Uma das quatro candidatas a vice-prefeita de Manaus que concorrem as eleições municipais deste ano, Maria Auxiliadora Oliveira de Castro, do PSTU, defende a estatização dos serviços públicos como a melhor forma de atender verdadeiramente a população.
Assim como Gilberto Vasconcelos, de quem é vice, ela acredita que uma gestão municipal compartilhada com os conselhos populares seria a melhor forma de governar. Inclusive, a proposta está inserida no plano de governo da chapa, enviada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM).
Na entrevista ao Portal O Poder, na série com os candidatos a vice-prefeitos, Auxiliadora fala da importância da presença feminina na política, mas ressalta que a não participação em massa não é porque as mulheres não queiram, mas, simplesmente, por toda a carga machista que elas carregam no cotidiano.
Maria Auxiliadora emitiu, ainda, opinião sobre a gestão do atual prefeito Arthur Neto (PSDB), criticou o governo federal, na figura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sobre medidas que um eventual governo do PSTU em Manaus tomará para ressurgir a capital no pós-Covid.
Leia a entrevista completa:
O PODER – Quais serão as ações e medidas que a senhora planeja colocar em prática para contribuir com a gestão municipal, caso seja eleita com Gilberto Vasconcelos para a Prefeitura de Manaus?
Maria Auxiliadora – Eu e o Gilberto estamos colocando nossa candidatura a serviço da luta dos trabalhadores(as) manauaras. Queremos trazer a nossa classe para governar Manaus junto com a gente, por meio dos conselhos populares. A classe trabalhadora é quem deve decidir os rumos da nossa cidade e definir as prioridades. As decisões não podem vir somente do prefeito e de um grupo de engravatados da Câmara de vereadores que mal conhecem a realidade do povo trabalhador. É através da organização da classe trabalhadora, por meio dos conselhos populares, que podemos avançar em alguns desses problemas. Inclusive, temos que derrotar o governo Bolsonaro e Mourão para impedir a retirada de direitos, impedir a destruição dos serviços públicos, impedir o avanço do desemprego, impedir a entrega das nossas riquezas e dos nossos patrimônios, impedir a destruição da Amazônia, do meio ambiente e impedir o ataque às populações indígenas. Mas para que a gente de fato resolva todo o problema da desigualdade, do desemprego e os outros problemas citados, somente com uma mudança profunda no sistema, somente superando o capitalismo, por meio de uma revolução socialista, podemos criar uma outra forma de sociedade, uma sociedade mais humana, mais fraterna, mais solidária.
O PODER – A participação feminina na política local é muita tímida. Nesta eleição, por exemplo, não tem nenhuma mulher encabeçando chapa majoritária e apenas quatro candidatas a vice-prefeita. Quais ações e medidas planeja por em prática, caso seja eleita, para atrair o eleitorado feminino e trazer o incentivo às mulheres na política?
Maria Auxiliadora – Quando as pessoas falam em incentivar a participação feminina na política passa a impressão de que as mulheres não participam por falta de interesse próprio. Mas não se trata disso. Nós mulheres, trabalhadoras, sabemos da dificuldade que é conciliar o trabalho, com o cuidado dos filhos, com o cuidado da casa, com a militância política e social. Nós temos a dupla e até tripla jornada de trabalho. Então, em uma prefeitura liderada por nós do PSTU, iremos abrir o debate sobre a opressão da mulher e o trabalho doméstico. As mulheres são sobrecarregadas de atribuições e responsabilidades, por isso, na grande maioria das vezes, os homens têm mais tempo ou menos dificuldades de entrar na política. Nós iremos construir e criar creches para que as mães possam ter onde deixar seus filhos em segurança para trabalhar e participar da vida política, vamos criar escolas de tempo integral e criar restaurantes populares. Além disso, vamos lutar junto com os conselhos populares para que, nacionalmente, seja reduzida a jornada de trabalho para todos os trabalhadores, a fim de garantir maior participação da nossa classe e das mulheres trabalhadoras nos organismos de poder e decisão política, que serão os conselhos populares. Além disso, temos abrir o debate nas escolas e nos espaços públicos sobre a importância de dividir as tarefas domésticas e de combater o machismo dentro da nossa sociedade.
