novembro 15, 2024 10:29

Irmã do ditador Kim Jong-un, Kim Yo-jong tem rápida ascensão no comando do país

Cada vez mais distante dos holofotes, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, despertou rumores sobre o seu estado de saúde. Na última terça-feira, presidiu uma reunião do politburo (comitê executivo) do Partido dos Trabalhadores da Coreia.

Dessa vez, foi a ausência de Kim Yo-jong, irmã do líder, que saltou aos olhos dos analistas políticos. Alguns estudiosos sugeriram que Jong-un estaria preparando-a para o poder. Jovem (ela tem 32 anos), astuta e cada vez mais presente em compromissos oficiais do autocrata de Pyongyang, Yo-jong ascendeu ao cargo de chefe do Departamento de Organização e Orientação (OGD) do único partido do país — o órgão lida com a doutrinação ideológica, a organização partidária e as nomeações políticas. O serviço de inteligência da Coreia do Sul avalia que ela ocupa a segunda posição no “comando de fato” da Coreia do Norte.

Para ascender rapidamente na chamada “estirpe Paektu” e ganhar a confiança do irmã, Yo-jong chegou a ponto de ordenar a explosão do escritório de relações com o Sul, na cidade fronteiriça de Kaesong, em 16 de junho passado.

Para Sung-Yoon Lee, professor sul-coreano de direito e diplomacia da Universidade Tufts (em Massachusetts, Estados Unidos), Yo-jong consolidou essa posição em 2014. “Naquele ano, ela foi mencionada pelo nome na mídia estatal de Pyongyang, pela primeira vez. Ali, tornou-se a segunda liderança na Coreia do Norte”, afirmou.

Lee explica que a irmã acompanhou Kim Jong-un durante reuniões com os presidentes Moon Jae-in (Coreia do Sul), Xi Jinping (China) e Donald Trump (Estados Unidos). “Somente em 2020, ela deu seis declarações formais. Em fevereiro de 2018, foi a estrela da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang. Os sul-coreanos a veem como a ‘Ivanka Trump da Coreia do Norte’ — uma alusão à filha do presidente americano. “Claramente, ela sabe como utilizar o charme e, ao mesmo tempo, ser ameaçadora. É uma mulher poderosa.”

Lee descarta que a elite militar norte-coreana revele-se um entrave, caso Yo-jong seja nomeada à sucessão. “Os generais rastejam diante dela. Todas as instâncias decisórias do regime comunista têm forte incentivo para proteger seus interesses e privilégios sob a próxima liderança. Eu espero uma transição suave”, comenta. O especialista em Coreia do Norte enumera as principais vantagens de Yo-jong para tornar-se a primeira mulher a comandar o país. “Além de ser descendente direta do fundador da nação, Kim Il-sung, assim como a família Kim, ela é dotada de supostas qualidades sobrenaturais que defenderão a nação do imperialismo e alcançarão a reunificação coreana”, observa. “Embora seja uma mulher em uma sociedade dominada pelos homens, Yo-jong é a única candidata viável ao trono. É astuta, autoritária, desperta autoconfiança e sabe como manipular os EUA e a Coreia do Norte”, principais inimigos do regime comunista.

De acordo com o norte-americano Bruce Bennett, especialista em defesa e em Coreia do Norte pela Rand Corporation (na Califórnia), os líderes norte-coreanos sempre forjaram os seus sucessores. Ele lembra que Kim Jong-il, pai do atual líder, enfrentou quase 30 anos de “preparação”. Jong-un, por sua vez, teve apenas cerca de três anos de cuidados visíveis, antes que o pai morresse, em 17 de dezembro de 2011, aos 70 anos. “A minha impressão é de que ele prepara a irmã como uma contingência para o futuro. O filho mais velho de Jong-un tem apenas 12 anos. Se algo ocorrer ao atual líder nos próximos 10 ou 20 anos, provavelmente outra pessoa precisará ascender ao posto”, disse ao Correio. “Isso não significa que Jong-un decidiu que Yo-jong será a escolhida. Ele testa a irmã e as elites mais antigas do país para ver se ela pode ser treinada. No fim das contas, o poder segue com Jong-un. Sua irmã tem se tornado mais proeminente, mas o ditador não a deixará tornar-se muito poderosa, e, portanto, uma ameaça a ele próprio.”

 

Conteúdo: Correio Brasiliense 

Foto: Jorge Silva/AFP 

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