O impacto econômico generalizado da Covid-19 aumentou a pressão financeira que os aposentados enfrentam agora e no futuro. Juntamente com o aumento da expectativa de vida e a crescente pressão sobre os recursos públicos para apoiar a saúde e o bem-estar das populações em envelhecimento, a Covid-19 está exacerbando a insegurança na aposentadoria, de acordo com o 12º Índice Global de Sistemas Previdenciários elaborado pela Mercer e o CFA Institute.
O Dr. David Knox, sócio sênior da Mercer e principal autor do estudo, disse que a recessão econômica causada pela crise global de saúde levou à redução das contribuições para as aposentadorias, menores retornos de investimento e maior dívida governamental na maioria dos países. “Inevitavelmente, isso afetará as pensões futuras, o que significa que algumas pessoas terão que trabalhar mais, enquanto outras terão que se contentar com um padrão de vida mais baixo na aposentadoria. É fundamental que os governos reflitam sobre os pontos fortes e fracos de seus sistemas para garantir melhores resultados de longo prazo aos aposentados.”
“Mesmo antes da COVID-19, muitos sistemas públicos e privados de pensão em todo o mundo estavam sob pressão crescente para manter os benefícios”, disse Margaret Franklin, Presidente e CEO do CFA Institute.
“Aprendemos muito sobre a eficácia dos sistemas previdenciários ao longo dos anos e, embora não haja um modelo único que funcione para todos os países, o Índice Global de Sistemas Previdenciários fornece informações comparativas para diferenciar o que é possível e prático em cada mercado. O CFA Institute está entusiasmado em patrocinar o índice deste ano e esperamos expandir seu impacto ainda mais por meio desse esforço colaborativo.”
Impacto da COVID-19 para o futuro dos sistemas de pensão
O impacto da COVID-19 é muito mais amplo do que apenas as implicações para a saúde; há efeitos econômicos de longo prazo que afetam as indústrias, as taxas de juros, o retorno de investimentos e a confiança da comunidade no futuro. Como resultado, a provisão de rendas de aposentadoria adequadas e sustentáveis a longo prazo também mudou.
O nível da dívida pública aumentou em muitos países após a COVID-19. É provável que esse aumento da dívida restrinja a capacidade dos futuros governos de apoiar suas populações mais velhas, seja por meio de pensões ou da prestação de outros serviços, como saúde ou assistência aos idosos.
Para ajudar a aliviar o impacto da COVID-19, os governos implantaram uma ampla gama de respostas para apoiar seus cidadãos e os sistemas previdenciários.
O professor Deep Kapur, Diretor do Monash Centre for Financial Studies (MCFS), disse que muitos governos em todo o mundo responderam à COVID-19 com estímulos fiscais substanciais e os bancos centrais adotaram uma política monetária não convencional. “A perspectiva de retorno de investimentos está silenciada, enquanto a volatilidade está elevada, aumentando os desafios normais da gestão de risco em um portfólio de previdência. “
“Além disso, alguns governos permitiram o acesso temporário a reservas de aposentadoria ou reduziram o nível das taxas de contribuição obrigatória para ajudar as famílias. Esses fatos provavelmente terão um impacto material na adequação, sustentabilidade e integridade dos sistemas de pensão, influenciando assim a evolução do Índice Global de Sistemas Previdenciários nos próximos anos”, acrescentou Kapur.
Por exemplo, a Austrália permitiu que indivíduos cuja renda havia caído em mais de 20% acessassem até AUD﹩ 20.000 (aproximadamente US﹩ 13.000) de seus ativos de pensão, enquanto o Chile permitiu que contribuintes ativos retirassem voluntariamente 10% de seus fundos de pensão individuais até o teto de US﹩ 5.600.
“É interessante notar que os dois principais sistemas de aposentadoria do Índice Global de Sistemas Previdenciários, Holanda e Dinamarca, não permitiram o acesso antecipado a ativos de pensão, embora os ativos de cada sistema correspondam a mais de 150% do PIB do seu país”, comentou o Dr. Knox.
A COVID-19 também aumentou a desigualdade de gênero na provisão de pensões.
“Mesmo antes da COVID-19 desestabilizar as economias em todo o mundo, muitas mulheres enfrentavam a aposentadoria com menos economias do que os homens. Agora, espera-se que essa lacuna aumente ainda mais em muitos sistemas de pensão, particularmente nos setores mais afetados, onde as mulheres representam mais da metade da força de trabalho, como hospitalidade e serviços de alimentação”, acrescentou o Dr. Knox.
Mensurando a probabilidade de que uma estrutura atual seja capaz de fornecer benefícios no futuro, o subíndice de sustentabilidade continua a destacar os pontos fracos de muitos sistemas. A pontuação média de sustentabilidade caiu 1,2 em 2020 devido ao crescimento econômico negativo experimentado pela maioria das economias devido à COVID-19.
Destaques
A Holanda teve a maior pontuação geral (82,6) e manteve sua posição no topo da classificação, apesar das reformas significativas nas pensões que ocorreram naquele país. A Tailândia apresentou o índice mais baixo (40,8).
Para cada subíndice, as pontuações mais altas foram obtidas pela Holanda em adequação (81,5), Dinamarca em sustentabilidade (82,6) e Finlândia em integridade (93,5). As pontuações mais baixas foram as do México para adequação (36,5), Itália para sustentabilidade (18,8) e Filipinas para integridade (34,8).
Brasil
Este ano o Brasil caiu três posições em relação a 2019, tendo ficado na 26ª colocação, com uma ligeira piora da nota geral, que passou de 55,9 para 54,5.
Para Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer Brasil, a queda no ranking está relacionada à manutenção de uma nota muito baixa no subíndice sustentabilidade. “Nossa avaliação é que, apesar da reforma previdenciária aprovada em 2019 trazer um alivio fiscal no médio e longo prazos, os efeitos ainda demoram a ser sentidos e os reflexos da pandemia podem atrasar um pouco este processo. O quesito sustentabilidade continua a ser a maior deficiência do nosso sistema, ajudando a manter o Brasil no grupo das piores avaliações com nota de (22,3)”.
Sobre o Índice Global de Sistemas Previdenciários da Mercer CFA
Anteriormente conhecido como Melbourne Mercer Global Pension Index, o Índice Global de Sistemas Previdenciários da Mercer e do CFA Institute compara os sistemas de aposentadoria em todo o mundo, sugerindo possíveis áreas de melhoria que proporcionariam benefícios de pensão mais adequados e sustentáveis.
O Índice Global de Sistemas Previdenciários é um projeto de pesquisa colaborativa patrocinado pelo CFA Institute , a associação global de profissionais de investimentos, em colaboração com o Monash Centre for Financial Studies (MCFS) e a Mercer, líder global na redefinição do mundo do trabalho e na reformulação da aposentadoria e dos resultados de investimentos.
Este ano, o Índice Global de Sistemas Previdenciários compara 39 sistemas de aposentadoria em todo o mundo, cobrindo quase dois terços da população mundial. O índice de 2020 inclui dois novos países – Bélgica e Israel.
O ranking usa a média ponderada dos subíndices de adequação, sustentabilidade e integridade para mensurar cada sistema de aposentadoria em relação a mais de 50 indicadores. O índice de 2020 apresenta novas questões relacionadas aos gastos públicos com pensões, investimentos ESG (ambientais, sociais e de governança) e apoio a cuidadores.
Da redação
Fonte e Foto: Mercer e o CFA Institute