As defesas antimísseis dos EUA interceptaram foguetes disparados no aeroporto de Cabul na manhã de segunda-feira, enquanto os Estados Unidos retiravam seus diplomatas do Afeganistão nas horas finais de sua caótica retirada. As tropas americanas devem sair de Cabul na terça-feira, depois que eles e seus aliados montaram a maior evacuação aérea da história, trazendo 114 mil de seus próprios cidadãos e afegãos que os ajudaram em 20 anos de guerra.
Duas autoridades americanas disseram que o “núcleo” da equipe diplomática se retirou na manhã de segunda-feira. Eles não disseram se isso incluía o principal enviado Ross Wilson, que deveria estar entre os últimos a partir antes das próprias tropas finais.
Uma autoridade norte-americana disse que os relatórios iniciais não indicam nenhuma vítima norte-americana de até cinco mísseis disparados no aeroporto. O Estado Islâmico – inimigo do Ocidente e do Taleban – assumiu a responsabilidade pelos ataques com foguetes.
Os foguetes ocorreram após um grande atentado suicida do Estado Islâmico do lado de fora dos lotados portões do aeroporto na quinta-feira, que matou dezenas de afegãos e 13 soldados americanos.
Nos últimos dias, Washington alertou sobre mais ataques, enquanto realizava dois ataques aéreos contra alvos do Estado Islâmico, incluindo um no domingo que disse que frustrou uma tentativa de ataque suicida explodindo um carro cheio de explosivos. O prazo de terça-feira para a saída de todas as tropas foi ordenado pelo presidente Joe Biden, cumprindo um acordo alcançado com o Taleban por seu antecessor Donald Trump para encerrar a guerra mais longa de Washington.
Mas, tendo falhado em prever que o Taleban conquistaria o país tão rapidamente, Washington e seus aliados da Otan foram forçados a uma evacuação apressada. Eles deixarão para trás milhares de afegãos que ajudaram os países ocidentais e podem ter se qualificado para a evacuação, mas não conseguiram sair a tempo.
O Taleban, que oprimiu as mulheres e governou violentamente há 20 anos, disse que salvaguardará os direitos e não buscará vendetas. Eles dizem que assim que os americanos partirem, o país estará finalmente em paz pela primeira vez em mais de 40 anos.
Mas inúmeros afegãos, especialmente nas cidades, temem que os militantes se mostrem tão cruéis quanto antes. E as Nações Unidas disseram que o país inteiro agora enfrenta uma terrível crise humanitária, sem ajuda externa em meio a uma seca, deslocamento em massa e Covid-19. “O esforço de evacuação sem dúvida salvou dezenas de milhares de vidas, e esses esforços são louváveis”, disse o chefe dos refugiados da ONU, Filippo Grandi.
“Mas quando a ponte aérea e o frenesi da mídia acabarem, a esmagadora maioria dos afegãos, cerca de 39 milhões, permanecerá no Afeganistão. Eles precisam de nós – governos, organizações humanitárias, cidadãos comuns – para ficar com eles e manter o curso”.
Fora do aeroporto, as pessoas se descreveram como abandonadas pela partida das tropas estrangeiras.
Fuzileiros navais dos EUA com a 24ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais (MEU) processam evacuados enquanto passam pelo Centro de Controle de Evacuação (ECC) durante uma evacuação no Aeroporto Internacional Hamid Karzai, Cabul, Afeganistão, 28 de agosto de 2021.
“Estamos em perigo”, disse uma mulher. “Eles devem nos mostrar uma maneira de sermos salvos. Devemos deixar o Afeganistão ou eles devem providenciar um lugar seguro para nós.”
Terrificado
A mídia afegã disse que o ataque com foguete de segunda-feira foi lançado da parte traseira de um veículo. A agência de notícias Pajhwok disse que vários foguetes atingiram diferentes partes da capital afegã.
“As pessoas estão apavoradas e preocupadas com o futuro, preocupadas que o lançamento do foguete possa continuar”, disse Farogh Danish, um residente de Cabul perto dos destroços do carro de onde os foguetes foram lançados.
No domingo, autoridades do Pentágono disseram que um ataque de drones dos EUA matou um homem-bomba suicida do Estado Islâmico que se preparava para atacar o aeroporto. O Taleban disse que sete pessoas morreram na explosão. O Comando Central dos EUA disse que estava investigando relatos de civis mortos.
“Sabemos que ocorreram explosões subseqüentes substanciais e poderosas resultantes da destruição do veículo, indicando uma grande quantidade de material explosivo em seu interior que pode ter causado vítimas adicionais”, disse o documento.
Duas autoridades americanas disseram que as evacuações continuariam na segunda-feira, priorizando pessoas consideradas de risco extremo. Outros países também fizeram pedidos de última hora para trazer pessoas dessa categoria, disseram as autoridades.
O Taleban assumirá o controle total do aeroporto de Cabul após a retirada americana na terça-feira, disse a rede de televisão Al Jazeera do Catar, citando uma fonte não identificada do Taleban.
Homenagem
Biden participou de uma cerimônia no domingo na Base Aérea de Dover, em Delaware, para homenagear os militares dos EUA mortos no atentado suicida de quinta-feira, o incidente mais mortal para as tropas americanas no Afeganistão em mais de uma década.
Enquanto os caixões de transferência com a bandeira carregando os restos mortais emergiam de um avião militar, o presidente, que jurou vingar o ataque do Estado Islâmico, fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás.
Cinco dos militares caídos tinham apenas 20 anos e eram tão velhos quanto a própria guerra.
A saída das últimas tropas encerrará a intervenção militar liderada pelos EUA no Afeganistão, que começou no final de 2001, após os ataques da Al Qaeda em 11 de setembro nos Estados Unidos.
Forças apoiadas pelos EUA derrubaram um governo do Taleban que havia proporcionado refúgio seguro para o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, e se engajou em uma guerra de contra-insurgência contra militantes islâmicos nas últimas duas décadas.
Conteúdo e foto: Reuters