novembro 23, 2024 12:41

ONU alerta que guerra no Iêmen pode provocar fome histórica na população

Uma guerra esquecida está prestes a provocar uma catástrofe alimentar, no Iêmen, se a comunidade internacional não agir com urgência. “O Iêmen está agora em perigo iminente da pior fome que o mundo viu em décadas. Na ausência de ação imediata, milhões de vidas podem ser perdidas”, advertiu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

De acordo com ele, o país enfrenta uma redução drástica no financiamento para a operação de ajuda coordenada, em comparação com os dois últimos anos. Guterres também citou a instabilidade do rial — a moeda iemenita —, além de obstáculos impostos pelos poderosos e pelos rebeldes hutis ao trabalho das agências humanitárias.

A situação é agravada pela praga de gafanhotos e pelas enchentes. Desde setembro de 2014, o Iêmen é palco de uma sangrenta guerra civil travada por insurgentes separatistas huthis, apoiados pelo Irã, e as forças do presidente Abd Rabo Mansur Hadi, que contam com o apoio de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.

“Eu exorto todos aqueles com influência a agirem com urgência sobre essas questões para evitar a catástrofe”, disse Guterres. “Também peço a todos que evitem tomarem qualquer ação que possa piorar a situação há terrível”, acrescentou. O secretário-geral da ONU advertiu que existe o risco de uma tragédia que implicaria não somente as mortes, mas também “consequências que vão reverberar indefinidamente no futuro”.

Em conversa com jornalistas, Guterres defendeu o multilateralismo como forma de resolver “uma situação muito frágil”. “Acreditamos que toda iniciativa unilateral não seria provavelmente positiva. Não acredito que seja necessário fazer esse barco virar”, explicou o presidente.

As estatísticas atestam uma tragédia no Iêmen: 80% da população, ou 24 milhões de pessoas, precisam de ajuda humanitária urgente e 10 milhões passam fome. Ao fim de 2019, a guerra tinha matado 230 mil iemenitas, incluindo 7.500 crianças. Pelo menos 3,6 milhões de cidadãos foram expulsos de suas casas, 155 mil no primeiro semestre de 2020.

A guerra roubou tudo do meu país… As crianças e seu futuro estão em risco, com mais de 100 escolas destruídas”, lamentou ao Correio o designer gráfico e repórter freelancer Ahmed Abdhullah Jahaf, 30 anos, morador de Sanaa. “A principal razão para a fome é o bloqueio imposto pela coalizão saudita, com o apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido. A crise humanitária, o cólera, o coronavírus, o alto índice de desemprego, os altos preços dos produtos e a escassez de medicamentos tornam o quadro ainda mais grave. Imagine você viver em um local sem nenhum serviço. A eletricidade está com problemas desde 2015, e as pessoas usam energia solar, que é muito cara.”

Diretora-executiva da Organização Entesaf pelos Direitos das Mulheres e das Crianças do Iêmen, Noah Jahaf, 36, disse à reportagem que o país vive “uma situação humanitária horrível”. “Por quase seis anos, o Iêmen foi sitiado. Há muitos civis mortos pelos aviões de guerra da coalizão e pelo cerco”, comentou. “Esse bloqueio levou a danos e à deterioração da economia. Muitos projetos pararam, assim como negócios. Isso tudo inflacionou os preços das mercadorias, o que provocou um desastre real para os cidadãos.” De acordo com ela, apesar de chegar a Sanaa, a ajuda internacional é insuficiente para aliviar o sofrimento das pessoas.

Conteúdo: Correio Braziliense 

Foto: AFP / Khaled Ziad

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