Tema central em todos os cenários do ano de 2020, e não apenas na política, a pandemia do novo coronavírus tem sido usada de diferentes formas pelos candidatos à Prefeitura de Manaus.
De acordo com o cientista político Helso do Carmo, é possível ver um alinhamento entre as linhas políticas de cada candidato e o uso do tema. “Aqui em Manaus, temos uma tática de 4-4-3. Quatro candidatos defendendo o presidente Bolsonaro, tímidos, que não desenvolvem um discurso sobre o isolamento e tentam centrar apenas na recuperação econômica. E três que atacam o presidente e usam a situação para mostrar a ineficiência do Estado”.
O especialista também deu destaque ao uso da pandemia nas narrativas de dois candidatos. “Amazonino (Podemos) usa isso pra justificar a ausência dele no debate aberto, o que é pra ele é até interessante. E o Ricardo Nicolau que está crescendo com o discurso ‘daquele que ajudou de fato’ a combater a pandemia, mas não sei até que ponto vai”, explicou Helso.
Nicolau, inclusive, foi acusado diretamente pelo ex-aliado, o prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), de se promover por conta da doença, do Hospital de Campanha e de premeditar seu discurso, com fotos e vídeos feitos no auge da pandemia, dentro da unidade hospitalar, para usá-los, agora, na campanha eleitoral.
Sinal vermelho
Apesar da presença do tema nos discursos, o cientista político também apontou para as limitações não só do tema, mas do titular do Poder Executivo municipal. “O tema gravitou em todos os discursos mas cabe ver até onde é retórica e até onde o prefeito pode sozinho mudar o cenário e combater a pandemia”, observou.
E os números do Covid não ajudam. Com o período oficial de propaganda eleitoral em sua quinta semana, os dados já mostram aumento do número de casos na capital e no interior.
A crescente de casos no Estado vem desde a segunda quinzena do mês de setembro e alcançou média de 5227 casos por semana desde o início do período de propaganda eleitoral, segundo dados da FVS. O valor é 27,83% maior que o comparado das 4 semanas anteriores ao período, onde a média foi de 4089 casos por semana. Na capital a subida no número de casos acontece depois de queda iniciada em junho e estabilização até a primeira quinzena de setembro.
Restrições reais
No último dia 14, em entrevista coletiva concedida após reunião do Comitê de Enfrentamento à Covid-19, o governador Wilson Lima (PSC) informou que manterá restrições baseado no fato de que um levantamento da FVS-AM apontou aumento de casos de Covid-19 em 48% dos municípios entre 27 de setembro e 10 de outubro, com destaque para Parintins, Carauari e Tefé.
Os números estão diretamente relacionados às aglomerações provocadas por eventos eleitorais, como convenções, comícios e passeatas. A Defensoria Pública do Estado (DPE-AM) também emitiu um pedido ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) a respeito da fiscalização do cumprimento das medidas de prevenção à Covid-19 nas campanhas políticas do Amazonas.
Apesar do apontamento para influência do período eleitoral, o decreto nº 42.794 do
governo do Estado foca na suspensão de acesso às áreas de praias para recreação; o funcionamento de balneários e flutuantes e abertura de bares, mesmo que na modalidade restaurante.
O texto também proíbe a realização de eventos em casas noturnas, boates, casas de shows e imóveis destinados à locação para esta finalidade, tais como casas, sítios, chácaras, associações e clubes. Sobre medidas específicas para o período eleitoral, o governador afirmou estar tratando com o TRE-AM.
Em cidades como Macapá, capital do Estado do Amapá, medidas que proíbem todas as atividades políticas que envolvam aglomeração foram suspensas como combate ao aumento de casos do novo coronavírus.
Sharon Marques, para O Poder
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