A Polícia Federal apura o suposto envolvimento de filhos, esposa, sogra, PMs e aliados de Wanderlei Barbosa (Republicanos) para atrapalhar as investigações sobre o desvio de cestas básicas durante a pandemia. Ao todo, 18 pessoas foram alvos da Operação Nêmesis, realizada na quarta-feira, 12.
Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão em Palmas e Santa Tereza do Tocantins. Os documentos foram expedidos pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Mauro Campbell.
Na ação de quarta-feira, foi investigada a possível prática de embaraço à Operação Fames-19, sobre desvio de recursos públicos e emendas parlamentares utilizadas para compra de cestas básicas durante a Covid-19.
Wanderlei Barbosa
O governador afastado do Tocantins é investigado por desvio de recursos e cestas básicas que seriam usadas para enfrentar as consequências da Covid-19 no Tocantins. Na época da pandemia, Wanderlei era vice-governador e ficou com a atribuição de cuidar da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas).
Conforme a operação desta quarta-feira, o governador seria o principal beneficiário das supostas ações feitas para atrapalhar a Polícia Federal. Ele teria recebido informações sobre a Fames-19, realizada no dia 3 de setembro, na véspera do cumprimento dos mandados. Isso teria feito com que ele saísse de casa às pressas, deixando um cofre aberto e vazio, comida sobre a mesa, uma televisão ligada e um celular, que, segundo a polícia, foi resetado.
A assessoria do governador afastado afirmou, em nota, que Wanderlei Barbosa recebeu com estranheza mais uma operação da Polícia Federal enquanto espera julgamento de recurso no Supremo Tribunal Federal e “ao mesmo tempo reitera a sua disponibilidade para colaborar com as investigações e mantém a sua confiança na Justiça e nas instituições”.
Karynne Sotero
A primeira-dama também teria se beneficiado das informações passadas às vésperas da operação da Polícia Federal. Segundo a decisão, ela saiu de casa às pressas junto com o governador e a filha.
Na Fames-19, Karynne foi apontada como integrante do núcleo de agentes políticos do esquema de desvio de recursos públicos. Ela também foi citada por ter sido presidente do Instituto para o Desenvolvimento e Gestão Social, Esportiva e Cultural (Idegesesc) que foi contratado para montar cestas básicas, mas supostamente falsificou a entrega dos produtos. Mesmo depois de deixar o cargo de presidente, a primeira-dama ainda mantinha as chaves do Instituto em seu poder.
A Idegesesc posteriormente mudou de nome para Instituto para o Desenvolvimento Educacional, Social e da Saúde (Idess).
A primeira-dama afirmou que “repele as acusações infundadas de tentativa de embaraço às investigações” e reiterou sua disposição em colaborar com a Justiça.
Thomas Jefferson
Thomas é ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, nomeado por Wanderlei Barbosa. Ele é investigado por supostamente alertar o governador sobre a Operação Fames-19 horas antes da Polícia Federal cumprir mandados e afastá-lo do cargo.
Segundo apurado pela PF, na noite do dia 2 de setembro de 2025, Thomas foi pessoalmente à casa do governador e da primeira-dama, Karynne Sotero. Após a visita do ex-secretário, o casal deixou o local às pressas. Thomas foi exonerado no dia 3 de setembro de 2025, após o governador em exercício Laurez Moreira (PSD) ter alterado todos os secretários do primeiro escalão.
A defesa de Thomas Jefferson informou que o ex-secretário “nunca trabalhou para causar qualquer embaraço às investigações” e que sua atuação com o governador se deu apenas como secretário de Estado.
Joana Darc Sotero
A mãe de Karynne Sotero e sogra de Wanderlei Barbosa também foi alvo de operação nesta quarta-feira. Investigações apontam que a casa vinculada a Joana seria usada para armazenar malas, caixas e bolsas de interesse da operação. Esse material, conforme a decisão, foi retirado da residência na manhã do dia 3 de setembro, quando a Fames-19 foi realizada.
Cláudia Lélis
Conforme apurado pela PF, durante a retirada das malas e caixas da casa da sogra de Wanderlei, a deputada estadual esteve presente. Imagens anexadas na decisão mostram a parlamentar em frente à residência cumprimentando uma pessoa.
Durante a Fames-19, a polícia identificou que Cláudia Lélis (PV) teria procurado Karynne por meio de representantes para destinar uma emenda parlamentar ao Instituto ligado à primeira-dama.
Cláudia informou que foi surpreendida com o cumprimento de mandado desta quarta-feira, “considerando que o fundamento apontado para a medida teria sido uma visita de solidariedade ao governador Wanderlei Barbosa”. Ela ainda afirmou que respeita as instituições e que aguarda para prestar os esclarecimentos.
Yhgor Leonardo
O deputado estadual e filho de Wanderlei Barbosa, Yhgor Leonardo, teria sido informado sobre a operação da PF pouco depois de Thomas Jefferson visitar o governador. Segundo a decisão, Leonardo teria sido informado pessoalmente sobre a realização da Fames-19. No dia da operação, ele foi visto na residência de Wanderlei pela manhã e depois na casa de Joana.
Leonardo informou que colabora com as investigações e que “jamais concorreu ou colaborou para atrapalhar quaisquer investigações”.
Rérison Antônio Castro
Rérison Castro, filho de Wanderlei Barbosa, também teria sido informado sobre a operação horas antes da PF cumprir os mandados. Ele e Thomas Jefferson são sócios de um escritório de advocacia. O ex-secretário entrou em contato com Rérison após passar na casa de Leonardo, conforme a investigação.
Na noite anterior à operação, Rérison saiu de casa e voltou na madrugada do dia seguinte. Pela manhã, ele saiu e encontrou Leonardo, momento em que foram na casa do pai e da Joana.
Rérison informou que lamenta as acusações infundadas e que colabora com as investigações para demonstrar sua inocência.
Mauro Henrique
A Polícia Federal investiga que Mauro Henrique da Silva teria ajudado a tirar as caixas e bolsas da casa da sogra de Wanderlei Barbosa. Conforme apurado pela polícia, ele tinha contato direto com o governador, mostrando uma relação de confiança entre eles.
Mauro também é proprietário formal da chácara do governador em Campo Alegre, no município de Paranã. Na Fames-19, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão no imóvel, que estava decorado com objetos pessoais de Wanderlei e Karynne.
A defesa de Mauro Henrique ainda não se posicionou.
Wander Araújo
O ex-secretário-chefe da Casa Militar, Wander Araújo Vieira, também foi visto retirando bolsas e malas da residência de Joana, sogra de Wanderlei Barbosa. Ele é investigado pela Polícia Federal por atrapalhar as investigações sobre o desvio de cestas básicas.
Por telefone, Wander informou à TV Anhanguera que prestou todos os esclarecimentos necessários à polícia e que não participou de ações que comprometesse a investigação.
Da Redação, com informações do G1
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