Um dos nomes cotados para chefiar o Ministério da Economia no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) disse hoje, a uma plateia formada por banqueiros, que o presidente eleito terá a reforma tributária como uma de suas prioridades e não tomará decisões sem dialogar com os demais Poderes e diferentes setores da sociedade.
A fala de Haddad ocorreu em São Paulo, no almoço anual de dirigentes de bancos, organizado pela Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), que reuniu os CEOs das principais instituições financeiras do país, representantes dos comitês executivos dos bancos e autoridades. Ele foi ao evento representando o presidente eleito, que se recupera de um procedimento médico.
“A determinação clara do presidente Lula é que nós possamos dar logo no início do próximo governo uma prioridade total à reforma tributária”, disse.
“Me parece que o presidente Lula vai dar uma prioridade no ano que vem à aprovação dessa primeira etapa da reforma tributária, que diz respeito a alguns tributos, mas na sequência pretende encaminhar uma proposta de reformulação dos impostos sobre renda e patrimônio para completar o ciclo de reforma dos tributos no Brasil”, continuou.
Haddad falou por cerca de meia hora, depois do discurso do presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto.
Em nome de Lula
Logo no início de seu discurso, Haddad deixou claro que falava em nome do presidente eleito. “Fui convidado pelo presidente da Febraban para participar. Declinei do convite na terça-feira, mas ontem recebi um pedido do presidente Lula para representá-lo neste evento. Estarei falando em nome dele, e não em meu próprio nome”, disse.
A participação dele no evento foi vista como uma espécie de “teste” de seu nome para comandar a Economia — o PT quer formar uma dobradinha entre Haddad e o economista Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real e membro da equipe de transição do governo petista. Neste arranjo, o economista ocuparia a secretaria-executiva da pasta ou o Ministério do Planejamento.
O mercado financeiro, no entanto, tem reagido mal a qualquer indicação de que Haddad será nomeado ao cargo, já que —aos olhos de investidores— é inclinado a flexibilizações das regras fiscais do país e tem pouca experiência técnica.
Conforme mostrou a colunista do UOL Thaís Oyama, desde a campanha, Lula tem dito que quer colocar na Economia um político com habilidade e suficiente trânsito no Congresso para conduzir uma agenda complexa que priorize o social mantendo a responsabilidade fiscal. Correligionários de Haddad, porém, não enxergam no ex-prefeito paulistano alguém com esse perfil e afirmam que ele não tem jogo de cintura.
Lula tem sido cobrado para anunciar o nome que chefiará sua equipe econômica. Escalado para ajudar na negociação da PEC da Transição, o senador Jaques Wagner (PT-BA) disse que a indicação de um ministro facilitaria as conversas em curso no Congresso.
Haddad será ministro?
A jornalistas, após o almoço, Haddad negou que tenha sido convidado para ser ministro. “Quanto mais liberdade nós todos dermos ao presidente para ele compor sua equipe, melhor. Não cabe a nenhum de nós, colaboradores, nos insinuarmos, nos colocarmos, a gente se coloca à disposição do país. Quem compõe ministério é o presidente Lula”, disse.
Virada de página
Ao longo de seu discurso, Haddad disse ainda que o país precisa virar a página da guerra que se estabeleceu entre Presidência e demais poderes e que as divergências devem ser sanadas com diálogo.
“Nós temos três esferas de poder e temos que saber conviver com elas. Não é cooptando, não é constrangendo que nós vamos conseguir os resultados que a gestão de recursos públicos exige de cada um de nós. Precisamos refazer o pacto federativo”, afirmou.
Reconfiguração do Orçamento
O ex-ministro da Educação disse ainda que o orçamento público deve ser reconfigurado para dar mais consistência e transparência aos gastos públicos, com a colaboração do Congresso.
Na avaliação do petista, “qualquer pessoa minimamente versada em distribuição de renda” dirá que é preciso repensar diversos gastos no país. “Temos tarefa enorme de reconfigurar o Orçamento e dar a ele mais transparência”, destacou, citando as áreas de Ciência e Tecnologia e Cultura.
Para Haddad, há “alguma coisa de muito errada que está acontecendo com desenho e execução do Auxílio Brasil”. “O Bolsa Família acabou com a fome nesse país com transferência de renda da ordem de menos de 0,5% do PIB”, disse. “Hoje tem programa de mais de 1,5% do PIB que não resolveu o problema.”
Pedido por previsibilidade
Primeiro a discursar, o presidente da Febraban, Isaac Sydney, afirmou que “o Brasil precisa voltar a ter previsibilidade” e que o setor bancário contribuirá com a governabilidade.
“Independentemente do governo que sai e do novo que chegará, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável”, disse Sidney.
“A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes. Vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do País”, complementou.
PEC da Transição
Haddad disse que o desfecho da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição será “dialogado”. A minuta apresentada pela equipe de transição prevê uma autorização para que o governo gaste até R$ 198 bilhões fora do teto no ano que vem.
“Essa questão vai se resolver, ela tem de se resolver, ela vai ter um desfecho. O que eu vim dizer aqui é que esse desfecho vai ser dialogado com toda a sociedade”, disse Haddad a jornalistas, depois do almoço.
Da Redação com informações de UOL
Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress