O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) retirou nesta terça-feira, 29, a assinatura da lista de parlamentares que pedem a prorrogação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia por 90 dias. Por telefone, ele disse a O Poder não concordar com o rumo das investigações.
Ex-vice-líder do governo no Senado, Rodrigues foi alvo de uma operação da Polícia Federal, em outubro de 2020, que apura desvios de recursos destinados ao combate da Covid-19 em Roraima. Na ocasião, ele foi flagrado com R$ 33 mil escondidos na cueca.
Chico Rodrigues nega as acusações e afirma que o dinheiro encontrado com ele seria usado para pagar funcionários.
Após o escândalo, o senador foi dispensado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) da vice-liderança do governo e pediu licença do Senado por 121 dias. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso já havia determinado, um dia após a operação da PF, que o parlamentar fosse afastado do cargo por três meses.
Levado ao Conselho de Ética da Casa, o caso envolvendo o parlamentar roraimense nunca avançou. Embora retirado da vice-liderança do governo no Senado, Chico Rodrigues continua aliado à família Bolsonaro.
‘Aprofundamento’
A comissão foi instaurada em 27 de abril. O requerimento para a prorrogação da CPI da Covid já contava, até esta quarta-feira, com mais de 30 assinaturas. Para prorrogá-la, seria necessário que pelo menos 27 senadores assinassem o documento, ou seja, um terço do Senado.
Apesar de retirar o nome do pedido de uma possível prorrogação nesta terça, Rodrigues foi um dos que assinaram, em abril, a lista para que a comissão fosse instalada. O prazo inicial de encerramento dos trabalhos é 7 de agosto.
O pedido para prorrogar a CPI foi feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, na segunda-feira, 28.
“Diante da vasta documentação recebida e dos inúmeros fatos levantados que demandam um aprofundamento das investigações, torna-se imperativo prorrogar o prazo de duração desta Comissão Parlamentar de Inquérito. Dessa forma, considerando a insuficiência do prazo previsto para encerramento desta CPI, solicito o apoio dos pares a esse requerimento para prorrogar por mais 90 dias”, justifica o vice-presidente da comissão.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que a solicitação deve ser analisada ao fim do prazo atual de funcionamento da comissão, ou seja, em 7 de agosto, quando serão, segundo ele, “levadas em conta condições objetivas e subjetivas” para a prorrogação.
Na cueca
Em outubro de 2020, o parlamentar roraimense foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apura irregularidades no uso de pelo menos R$ 20 milhões de recursos destinados ao combate à Covid no Estado.
O dinheiro deveria ser usado para aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs) e testes rápidos de Covid-19. De acordo com a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), foram identificados vários indícios de sobrepreço e superfaturamento nos contratos para aquisição do material.
Durante a operação em Roraima, que ficou conhecida como “Desvid-19”, Rodrigues foi flagrado com mais de R$ 30 mil escondidos na cueca. Ele alegou se tratar de recursos para pagar funcionários.
‘Quem não tem culpa, não teme’
À reportagem, o senador informou na tarde desta quarta-feira que assinou as três listas para instauração da CPI da Covid, mas não concorda com o andamento das investigações.
“Todos que têm culpa, têm de ser investigados. Governadores, prefeitos… Os senadores têm que chamar todos que desviaram. Quem não tem culpa, não teme. Não pode ter dois pesos e duas medidas. Se ouvirem [governadores e prefeitos], recoloco a minha assinatura novamente”, afirmou Rodrigues.
Érico Veríssimo, para O Poder
Foto: Divulgação/Marcos Brandão/Senado