A grave seca que atinge o Estado e o rio Amazonas já começa a impactar o transporte de cargas por hidrovia no Estado e poderá afetar o escoamento da Zona Franca de Manaus, segundo empresas de logística que atuam na região.
Hoje, o tráfego no rio Amazonas já está com restrições na região da foz do rio Madeira: os navios regulares, com 11,5 metros de calado, já não conseguem navegar com capacidade total, e o tráfego noturno foi bloqueado. Há risco de que, dentro de uma ou duas semanas, as embarcações não consigam mais passar pelos trechos críticos do rio – além da enseada do Madeira, próxima a Itacoatiara, há um outro ponto problemático na área do Tabocal.
“A água está descendo de nível em ritmo muito rápido. No ano passado, a vazão era de 15 centímetros, enquanto neste ano está baixando o dobro, cerca de 31 centímetros por dia. Em 2022, em que a seca não foi tão grave, a perda de capacidade foi de 40%, e agora pode chegar a 60%”, afirma Luis Resano, diretor-executivo da Abac (Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem).
A associação, que reúne empresas de navegação, estima que a profundidade do rio pode ficar abaixo dos 8 metros – nível alcançado durante a seca de 2010, a última grande estiagem na região.
Mesmo com a busca de alternativas – como a vinda de navios menores ou o uso de rotas rodofluviais (com caminhões e balsas) -, o resultado da crise deverá ser a redução drástica na capacidade de transporte e o aumento expressivo de custos, avaliam empresas de logística e a indústria.
“Já estamos vendo um custo maior. Há duas semanas, as empresas de navegação passaram a cobrar ‘taxas de seca’, que começaram em R$ 3 mil por contêiner e já chegam a R$ 10 mil. E, há uma semana, já não aceitam mais reservas até meados de outubro, prevendo restrição de navegação”, diz Márcio Salmi, diretor-executivo da Costa Brasil, empresa de logística que trabalha com cabotagem, transporte rodoviário e aéreo.
A companhia tem buscado reforçar a alternativa rodofluvial, que combina caminhões e balsas, que consegue trafegar com calado menor. Porém, trata-se de uma saída 50% mais cara e com capacidade menor. “É inviável pensar que o caminhão vai suprir a demanda.”
Na avaliação das empresas de logística, a situação poderá afetar o abastecimento de todo tipo de carga conteinerizada na região e prejudicar o escoamento da Zona Franca de Manaus para o resto do país – justamente em um momento de pico de demanda, em que o comércio abastece o estoque para as vendas de fim de ano, que incluem Black Friday e Natal.
As rotas de cabotagem partem de Manaus, percorrem o rio Amazonas até a costa e levam a carga até portos como Pecém (CE), Suape (PE), Salvador, Rio de Janeiro Santos (SP) e Itapoá (SC). Segundo a Abac, no segundo trimestre deste ano, foram embarcados em Manaus, pela via fluvial, 50,62 mil
“Hoje, não temos uma situação de colapso, o fluxo não vai ser cortado, mas estamos atentos. Os navios já estão vindo com menos carga, o que vai impactar o transporte dos insumos.”
Para o engenheiro de transportes Augusto Rocha, diretor-adjunto da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), o principal efeito da crise será o aumento do custo logístico, mas o escoamento da Zona Franca não será prejudicado. Segundo ele, as companhias já previam o cenário e vinham se preparando.
“A situação de seca neste ano está mais grave, mas é algo sazonal, as empresas se preparam, fazem estoques. O que vai acontecer é a alta de custos. Além do custo Brasil, temos aqui o custo Amazônia, que é o sobrepreço que se paga pela histórica falta de investimentos na região”, diz.
Como solução de curto prazo, as empresas de navegação pedem ao governo a declaração de emergência hídrica, para que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) possa contratar dragagem emergencial.
Já Rocha defende a necessidade de mais estudos e de monitoramento constante antes da dragagem. “Se houvesse monitoramento diário, ou a cada semana, mostrando a profundidade, seria possível buscar alternativas a partir de informações mais claras.”
Para o longo prazo, a avaliação geral é que são necessários investimentos na infraestrutura hidroviária da região. “O que temos hoje são rios navegáveis, não hidrovias. Para que sejam efetivamente hidrovias seria preciso ter controle, sinalização, estrutura de segurança, o que não temos aqui”, afirma Do Gregorio, da Super Terminais.
Rocha também destaca a importância de se entender as causas do aumento de sedimentos vindos do rio Madeira. “É por conta das hidrelétricas? Do garimpo ilegal? Ou é algo natural? É preciso entender para solucionar as causas.”
Da Redação com informações da Abralog
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