O vereador de Iracema Gabriel Queiroz (PL), afastado do cargo em maio deste ano por suposta quebra de decoro, afirmou a O Poder que os recursos desviados da Saúde e Educação do município chegam perto dos R$ 5 milhões, valor muito acima do R$ 1,6 milhão apontado pela Operação Hermano, deflagrada em fevereiro deste ano pela Polícia Federal.
A suposta corrupção foi um dos motivos para o o vereador tentar instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a fim de investigar as contas da prefeitura durante a gestão de Jairo Ribeiro (MDB), reeleito em 2020.
De acordo com Queiroz, o desvio de recursos ocorreu durante quase todo o primeiro mandato de Ribeiro. O vereador afirma que o prefeito só se manifestou sobre o caso após saber que seu ex-vice, Carlos Henrique, descobriu as falcatruas e ameaçou denunciar o caso à polícia e ao Ministério Público.
“A população quer respostas. Como ele [o prefeito] não sabia? O roubo aconteceu durante três anos. Jairo fez uma sindicância para apurar o desvio de apenas R$ 1,6 milhão. Tudo isso para tentar ludibriar a imprensa e fazer com que a Justiça acreditasse que ele não está envolvido”, destacou.
‘Investigação séria’
Gabriel Queiroz foi afastado do cargo por 90 dias por quebra de decoro, como alegam os colegas parlamentares. Ele diz que a decisão dos vereadores, que abriram uma Comissão Processante para apurar o caso, foi uma forma de represália pelo fato de insistir na instalação da CPI.
“A quebra de decoro se dá pelo abuso das prerrogativas do parlamentar. Não acredito que a proposta de abertura de uma CPI estaria enquadrada nesse aspecto. Nesse sentido, foi por mim questionada a conduta dos vereadores por não quererem investigar o desvio de dinheiro público quando o próprio chefe do Executivo [Jairo Ribeiro] confirma [que houve desvio]. Somente por meio de uma investigação séria, via CPI, que se pode constatar quem poderia estar envolvido”, avalia o vereador.
Queiroz reforça que o contribuinte quer saber onde está sendo aplicado o dinheiro recolhido de taxas e impostos, como também os recursos federais que chegam ao município.
“É uma conta simples entre origem e aplicação. É uma questão de transparência que todo cidadão deseja e merece ter”, afirma, acrescentando que está recebendo apoio da população após ser afastado da Câmara.
Desvios
O vereador diz ter todos os extratos da prefeitura, que transferiu durante três anos valores “partilhados”. Segundo ele, foram parcelas de R$ 50 mil e R$ 100 mil transferidos para a empresa Sideral, “que nunca prestou serviços para a prefeitura”.
“Não participou de licitação nem teve contrato emergencial. O ex-vice-prefeito denunciou, um ex-vereador levou o caso à Polícia Civil e uma ex-vereadora ao Ministério Público e à Polícia Federal e, até então, está tendo investigação. Coloquei em pauta na Câmara para apurarmos”, aponta Queiroz.
De acordo com Gabriel Queiroz, nenhum vereador quis a instalação da CPI. Eles afirmaram que não há provas suficientes. “Mas como não há, se o próprio prefeito disse que teve roubo? Eu tenho os extratos, eles têm acesso às contas da prefeitura também. Eles prevaricaram. Na outra sessão, já me afastaram sem nem mesmo me notificar. Foi totalmente ilegal”.
‘Estranheza’
A reportagem tentou contato com o ex-vice-prefeito Carlos Henrique, mas não obteve êxito. Uma fonte ligada a ele informou a O Poder que as denúncias feitas pelo vereador Gabriel Queiroz são verdadeiras.
“Causa estranheza, pois essas denúncias foram feitas bem antes, em junho de 2019 e, posteriormente, confirmadas por alguns vereadores, que as levaram ao Ministério Púbico Federal [MPF]”, destaca.
Ainda conforme a fonte, o prefeito realmente protocolou um processo de sindicância em que acusa o próprio irmão, que era secretário de Finanças, de ter desviado R$ 1,6 milhão. Logo após uma suposta apuração, contratos foram cancelados e ele foi exonerado da secretaria.
A reportagem apurou ainda que foram desviados quase R$ 4,8 milhões dos cofres públicos.
“A empresa [Sideral] cadastrou CNPJ na prefeitura para fazer os desvios. O prefeito fazia as remessas. Todos os dias, retirava uma parte dos recursos, de emendas, por exemplo, e mandava para a empresa, que nunca prestou serviços para a prefeitura nem emitiu nota de nada. O dono pegava seu percentual e o restante ia para o prefeito”, destaca a fonte ligada ao ex-vice-prefeito.
Citados
A reportagem tentou contato com a empresa Sideral e com o prefeito de Iracema, Jairo Ribeiro, mas as ligações não foram atendidas. O espaço segue aberto para eventual manifestação dos citados.
Érico Veríssimo, para O Poder
Foto: Divulgação/Câmara de Iracema