abril 29, 2024 16:17

Nos bastidores, Lula já se movimenta na disputa pelo comando do Senado

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No início do ano passado, o governo se empenhou até onde pôde para reeleger Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Congresso. O senador não era considerado o candidato ideal, mas era o que havia de mais confiável para garantir que o Lula precisava na largada do seu terceiro mandato: estabilidade política. E assim foi. As pautas prioritárias avançaram, os instrumentos legislativos que costumam ser usados pelos adversários para atingir ou desgastar o Planalto não prosperam e, mesmo com um tamanho considerável, a bancada de oposição alcançou pouquíssimas vitórias. Em contrapartida, o PSD foi premiado com o comando de três ministérios – Minas e Energia, Agricultura e Pesca. O mandato de Pacheco termina em fevereiro do ano que vem. Oficialmente, o Executivo garante que não pretende interferir na eleição do futuro chefe do Legislativo, o que, em tese, pressupõe que o governo não vai lançar candidato próprio nem apoiar ostensivamente nenhuma candidatura. Em tese.

A campanha pela sucessão de Rodrigo Pacheco começou desde que ele se reelegeu, no início do ano passado, se intensificou nos últimos meses e já reúne vários possíveis pré-candidatos, tendo como os principais, até agora, Davi Alcolumbre, que conta com o apoio de boa parte dos colegas, Rogério Marinho (PL-RN), que deve representar a oposição, e Soraya Thronicke (Podemos-MS), que se apresenta como uma espécie de terceira via. Ex-apoiadora de Jair Bolsonaro, a senadora rompeu com o ex-presidente durante a pandemia, disputou a presidência da República em 2022, ficou em quinto lugar, com apenas 600 mil votos (0,5% do total), e, no segundo turno, não apoiou ninguém. Dos três, Thronicke é a única que já anunciou publicamente a intenção de concorrer ao posto de chefe do Parlamento. Também é a que, supostamente, tem menos chances de ser bem-sucedida , já que , até o momento nem mesmo os seus correligionários estão convencidos da ideia. A senadora, no entanto, disse recentemente a um aliado que tem duas cartas na manga capazes de catapultar seu nome.

A primeira é o fato de ser mulher. Em 200 anos de história, o Congresso nunca foi comandado por uma senadora. Quem mais se aproximou disso foi a hoje ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). Em 2021, ela disputou o cargo com Rodrigo Pacheco. Sem o apoio do partido, teve apenas 21 votos, mesmo sendo uma parlamentar conhecida, respeitada e experiente. Thronicke está em seu primeiro mandato e a aposta na bancada feminina, formada por quinze senadoras, para começar a viabilizar sua candidatura. O empuxo final, porém, sairia de onde menos se imagina. No fim do ano passado, a congressista contou que participava de uma solenidade no Palácio do Planalto quando foi convidada por Lula para uma reunião reservada. Na conversa, o presidente falou de sua expectativa em relação às eleições das mesas da Câmara e do Senado e não escondeu o desconforto com a situação atual. “Não dá para ficar nas mãos do Alcolumbre, do Pacheco e do Lira”, teria dito Lula. E, na sequência, concluído: “Nós precisamos nos unir”. Thronicke entendeu que o presidente lhe deu sinal verde para a campanha e promessa de apoio.

O Lira citado por Lula é Arthur Lira (PP-AL), reeleito presidente da Câmara no ano passado por um acordo entre o governo e os partidos que seguiu os mesmos moldes do que foi feito com Rodrigo Pacheco. Já Alcolumbre é Davi Alcolumbre (União-AP), ex-presidente do Senado que, na cadeira, aliou-­se ao então presidente Jair Bolsonaro. Após a derrota do capitão, Alcolumbre debandou para o outro lado. Foi peça-­chave para garantir o apoio do União Brasil a Lula, ampliando a base aliada no Congresso; em troca, o governo entregou à legenda três ministérios — Comunicações, Integração Regional e Turismo -, além de assumir o compromisso de apoiar a volta dele à presidência do Senado em 2025. Não por acaso, coube ao próprio Alcolumbre a escolha de dois dos três ministros.
Mas, como teria dito Lula, não é nada confortável para o governo permanecer nas “mãos de Alcolumbre, Pacheco e Lira”.

