setembro 7, 2024 19:55

EDITORIAL: Simone Papaiz, em menos de 100 dias, do gabinete à prisão

A experiência com o Amazonas da paulista Simone Papaiz se mostra traumática, com uma caminhada bastante dura e pesada e, quem sabe até mesmo “aterrorizante”. Com apenas 93 dias à frente da Secretaria de Estado da Saúde (Susam), que gerencia um dos maiores orçamento do governo estadual, coube à esta biomédica – que até então administrava a saúde pública de um pequeno município paulista, Bertioga, cidade bem menor que o Estado continental do Amazonas, pagar todos os pecados que a poderosa Susam carrega ao longo de várias décadas e gestões.

Presa no âmbito da Operação Sangria da Polícia Federal nesta terça-feira, 30, Simone Papaiz deve passar os próximos cinco dias encerrada numa cela especial do Complexo de Detenção Provisória Feminina (CDPF), no Km 8 da BR-174, para onde foi enviada após prestar depoimento inicial na sede da Polícia Federal, em Manaus.

Se não conseguir um habeas corpus antes do período, seja provocado por uma defesa particular seja pela ação da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), Simone terá um bom tempo para refletir sobre sua vinda repentina e tempestuosa para o Amazonas, o que essa “oportunidade de trabalho” lhe rendeu em pouco menos de 100 dias e se valerá a pena, até pela sobrevivência de uma pequena biografia na área da saúde, se manter à frente de um cargo tão complexo e perigoso quanto é a Secretaria de Saúde do Amazonas.

Papaiz é a primeira gestora da Susam presa no exercício do cargo. Outros ex-secretários da pasta chegaram a ser presos em operações semelhantes, cujas investigações focavam em corrupções ativas, passivas e desvios de recursos públicos na saúde, como a Maus Caminhos, que levou à prisão nomes conhecidos e respeitados da área médica estadual: Pedro Elias e Wilson Alecrim.

Simone não foi sozinha. Junto com ela foram outros ex-gestores do segundo escalão da Susam assim como empresários fornecedores envolvidos no escândalo da compra superfaturada de 28 respiradores, que deveriam salvar vidas no meio desta pandemia do novo coronavírus no Estado, que já levou à morte quase três mil pessoas.

Mas, uma pergunta ainda não tem uma resposta incisiva: Porque Simone Papaiz foi presa nesse contexto da Operação Sangria, sendo que toda a negociação, intermediação, reuniões internas e a efetivação da compra foi feita antes de sua chegada oficial à Susam? Conforme o Portal da Transparência, a compra foi feita no dia 8 de abril – justamente no dia em que foi anunciada como a nova secretária da pasta pelo governador Wilson Lima (PSC).

A compra também foi feita por meio de dispensa de licitação e, autorizada pelo então secretário-executivo da Susam, João Paulo Marques, segundo ficou evidente durante seu depoimento à CPI da Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).

A Operação Sangria alcançou e prendeu ex-secretários executivos e adjuntos da Susam, mas porque o ex-secretário Rodrigo Tobias foi poupado? Em seu depoimento à CPI da Saúde, ele argumentou que nada teve a ver com essa negociação e, que, inclusive foi contra a aquisição destes respiradores. Mas eles esteve à frente da Susam até o dia 7 de abril, quando foi exonerado do cargo, um dia antes desta compra ser formalizada.

Provocada, a Polícia Federal no Amazonas respondeu que a prisão de Papaiz se deve, justamente, porque ela é a titular, a gestora da pasta de Saúde, portanto, a responsável pelos atos internos da secretaria. Em suas palavras, o delegado da PF, Alexandre Saraiva, reiterou que a Susam, como órgão técnico, “é que fala se o equipamento atende ou não as necessidades para qual se destina o, que, foi nesse momento que houve a participação da pessoa que ocupa o cargo de titular da pasta da saúde”, no caso, Simone Papaiz.

A secretária deve ficar cinco dias encerrada, por ser prisão temporária, que pode ser prorrogada, segundo adiantou Saraiva. Ela pode sair antes, caso consiga na Justiça um habeas corpus. O período, como já foi dito, deve servir de reflexão para Simone sobre sua breve estadia no Amazonas:

Chegou no início do pico da Covid-19 no Estado, num mês em que a pandemia cresceu estratosfericamente, com mortes em massa e hospitais lotados, sem leitos, sem médicos e remédios; chegou com a promessa de estabilizar a crise que já se “despertava” na saúde, no pós-Maus Caminhos; chegou com o objetivo de minimizar o coronavírus no Amazonas. Não conseguiu.

Ao contrário, enfrentou críticas de vereadores, deputados estaduais e até federais, da oposição; foi sabatinada à exaustão na Assembleia Legislativa, sem antes tentar, numa medida antipática, barrar via Justiça sua ida ao Legislativo estadual; foi acometida pela Covid-19; não conseguiu explicar e nem contornar as irregularidades e falta de transparência na gestão de recursos públicos no combate ao coronavírus, entrou no radar do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e, por fim, foi presa numa operação policial chancelada pela Justiça justamente tendo a Covid-19 como foco.

Mesmo que a PF tenha respondido tecnicamente, a pergunta segue sem uma resposta conclusiva e a saúde pública do Amazonas, novamente, revela a sua fragilidade e incapacidade de gerenciar crises e, o flagelo financeiro a que é exposta governo após governo.

 

P.S: O governo não se manifestou quanto à prisão de Papaiz e nem como fica o comando da Susam neste período da ausência forçada da secretária.

 

 

 

Valéria Costa, para O Poder

Foto: Secom

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