Está previsto para o próximo dia 26, por videoconferência, o julgamento do secretário de Saúde de Roraima, Airton Cascavel, e do deputado estadual Eder Lourinho (PTC). Os dois são suspeitos de compra de votos nas eleições de 2018.
Nessa segunda-feira, 10, O Poder teve acesso à notícia de fato enviada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) pelo Ministério Público. Conforme documento, as investigações iniciaram após denúncias de compras de voto e prisão de duas pessoas por corrupção eleitoral em benefício de Cascavel e Lourinho, candidatos a deputados federal e estadual, respectivamente, no pleito de 2018.
O crime, de acordo com o órgão ministerial, ocorreu no dia 6 de outubro, na véspera da votação, em Caracaraí (a 140 quilômetros de Boa Vista). Durante rondas no município, equipes policiais e do MP encontraram uma caminhonete, modelo Amarok, em frente a uma casa, no bairro da Prainha, com várias pessoas em uma espécie de reunião.
Ao vistoriarem o veículo, os fiscais encontraram uma grande quantidade de material de campanha, incluindo do então candidato Eder Lourinho. O proprietário do veículo informou não saber o que transportava, no entanto, no porta-luvas da caminhonete estavam duas folhas com nomes anotados em manuscrito, além de uma em branco com campos para colocar os nomes de coordenador e militante, e colunas para anotar possíveis eleitores, zonas e seção eleitoral. Uma das anotações dizia “20 pessoas R$ 100”, outra relatava que seriam R$ 1 mil para uma mulher identificada apenas como Luiza.
Já na bolsa de uma das participantes da suposta reunião, foram encontrados pouco mais de R$ 6,6 mil, cadernos com anotações de nomes, valores e telefones. Num primeiro momento, a mulher negou ser dona dos objetos encontrados e afirmou que o dinheiro encontrado foi fruto de uma venda feita em Boa Vista.
Em seguida, ela revelou que trabalhava para os dois candidatos e que recebeu, indiretamente, o dinheiro de Cascavel, para pagar as pessoas que trabalhavam na campanha eleitoral. Ainda de acordo com a mulher, “quem trabalha para um, trabalha para o outro”.
Várias pessoas encontradas na fiscalização foram ouvidas pela polícia e confirmaram o recebimento de R$ 100 para que votassem em Eder Lourinho e Airton Cascavel. Elas informaram que, nas reuniões, supostos representantes dos candidatos pediram votos e se comprometeram a pagar a quantia para quem assinasse uma lista. O pagamento, conforme os depoentes, foi feito um dia antes das eleições.
O Ministério Público ressaltou que o nome de um dos suspeitos consta da prestação de contas dos candidatos Lourinho e Cascavel feita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É evidente, assim, que os candidatos representados ofereceram, prometeram e entregaram aos eleitores, mediante o uso de pessoas interpostas, dinheiro em troca de voto, objetivando alavancar as candidaturas”, cita trecho do documento.
Embora não tenha sido eleito, Cascavel obteve muitos votos para deputado federal, constata o MP. Além disso, no último dia 3, ele assumiu a Secretaria de Saúde de Roraima.
Outro lado
A reportagem tentou contato com o secretário Airton Cascavel, mas não obteve êxito. Já o Governo do Estado ao ser questionado sobre a situação do titular da Secretaria da Saúde declarou, por meio de nota, que não se manifesta sobre qualquer ação ou possíveis comportamentos que não tenham relação ao exercício do cargo ora ocupado, muito menos de episódios anteriores à entrada no primeiro escalão.
Também por meio de nota, o deputado Eder Lourinho (PTC) disse que as testemunhas foram ouvidas e o próprio Airton Cascavel já declarou ser o responsável pela entrega do dinheiro, porém com destinação diferente do que está sendo acusado, inclusive, apresentando testemunhas sobre o referido valor pecuniário.
“Desde o dia em que eu soube disso, tenho, de certa forma, sofrido por me sentir maculado por uma acusação que, sinceramente, nunca tive a menor intenção de praticar, pois sou de uma família humilde e honrada, onde o nome limpo vale muito mais que qualquer cargo ou dinheiro. Estou esperando, com muita fé, primeiramente em Deus, e também na Justiça Eleitoral, que tudo isso seja esclarecido”, declarou o deputado.
Érico Veríssimo, para O Poder
Foto: Redes sociais/Assembleia Legislativa