Um comentário como esse, se de fato aconteceu, pode ser interpretado como uma puxada de tapete de três dos mais poderosos políticos do Congresso e criar um tremendo embaraço. Alcolumbre, por exemplo, quando perguntado sobre seu retorno à presidência do Congresso, costuma lançar mão de seu jeito bonachão para desviar o assunto. Nos corredores do Senado, ele ainda é tratado como presidente – e não por mera gentileza. O senador espera contar com o aval de Lula e, se eleito, já anunciou que vai continuar tocando a agenda econômica do governo — um ativo e tanto durante as vésperas de uma disputa presidencial. “Se o Davi quiser, com a oposição e o centro, ele derrota o governo e se elege. Mas isso é justamente o que o governo quer evitar, que é vê-lo eleito, mas com o compromisso de priorizar a agenda da oposição”, afirma um dos aliados mais próximos do parlamentar. Resumindo, se Lula realmente falou o que pensa para a senadora Thronicke, ele estaria articulando, como os políticos gostam de dizer, uma facada nas costas. Mas isso é improvável.

Mesmo entre os petistas, não há dúvida hoje de que Alcolumbre será o presidente do Congresso a partir de fevereiro de 2025. Na política, porém, até as certezas são efêmeras. Em dez meses, tempo que falta para a eleição, os ventos podem mudar de direção, aliados podem se transformar em adversários e acordos podem ser descumpridos. É nisso que também apostam o senador Rogério Marinho, o principal nome da oposição, e outras duas senadoras que não descartam a hipótese de entrar na briga, caso os ventos realmente soprem para o lado feminino. A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro, é a primeira opção entre os oposicionistas. Do outro lado, Eliziane Gama (PSD-MA) já se apresentou como alternativa junto à bancada governista. Assim como Thronicke, ela também saiu entusiasmada de uma conversa recente com Lula, na qual o presidente teria comentado sobre a oportunidade de ter pela primeira vez uma mulher no comando do Senado. Lula, como se sabe, tem um talento natural para falar aquilo que o interlocutor gostaria de ouvir. Eliziane já deve ter sido advertida sobre isso, mas Thronicke ainda desconhece essa habilidade do presidente e está levando a sério o que escutou.

Omar pode ser o indicado do PSD

A bancada do PSD avalia lançar um nome para disputar a Presidência do Senado. O pleito ocorrerá no início do ano que vem. A ideia do bloco é se contrapor a uma candidatura de Davi Alcolumbre (União-AP), que tem o apoio do próprio Rodrigo Pacheco.

A princípio não há um nome escolhido para a disputa, mas a ideia é que seja um parlamentar mais vinculado ao Palácio do Planalto. Os nomes que começam a ser ventilados são os de Omar Aziz (AM) e Eliziane Gama (MA). Hoje o PSD tem 15 senadores e, com uma candidatura governista, seria possível atrair o PT entre outros partidos aliados como o PSB, por exemplo.

Outro ponto que tem sido aventado nas conversas, inclusive com parlamentares da base governista, é que não seria de bom tom um mesmo partido comandar a Câmara e o Senado. Na Câmara, o líder da sigla, Elmar Nascimento (BA) tem dado passos largos para conseguir apoio da base de Arthur Lira (PP-AL) e, assim, ele seria o favorito na disputa.

A questão é que o PSD também pretende disputar a presidência da Câmara, com o deputado Antônio Brito. Caso Brito tenha condições de manter uma base unida em seu entorno, o partido pode desistir de disputar a presidência do Senado.

Da Redação, com informações Veja

Foto: Reprodução

 

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