Após pressão da população, o vereador David Reis recuou e pedirá revogação da Lei nº 2.767/2021, de sua autoria e sancionada pelo prefeito David Almeida (Avante) no último dia 23. A lei mudou o nome de um “espaço público”, segundo o que está escrito na proposta, para “Praça Oscarino Peteleco”, artista amazonense falecido em 2018.
No entanto, o local chamava-se Nestor Nascimento, nome importante dentro do movimento negro em Manaus. Ele foi o fundador do movimento Alma Negra e é considerado um dos maiores líderes negros do Amazonas.
O Projeto de Lei nº 354/2021, que deu origem à lei municipal, sequer mencionava a figura histórica e tramitou sem consulta aos moradores da Praça 14, bairro onde está situada o logradouro público. Na nota enviada à imprensa, David Reis admite que não conhecia Nestor Nascimento, que não houve intenção de apagar a história e reconhece a luta do ativista.
“Ao tempo em que abre caminho para atender à vontade popular, o presidente David Reis, esclarece que não houve, da parte dele, a intenção de apagar ou macular a memória e a honra de Nestor Nascimento, reconhecidamente, o maior líder negro da história do Amazonas. Além de idealizador e fundador do Movimento Alma Negra do Amazonas (Moam), a primeira organização voltada às causas negras no Estado, Nestor Nascimento esteve à frente, desde os primórdios, da luta em defesa do reconhecimento oficial do Quilombo Urbano do Barranco de São Benedito, segundo quilombo urbano certificado do país, no ano de 2014”, diz trecho da nota.
David Reis culpou a “inexistência de registros oficiais sobre a denominação do local” para a “gafe”. O parlamentar explicou que, assim que o rito de revogação for concluído, irá apresentar na Câmara Municipal de Manaus (CMM) um novo projeto de lei para “corrigir a situação”.
Pedido de desculpas
O primeiro pedido de desculpas à comunidade quilombola, familiares de Nestor Nascimento e aos moradores da Praça 14, não partiu de David Reis, mas de seu pai, o secretário municipal de Limpeza Pública, Sabá Reis, que esteve no local nesta quarta-feira, 28, e atribuiu a culpa do “equívoco” a si próprio e não ao filho.
O secretário também prometeu uma placa para o local, que será inaugurado na próxima semana.
Reações
Ativistas manauaras reclamaram em redes sociais sobre a mudança e atribuíram ao episódio uma tentativa de apagar a história de Nestor Nascimento. O presidente do Instituto Nacional Afro Origem (Inaô), Christian Rocha, foi até a CMM nessa terça-feira, 27, conversar com os vereadores sobre a decisão da mudança de nome.
“A história do Nestor e a luta pelo povo negro é gigantesca e merece respeito. É um compromisso com a memória e ancestralidade do nosso povo, que não podem ser apagadas porque um vereador e um prefeito desconhecem o nome de Nestor. Resistiremos e revidaremos”, escreveu uma internauta em rede social.
Trajetória
Nestor Nascimento é considerado um dos maiores líderes do movimento negro no Amazonas. É responsável pela fundação do movimento Alma Negra e da Associação dos Moradores e Amigos do bairro Praça 14, era sócio fundador da escola de samba Vitória-Régia, chegou a presidir o Instituto de Direitos Civis (IDC) e foi procurador-chefe da Câmara Municipal de Manaus, além de outros cargos públicos. Sua atuação na defesa dos direitos humanos o levou ao Estados Unidos, em 1997, a convite do presidente à época, Bill Clinton. Ele morreu aos 56 anos, em 2003.
Priscila Rosas, para O Poder
Foto: Divulgação
Edição e Revisão: Alyne Araújo e Henderson Martins