Roraima – Em meio à crise na Saúde do Estado, suspeita de irregularidades em contratos, denúncias de descaso no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré e quatro pedidos de impeachment protocolados na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE), o governador Antonio Denarium (PP) permanece em completo silêncio.
Nos últimos dias, a gestão do governador bolsonarista passou a ser pressionada por deputados estaduais novatos. A pressão ocorre principalmente em relação à Secretaria de Estado de Saúde (Sesau), que tem como titular a advogada Cecília Lorenzon, amiga pessoal do governador e da esposa dele, Simone Denarium.
‘Meio Dia’
No dia 28 do mês passado, durante sessão ordinária na Casa Legislativa deputados aprovaram pedidos de informações sobre a aplicação de recursos públicos pela gestão de Lorenzon. A medida é considerada uma amostra de que os deputados não estão mais tão alinhados com o governador Antonio Denarium como no mandato passado.
O deputado Armando Neto (PL), estreitante no parlamento, é autor de dois pedidos de informações. O primeiro encaminha para a Secretaria da Casa Civil questionamentos relacionados à sanção administrativa aplicada à empresa “Meio-Dia Refeições Industriais”, empresa alvo de diversas denúncias e que mantém contrato milionário com o Governo.
O segundo requerimento do parlamentar busca saber da Sesau quais providências foram tomadas frente às denúncias de má qualidade da comida entregue aos pacientes e profissionais que atuam nas unidades de saúde. A gestão estadual da Saúde é alvo de contantes denúncias de pacientes e até servidores do Estado.
“Nesse pedido, solicito ao Governo que nos explique por que não houve aplicação da penalidade para essa empresa, tendo em vista que ela não vinha prestando serviço de qualidade. Dessa forma, acredito que possamos dar uma resposta à sociedade que tanto clama pela lisura dos recursos públicos”, defendeu Neto.
Perda de 36 milhões
Na mesma sessão, outro pedido de informação, que solicita explicações sobre o recebimento de recursos e execução de emendas referentes às reformas, construções ou ampliações de unidades de saúde de Roraima, também foi aprovado. O autor do pedido é o deputado Jorge Everton, que até recentemente era da base do governador.
“Há informações que chegaram a esse Parlamento de que recursos federais de aproximadamente 36 milhões de reais teriam sido perdidos e não executados. Dessa forma, é necessário que essa informação seja fornecida oficialmente para que possamos descobrir o verdadeiro responsável pela não utilização desses recursos tão importantes para Roraima”, destacou Jorge Everton durante a sessão.
‘Caos na maternidade de lona’
Após reclamações e denúncias, os deputados estaduais membros da Comissão de Saúde e Saneamento, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), fizeram uma visita técnica no dia 27 de março na estrutura improvisada do Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth. Durante a visita, os parlamentares constataram uma série de situações irregulares.
A unidade funciona em condições precárias e ficou conhecida como a “maternidade de lona” do governo de Roraima por atender grávidas em uma estrutura de lonas e tendas. Em entrevista ao O Poder, o deputado estadual Armando Neto informou que a maternidade necessita de melhorias, readequações e reparados. Segundo ele, tudo será cobrado do governador Antonio Denarium.
Esse tipo de ação não era comum na legislatura passada e mostra que o governador ainda não conseguiu apoio total dos novatos e enfrenta dificuldades para manter o alinhamento com os deputados reeleitos.
‘Má gestão’
No dia 24 do mês passado, o deputado Jorge Everton (UB), após uma visita na obra da Maternidade, afirmou que os serviços não foram concluídos ainda por conta de má gestão, que deixou de usar pelo menos R$ 36 milhões de emendas federais.
“Aqui na visita na maternidade nós constatamos que a denúncia de que teria se perdido o recurso federal, um montante de aproximadamente R$ 36 milhões, ela procede. Essa obra já era para ter sido terminada com recursos de emendas parlamentares federais, mas, infelizmente, por má gestão e nós vamos investigar quem é o culpado, vamos cobrar que o governador apure quem foi o responsável por perder esse recurso para tomar as providências necessárias”, garantiu Jorge Everton.
Na mira do TCE
Após reportagens e repercussão negativa, o Tribunal de Contas do Estado de Roraima (TCE-RR) decidiu investigar o processo que terceiriza a gestão do Hospital Geral de Roraima (HGR) por R$ 430 milhões.
O Tribunal de Contas publicou nesta semana no Diário Eletrônico a portaria de auditoria na Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), comandada por Cecília Lorezon. O acompanhamento do processo iniciou no dia 28 de março e segue até o dia 14 de abril.
Quatro pedidos de impeachment
Com a gestão em crise, o governador de Roraima é alvo de quatro pedidos de impeachment protocolados na Assembleia Legislativa de Roraima.
Apenas nesta segunda-feira, 10, o advogado Marco Vicenzo protocolou três pedidos de impeachment de uma vez contra o governador Antonio Denarium.
Nos pedidos, o advogado tem como embasamento falas sobre os Yanomami que enfrentam uma grave crise humanitária; pagamento de R$ 140 milhões para empresário que recebeu auxílio-emergencial e o último pedido trata do envolvimento do governador com empresa de agiotagem e com garimpo ilegal. Ele alega crime de responsabilidade.
Silêncio
A reportagem entrou em contato com o governo de Roraima, por meio da Secretaria de Comunicação, para pedir posicionamento do governador sobre a crise na Saúde, sobre as ações, se afastará a titular da pasta e sobre os quatro pedidos de impeachment. Sem respostas até a publicação da matéria.
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