo II e a o aluguel de veículos causaram nos últimos dias. Porém, alguns parlamentares que subiram a tribuna durante o Pequeno Expediente optaram por mostrar a sua visão sobre os fatos. O presidente da Casa Legislativa, David Reis (Avante), não apareceu no plenário.
Por pressão social, alguns parlamentares se viram forçados a tecer comentários ou a revalidar os seus posicionamentos. Rodrigo Guedes (PSC) voltou a falar sobre sua tese de retornar o dinheiro para a Prefeitura de Manaus usar para benefício da população, como, por exemplo, a extensão do Auxílio Manauara. O vereador também se defendeu das acusações de que estaria utilizando um discurso “eleitoreiro” e fazendo “politicagem”.
“Ouvi alguém falar aqui que o dinheiro é da Câmara, mas é da população. Imaginem dez escolas sendo construídas ou Unidades de Saúde. Aqui é Parlamento, opiniões divergentes e não precisam ficar atacando ninguém. Ouçamos o povo”, disse.
O vereador citou as últimas construções feitas pela Casa Legislativa, como o estacionamento no valor de R$ 2 milhões e o Anexo I de quase R$ 5 milhões, entre outros. O parlamentar pediu para os colegas levarem o debate da construção para o plenário.
“Em momento nenhum alguém perguntou se eu era a favor ou contra a construção do Anexo e do aluguel dos pick-ups. Mas, para a maioria da população, disseram que eles dois foram os ídolos e nós, covardes”, criticou Sassá da Construção Civil (PT) ao comentar que a data máxima para retorno de recursos para a Prefeitura de Manaus é em dezembro.
Amom Mandel, por sua vez, direcionou seu discurso para o presidente da Casa Legislativa e apelou para os parlamentares que ainda não se posicionaram sobre a construção do Anexo. O vereador também defendeu que o dinheiro seja utilizado para outras coisas.
“Morre o espírito público quando os representantes populares deixam de escutar a vontade do povo. Para representar devidamente é preciso estar em contato com as pessoas e saber que nossos maiores chefes são as pessoas do lado de fora desta Casa. Minha oposição não é eleitoral ou discurso, é baseada em princípios e ideais”, frisou Mandel.
‘Discurso de herói’
Na mesma Sessão Plenária, Allan Campêlo disse que sofreu ataques porque alguns vereadores têm pretensões eleitorais e querem fazer política com “a cabeça dos vereadores de forma injusta”. Já Sassá chegou a citar que existe um vereador que paga blogs para “falarem mal” deles e que iria para as “vias de fato” se descobrisse quem é, pois “o mal não se deve pagar com o mal”.
Carpê Andrade (Republicanos) foi um dos que se posicionaram contra a construção do Anexo II e o aluguel de veículos no inicio da polêmica. Nesta segunda-feira, o parlamentar reafirmou seu posicionamento sobre as duas pautas e também alfinetou Mandel e Guedes por terem sido colocados como “heróis”.
“Não podemos enganar pessoas que não sabem como funciona o plenário. Concordo com todas as palavras do vereador Rodrigo Guedes. Porém, discordo quando fala que essa é uma luta apenas dele e do vereador Amom. Parece que são dois ‘heróis’ e é como se apenas eles levantassem essa bandeira. Acho que quando se está junto, nós fortalecemos mais”, disse.
Além de Carpê, Kennedy Marques (PMN) e Raiif Matos (DC) também se posicionaram contra. Marques utilizou um discurso mais isento sobre a construção frisando que não utiliza muito o gabinete, porém existem colegas com gabinetes pequenos.
“Quando eu me posicionei, eu não disse que seria contra a construção. Eu não estou dizendo que fazer o anexo é certo ou errado. Eu, se fosse o presidente, não faria. Respeito o presidente desta Casa e da Mesa Diretora, que são democráticos. Jamais faria politicagem”, disse.
Wallace Oliveira (Pros), que estava presidindo a Sessão, também falou sobre respeito. “Algumas situações fogem do controle. Para mim, é coisa de caráter. Ou você tem ou você não tem”, disse. Oliveira estava envolvido nas críticas direcionadas a Rodrigo Guedes quando o vereador se posicionou contra a construção do Anexo II na tribuna.
Suspensão
Na última sexta-feira, 17, a Câmara Municipal de Manaus resolveu suspender o processo licitatório envolvendo o Pregão presencial para locação de 41 veículos automotores estilo “pick-up”. Porém, David Reis, por meio de nota, informou que a suspensão foi um pedido da Diretoria Geral da Câmara.
Segundo o documento, o setor fará uma revisão “a fim de que não pairem dúvidas quanto à necessidade e, bem como, em relação a viabilidade técnica e econômica da contratação do serviço”.
Priscila Rosas, para O Poder
Foto: Robervaldo Rocha
Edição e Revisão: Alyne Araújo e Henderson Martins