novembro 21, 2024 23:41

Venda da Eletrobras não garante conta de luz mais barata, dizem analistas

A privatização da Eletrobras, uma das principais bandeiras defendidas pelo ministro Paulo Guedes, pode até ajudar a empresa a retomar sua capacidade de investimento a longo prazo, mas não deve ter nenhum efeito prático sobre as contas de luz, segundo especialistas ouvidos pelo UOL. A avaliação contraria as estimativas do Ministério de Minas e Energia, que prevê redução já neste ano na tarifa paga pelos consumidores.

A venda da Eletrobras recebeu aval do Congresso Nacional há um ano, em junho de 2021. Em 18 de maio, o processo foi aprovado pelo plenário do TCU (Tribunal de Contas da União) por 7 votos a 1. O único ministro contrário foi Vital do Rêgo, que ainda em abril havia demonstrado preocupação com um possível aumento nas contas de luz com a privatização.

A avaliação do ministro é semelhante à feita por Celio Bermann, professor associado do IEE-USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo).

“O argumento mais fácil para poder, digamos, atingir os incautos é justamente dizer que vai baixar a tarifa de energia elétrica. É uma retórica que aparece sempre. Mas, desculpe-me quem acredita na fantasia de que as tarifas serão reduzidas. Isso é desprovido de qualquer base. As tarifas vão ficar mais caras, e o serviço prestado vai ser mais precário”, diz ao UOL.

“Isso não tem qualquer lógica. O que levaria à redução das contas? A Eletrobras nem define as tarifas de energia. Quem cobra a energia elétrica da população são as empresas de distribuição locais, e a maioria já são privadas”, acrescenta o professor Ewaldo Mehl, do Departamento de Engenharia Elétrica da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

“Objetivo não é redução”

Ainda que o Ministério de Minas e Energia mantenha a previsão de redução nas contas de luz, o objetivo principal da privatização da Eletrobras não é esse, segundo explica Edmar Almeida, do Instituto de Energia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Rio. Para o professor, a ideia é possibilitar à estatal a retomada de investimentos no setor elétrico, mas os custos ao consumidor ainda dependerão do mercado.

“A privatização não tem como objetivo principal a redução de tarifas. Ela tem o objetivo de mudar a governança da Eletrobras e retomar sua capacidade de investimento. Esse é o objetivo de longo prazo. O preço vai depender do mercado. Espera-se que esse mercado, com maior concorrência, gere preços mais baixos. Mas não é algo que o governo possa garantir”, afirma.

“Essa associação da privatização à redução de tarifas não é um argumento correto. Quando você privatiza o setor de energia, você está querendo introduzir competição. A ideia que está por trás é a de que você vai ter mais competição e, através da competição, vai promover a redução de tarifas. Mas é um processo de longo prazo”, disse Edmar Almeida, da PUC-Rio

Medidas mais eficazes

Tanto Celio Bermann, do IEE-USP, quanto Edmar Almeida, da PUC-Rio, defendem a revisão dos encargos e impostos que incidem sobre a tarifa de energia como uma medida mais eficaz para reduzir as contas de luz. Hoje, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), só o peso dos subsídios responde por mais de 16% do valor pago pelos consumidores.

“Essa associação da privatização à redução de tarifas não é um argumento correto. Quando você privatiza o setor de energia, você está querendo introduzir competição. A ideia que está por trás é a de que você vai ter mais competição e, através da competição, vai promover a redução de tarifas. Mas é um processo de longo prazo”, Edmar Almeida, da PUC-Rio

 

Conteúdo UOL 

Foto: divulgação 

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