agosto 21, 2025 11:58

PF expõe entranhas do bolsonarismo e aliados acusam ‘vazamento político’

As 170 páginas do relatório da PF (Polícia Federal), divulgado na noite desta quarta-feira, 20, expõem as entranhas do bolsonarismo como nenhuma outra investigação tinha sido capaz até agora.

Os diálogos ilustram não apenas o racha na direita e a influência do pastor Silas Malafaia, mas, sobretudo, um manso ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) diante dos xingamentos do filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP): “VTNC, seu ingrato do c*****o.”

Aliados do ex-presidente admitem a exposição e chamam de “vazamento político” o relatório da PF. Para o entorno da família Bolsonaro, a investigação não tem impacto jurídico, mas reconhecem que, às vésperas do julgamento da trama golpista marcada para setembro, serve como “espetáculo” aos detratores.

Pessoas próximas ao ex-presidente admitiram o desconforto com o conteúdo das mensagens extraídas do celular de Bolsonaro e o impacto inicial do relatório que expõe a briga com Eduardo.

Horas depois, porém, passaram a adotar o discurso de “jogada política” do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e da PF para “desgastar a direita” às vésperas das manifestações de 7 de Setembro e do julgamento do plano de golpe.

Tarcísio no alvo de Eduardo

O trecho mais sensível é justamente o que revela a dinâmica da relação entre pai e filho, e o tom adotado por Eduardo para pressionar o ex-presidente.

Irritado com o tom elogioso de Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em uma entrevista ao site Poder360 no dia 15 de julho, Eduardo, que vive nos Estados Unidos desde fevereiro, se exalta com o pai:

“Me fudendo aqui! VC ainda te ajuda a se fuder aí!”, escreve. “Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se fuder é vc. E VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA VIDA NESTA PORRA AQUI. TENHA RESPONSABILIDADE”, diz Eduardo ao pai.

Bolsonaro responde com dois áudios que não foi possível recuperar pela PF. O filho retruca com mais dois áudios, também não recuperados, e o ex-presidente menciona que “resolveria” na entrevista que daria na sequência à CNN.

Em participação no Arena CNN, Bolsonaro afagou o filho Zero Três: “Eduardo Bolsonaro está certo, lutando por liberdade para todos nós, sacrificando seu mandato […]. Tem que se reconhecer o trabalho que ele faz […] um garoto, mas é fantástico o trabalho que ele faz”, disse.

O relatório da PF ilustra ainda o ciúme de Eduardo Bolsonaro com Tarcísio de Freitas, a desconfiança sobre os planos para 2026 e o incômodo com o diálogo que o governador de São Paulo construiu com o STF.

“Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026”, disse Eduardo em mensagem ao ex-presidente.

Em outro momento, Eduardo reconhece o incômodo com a iniciativa de Tarcísio de buscar o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para tratar da tarifa de 50% imposta por Donald Trump.

O deputado encaminha ao ex-presidente o link da notícia antecipada pela CNN sobre o encontro de Tarcísio, e Bolsonaro responde que está com o governador naquele momento. O deputado então manda um recado:

“Avise-o. Se quiser acessar a Casa Branca ele não conseguirá. Só eu e Paulo Figueiredo temos acesso”, escreveu.

Anistia light

Outro ponto do relatório que expõe a estratégia do bolsonarismo é quando Eduardo diz que os Estados Unidos pararão de ajudar se houver uma “anistia light”.

“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar”, diz Eduardo a Bolsonaro.

O parlamentar também deixa claro o temor de que Trump “vire as costas” para o Brasil e pressiona o pai a responder rapidamente a uma publicação do presidente dos Estados Unidos.

“Opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter, se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta”, escreveu a Bolsonaro.

Nas conversas, o deputado diz que o ex-presidente é o “maior empecilho” para ser ajudado e diz que o pai não precisa se preocupar com cadeia.

“Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que, por aqui, as coisas mudem. Mesmo dentro da Casa Branca tem gente falando para o 01: ‘ok, Brasil já foi. Vamos para a próxima’”, escreveu.

A mensagem sobre Bolsonaro não precisar se preocupar com cadeia foi enviada no dia 10 de julho, um dia após o anúncio do tarifaço por Trump.

Bolsonaro, porém, foi para prisão domiciliar no dia 4 de agosto por determinação de Alexandre de Moraes. O ministro apontou que o ex-presidente, que já estava usando tornozeleira eletrônica desde 18 de julho, descumpriu medidas cautelares a aparecer por vídeo em uma manifestação e o conteúdo ter sido publicado pelo Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

 

Da Redação com informações de CNN Brasil 

Foto: Divulgação

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