Na disputa para a presidência do Brasil entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), os “votos envergonhados” voltaram a ser considerados pelas equipes de ambos os candidatos para uma possível vitória. O voto envergonhado é, basicamente, quando o eleitor não assume abertamente o seu voto pelo principal motivo de não ser constrangido (envergonhado) pela sua escolha democrática. Para quem trabalha com pesquisas, é difícil captar os votos desta modalidade.
A técnica para descobrir o voto envergonhado foi desenvolvida em Harvard. No Brasil, o experimento foi conduzido pelo instituto de pesquisas Quaest para tentar identificar se existe o “voto envergonhado” nas eleições deste ano.
“Todo mundo diz ‘o Bolsonaro bomba na internet, como é que as pesquisas mostram ele atrás’, então, muita gente faz a hipótese de que haveria um ‘voto envergonhado’ no Bolsonaro. O que nós fizemos? Nós usamos uma técnica que foi desenvolvida por um professor de Ciência Política de Harvard, o Kosuke Imai, em um trabalho sobre o Afeganistão para tentar identificar aliados do Al-Qaeda, quando o Departamento de Estado americano precisava entrar no Afeganistão, o Kosuke foi convidado a pensar uma metodologia em survey (em pesquisa) que pudesse a ajudar os americanos a chegarem lá e entender esse quadro”, conta Felipe Nunes, o diretor da Quaest Pesquisa, para a CNN Brasil.
Segundo Nunes, o método consiste em perguntar para as pessoas quantas coisas de uma lista elas fazem. Uma lista é destinada para o controle e outra para o de tratamento. A do tratamento tem um item a mais, o que interessa ao pesquisador.
“No caso do Afeganistão seria o apoio ao Bin Laden, no caso da eleição americana era o voto no Trump, no caso da eleição brasileira, o voto no Bolsonaro. Fizemos esse experimento com a Genial/Quaest e o que descobrimos é que o ‘voto envergonhado’ no Brasil não é no Bolsonaro, o voto envergonhado no Brasil é no Lula. Há um contingente significativo de eleitores brasileiros que não consegue, no debate público, defender a sua opinião, a sua intenção de votar no Lula porque não consegue responder a pergunta que o seu adversário político, o bolsonarista, faz, que é: ‘como é que você vai votar em um ladrão?’. O eleitor não sabe responder isso. Então ele se cala. Ele não muda de opinião, ele continua votando no Lula, mas ele não se expressa”, explica Felipe Nunes.
O motivo do estudo foi conduzido justamente para responder às teorias e dúvidas sobre a presença forte de Jair Bolsonaro (PL) nas redes ser maior do que a de Lula. Porém, o candidato petista lidera as pesquisas.
Estratégia dos candidatos
A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) criou uma estratégia para utilizar o “voto envergonhado” após a divulgação da pesquisa Datafolha na última quinta-feira, 15, em que Lula aparece com 45% das intenções de voto. Um levantamento foi feito para tentar demonstrar que das 94 pesquisas eleitorais feitas em 2018, nenhuma conseguiu determinar os “votos envergonhados”. O objetivo é estimular essa narrativa e enfraquecer as pesquisas que apontam a vitória de Lula (PT).
Já a equipe do candidato petista deve intensificar na campanha denúncias sobre a violência e intimidação de bolsonaristas contra petistas. Um dos motivos pelo qual o voto envergonhado pode beneficiar o ex-presidente é porque muitos eleitores têm medo da intimidação por causa do seu voto no Lula. Uma pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha indica que 67,5% dos brasileiros afirmam ter medo de serem agredidos fisicamente por suas escolhas políticas ou partidárias.
Priscila Rosas, para Portal O Poder
Foto: Mauro Pimentel/AFP