O PODER – O que o plano de governo seu e do candidato Gilberto Vasconcelos coloca como prioridade para Manaus em curto, médio e longo prazo?
Maria Auxiliadora – Para superar a crise econômica, social e sanitária agravada pela pandemia e garantir a vida da população, nós do PSTU apresentamos um plano emergencial. Junto com o plano emergencial apresentamos nosso programa de transição para a cidade de Manaus. O documento está disponível em nossas redes sociais e no TRE para quem quiser conhecer mais. Nele, consta a defesa da estatização da saúde para que toda população tenha acesso igual ao atendimento, defendemos a criação de obras públicas municipais para geração de emprego, priorizando a construção de creches, escolas, moradias e postos de saúde. Defendemos que o transporte público seja estatizado e colocado sob controle dos trabalhadores, com tarifa zero. Para a educação, defendemos democracia na escolha dos gestores, que a comunidade escolar (professores/as, estudantes e pais) possa contribuir para a construção do plano político-pedagógico, construção de prédios próprios para as escolas, valorização dos servidores públicos de todas as áreas, plano de cargos, carreiras e salários. Defendemos o combate à especulação imobiliária e que os imóveis atendam ao seu fim social, construção de moradia popular. Resumidamente essas são nossas prioridades.
O PODER – Uma vez no Executivo como vice-prefeita, a senhora tem pretensão de comandar alguma secretaria ou órgão municipal?
Maria Auxiliadora – Tenho interesse em colocar meu mandato a serviço da luta das mulheres e homens trabalhadores, desempregados, explorados e oprimidos da nossa cidade. Quero atuar organizando os conselhos populares nos bairros, para transferir o poder para quem realmente deve decidir os rumos da nossa cidade, que é a classe trabalhadora.
O PODER – A pandemia do novo coronavírus impactou diretamente na economia da cidade e gerou desempregos em diversos setores. Como vice prefeita, que ações e medidas devem ser apresentadas para que esse cenário mude na capital amazonense?
Maria Auxiliadora – No ranking nacional de desemprego, Manaus hoje ocupa o 3º lugar. É extremamente preocupante a situação que estamos vivendo e a tendência é piorar com as privatizações e reformas que estão na pauta dos governos federal, estaduais e municipais. De imediato, propomos elaboração de um plano de obras públicas e a criação de uma empresa pública, controlada pelos trabalhadores, para que seja construído tudo aquilo que a população precisa, como escolas, creches, hospitais, teatros, melhoria na infraestrutura da cidade e etc. Além disso, é preciso reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial para que sejam criados mais postos de trabalho. É preciso mobilizar os trabalhadores e a população para impedir as privatizações e as reformas propostas pelos diversos governos, para que, assim, possamos impedir que a precarização dos serviços públicos aumente e que mais trabalhadores sejam demitidos. É preciso proibir, nesse período de pandemia, que os trabalhadores e trabalhadoras sejam demitidos. Isso é desumano.
O PODER – Qual a sua avaliação da atual gestão municipal que se encerra em 31 de dezembro deste ano e, sobre a atuação do prefeito Arthur Neto na pandemia?
Maria Auxiliadora – Arthur, como os seus antecessores, governou para uma pequena parcela da população manauara: os ricos! Não houve melhoria em nenhuma esfera da vida da população pobre; o transporte público só piorou, a violência só aumentou, desemprego e a informalidade aumentaram, todos viram o caos que está a saúde. Inclusive, Arthur tentou se diferenciar do governador Wilson Lima, mas pouquíssima coisa fez para garantir melhores condições para os trabalhadores e melhorar a estrutura dos hospitais. Como Gilberto falou em uma entrevista “na Ponta Negra tem parada de ônibus que custou mais de R$ 100 mil, enquanto na maioria dos bairros de Manaus sequer tem cobertura e a população tem que enfrentar o sol e a chuva”. A pandemia só escancarou uma realidade que vivemos e que é camuflada: quem tem dinheiro, têm acesso a tudo do bom e do melhor, enquanto quem não tem dinheiro, não tem direito a nada, nem ao mais básico, como um teto sobre sua cabeça e algo para comer.
Ana Flávia Oliveira, para O Poder
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