Presidente em exercício, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) voltou a defender o empreendimento que pretende explorar potássio em uma região preservada da Amazônia e indicou apoio à pavimentação da BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho.
As posições de Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, foram expressas em Manaus, nesta sexta-feira, 1º, após participar de reunião do conselho de administração da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus).
Os dois empreendimentos –um privado, para exploração de potássio, e outro público, de pavimentação de uma rodovia– são sensíveis para a região amazônica e contam com objeções dentro do próprio governo Lula (PT).
Tanto o potássio quanto a rodovia contam com forte lobby de empresários e de políticos do Amazonas. O governador do estado, Wilson Lima (União Brasil), acompanhou o vice-presidente na agenda na Suframa e defendeu os dois projetos.
“Sobre o potássio, acredito, sim, que a gente possa ter um bom avanço”, disse Alckmin. “Potássio é mina, eu não escolho, é natureza. É fundamental para a produção de alimentos. Existe tecnologia para que isso seja feito com sustentabilidade. Estou confiante que teremos uma boa solução, que vai gerar riqueza e trazer segurança alimentar.”
O potássio é base para fertilizantes utilizados na agricultura em larga escala. A Potássio do Brasil, subsidiária do banco canadense Forbes & Manhattan, tenta explorar minas na região de Autazes (AM), em área reivindicada pelo povo mura.
Sobre a BR-319, Alckmin afirmou que um grupo de trabalho foi criado pelo Ministério dos Transportes, numa tentativa de conciliar pavimentação e sustentabilidade, segundo o presidente em exercício.
Ele fez uma comparação com rodovias em São Paulo que cortam pedaços de mata atlântica, e disse que o bioma é um dos mais preservados do país. A mata atlântica está entre os biomas mais desmatados no Brasil.
“Não sou especialista na área, mas se pegar a mata atlântica, em São Paulo, é das mais preservadas do país, e tem rodovia ligando Taubaté a Ubatuba, São José dos Campos até o litoral. Tem rodovia, e é impressionante a preservação do bioma, da mata atlântica”, disse Alckmin, que afirmou existir tecnologia para os “cuidados ambientais”.
Documentos da licença da pavimentação da BR-319 no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) mostram risco de mais desmate e grilagem com a obra.
A expectativa pela restauração do trecho do meio, com 405 km, já alimenta desmatamento no curso da rodovia, segundo especialistas que monitoram a região, uma das mais preservadas da amazônia.
Uma vistoria feita pelo Ibama constatou o avanço de devastação, queimadas e ocupação de terras públicas ao longo da BR-319, com o arco de desmatamento rumo às porções central e norte do Amazonas, duas das mais preservadas da amazônia.
O desmatamento tem ritmo crescente antes mesmo de obras de restauração da rodovia, que liga Manaus a Porto Velho.
A vistoria ao longo dos 877 km da rodovia foi feita entre 18 e 23 de setembro de 2023. O relatório foi concluído em 31 de outubro.
O documento aponta a existência de 225 áreas degradadas na BR-319. Essas áreas precisam ser recuperadas com urgência e parte delas oferece riscos à própria plataforma da rodovia, segundo o Ibama.
A seca histórica na amazônia em 2023 fez aumentar o lobby político pela BR-319. Foi nesse contexto que o governoLula criou um grupo para tentar acelerar o processo de licenciamento.
O vice-presidente prometeu antecipação da dragagem em rios da região, procedimento adotado durante a seca em 2023 como forma de facilitar a navegação.
No caso da exploração de potássio, decisão da Justiça Federal obrigava a interrupção do licenciamento pelo órgão ambiental vinculado ao governo do Amazonas. O Ibama, porém, rejeitou por diversas vezes ter competência para o licenciamento. Na segunda instância, a Justiça derrubou a decisão.
O presidente da Potássio do Brasil, Adriano Espeschit, prometeu a indígenas muras a compra e entrega de 5.000 hectares de terras em caso de posição favorável em assembleia ao empreendimento de exploração de potássio na região, entre os rios Madeira e Amazonas.
A oferta foi seguida de falas de Espeschit contrárias à demarcação do território, apesar do início de procedimentos formais para a delimitação por parte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), que constituiu um grupo técnico em agosto.
O presidente da Potássio do Brasil disse ainda aos muras, na conversa gravada, que o território só poderia virar terra indígena ao fim da retirada do minério, num prazo de 23 a 34 anos. Em nota, a empresa afirma que os benefícios aos muras são públicos.
Da Redação com informações da Folha de São Paulo
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