O governador Wilson Lima (União Brasil) deu um “capote” – termo usado no dominó quando se vence o adversário sem deixá-lo fazer ponto -, tirou, momentaneamente, o ex-governador Amazonino Mendes (sem partido) da corrida eleitoral e deixou o senador Eduardo Braga (MDB) isolado.
De Brasília, Wilson Lima movimentou o tabuleiro político no Amazonas ao vencer a primeira disputa contra Amazonino e garantir a filiação ao União Brasil. Vale lembrar que o ex-governador já linha um alinhamento como ACM Neto para disputar eleição no Estado pela legenda.
Ainda na capital do Brasil, Lima conseguiu mudar um decreto do Governo Federal que prejudicaria a Zona Franca de Manaus. Bolsonaro prometeu ao governador do Amazonas uma nova publicação do decreto inicial, que previa redução em 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Mas, essa não foi a única tratativa entre Wilson e Bolsonaro. Na conversa, o governador do Amazonas garantiu o apoio para reeleição dos partidos, Progressistas, Partido Liberal e União Brasil.
Amazonino ‘corre da sala pra cozinha’
Após Lima garantir uma conjuntura política com robustez para disputar o pleito deste ano, o ex-governador Amazonino Mendes ficou, além de muito furioso, bastante enfraquecido. Sem o União Brasil, Amazonino pode ser obrigado a cometer os mesmos erros de Alfredo Nascimento (PL) nas eleições municipais de 2020, e “unir forças” com o ex-prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB).
Nesse casamento com o “ninho tucano”, Mendes fica acoplado com os casos de escândalos envolvendo Arthur Neto e a ex-primeira-dama do município, Elisabeth Valeiko. Betinha é investigada pelo Ministério Público do Amazonas (MPAM) por suspeita de crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro relacionados à época em que presidia o Fundo Manaus Solidária.
O órgão ministerial aponta que, em 2017, no comando do fundo, Betinha comprou veículo avaliado em cerca de R$ 176 mil e um apartamento de valor estimado em R$ 218 mil. No ano passado, Elisabeth teve seus sigilos fiscal e bancário quebrados.
Além do escândalo envolvendo a esposa de Arthur, Amazonino poderá enfrentar, de quebra, as investigações envolvendo o filho da ex-primeira-dama, Alejandro Valeiko, que é investigado de participar do homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues, ocorrido em 2019.
Nova ‘tapetada’
Vale lembrar que existe um movimento interno do PSDB que pode tirar, mais uma vez, os sonhos de Amazonino de disputar o pleito. Iniciado em Brasília, cresce o movimento para que o senador Plínio Valério dispute a eleição pelo ninho tucano.
Empresários
O ex-governador Amazonino Mendes vem reunindo com vários grupos empresariais, mas, segundo informações, o retorno de apoio ao movimento de disputa do pleito ainda é incerto, o que leva a crer a ausência de apoio de empresários ao ex-governador.
Isolamento de Braga
Outro pretenso candidato atingindo pelo “capote” do governador Wilson Lima é o senador Eduardo Braga. O emedebista esperava uma federação do União Brasil com o MDB, o que deixou o senador bastante animado, mas, após muita conversa, os partidos resolveram não unir forças.
Além de perder a chance de ter em seus “laços” o União Brasil, o partido do senador vem sendo esvaziado, com vários nomes de peso saindo, a legenda deve disputar a eleição com candidatos sem destaques.
O MDB já perdeu nomes de peso na política amazonense, como o ex-vereador Gedeão Amorim, que migrou para o Avante do prefeito David Almeida, e deve ficar sem os deputados Fausto Júnior e Alessandra Campêlo. Ambos devem ir para o PL e PSC, respectivamente, para o reforço dessas siglas.
O secretário estadual do MDB, Miguel Capobiango, confirmou a saída dos nomes e ressaltou que outros devem filiar na legenda, tais como os ex-deputados Francisco Souza, Nelson Azedo e Edilson Gurgel já se filiaram ao partido. Nomes esses que estão afastados dos holofotes já faz um tempo.
No interior
Até o momento, apenas os prefeitos de Carauari, Bruno Ramalho (MDB), Itamarati, João Campelo (MDB), Urucará, Enrico Falabella (MDB) e Manaquiri, Jair Souto (MDB), estariam fechados com Braga. Porém, não há grande densidade eleitoral nestes municípios.
Reviravolta de Wilson Lima
A reviravolta de Wilson Lima no tabuleiro político movimentou o cenário no início da semana, mas, a articulação do governador já vinha sendo feita, tanto, que o chefe do Executivo fechou o ano de 2021 com diminuição nos índices de rejeição em mais da metade do que apontavam pesquisas feitas no Amazonas.
Vale lembrar que o governador está em conversas com um núcleo empresarial de apoio à reeleição de Lima. O apoio ficou definido após o governador conseguir, junto ao Governo Federal, a retirada do decreto que prejudicava a ZFM.
Maioria
Além de apoio empresarial, Wilson Lima garante a maioria de prefeitos e ex-prefeitos do interior. Recentemente, ele conseguiu alinhar com a família Pinheiro, após uma conversa na sede do Governo do Amazonas com lideranças políticas, prefeitos e ex-prefeitos.
Wilson Lima conta, ainda, com apoio de 20 dos 24 deputados da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).
Manaus
Em Manaus, Wilson Lima está com excelente relacionamento com David Almeida (Avante), prefeito de Manaus, que é quem deve indicar o vice de Lima para a reeleição. Com o apoio de Almeida, Wilson ganha ainda mais fôlego e estrutura para disputar o pleito. Nos bastidores, a informação é que o governador deu “carta branca” para que David escolha o nome para vice.
Caminho natural
Sem deixar o sonho de um dia ser governador do Estado, especialistas afirmam que é natural o apoio e indicação de vice por parte de David Almeida, que vem representando dados positivos de gestão e aceitação por parte do eleitorado na capital.
Henderson Martins, para O Poder
Foto: Divulgação