Eleito presidente dos Estados Unidos pelos próximos quatro anos, Joe Biden terá uma série de desafios para lidar. O democrata venceu Donald Trump no disputado pleito de 2020. O republicano é o primeiro presidente americano a não conseguir se reeleger desde 1992.
O maior desafio será a pandemia do novo coronavírus, que voltou a ganhar força nas últimas semanas. Os EUA são o país com mais mortes e casos de Covid, concentram cerca de 20% de todos os óbitos e infectados do mundo. E registrou mais de 100 mil casos em 24 horas na quarta-feira (4).
Mas Biden terá desafios também na economia, na política externa e, provavelmente, na Suprema Corte (veja mais abaixo).
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Combate à pandemia
Biden promete uma estratégia completamente diferente da adotada por Trump no combate à pandemia, a começar garantir que as decisões de saúde pública sejam amparadas na ciência e informadas por profissionais da área.
Ao contrário do governo republicano, que falou que os EUA não iam controlar a pandemia, mas sim aprender a conviver com a Covid, assim como ocorre com a gripe, o democrata promete controlá-la.
Para isso, pretende fornecer testes regulares, confiáveis e gratuitos para todos os americanos, obrigar o uso da máscara em todo o país e proteger os mais velhos e as pessoas do grupo risco.
Biden também diz que vai retomar o relacionamento com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Em julho deste ano, Trump anunciou ao Congresso e às Nações Unidas que iniciou o processo para retirar formalmente o país da OMS. No comunicado à época, a saída teria efeito a partir de 6 de julho de 2021.
Recuperação econômica
Na economia, para enfrentar os impactos da pandemia, o democrata promete um pacote fiscal de mais US$ 3 trilhões e acelerar um plano de investimentos em infraestrutura previstos para os próximos 10 anos.
Mas terá de lidar com o país registrando centenas de milhares de pedidos de seguro-desemprego por semana e uma taxa de desemprego que ainda é mais que o dobro da registrada antes da proliferação do coronavírus.
Biden também promete reverter alguns dos cortes de impostos para empresas feitos por Trump e fazer uma reforma fiscal para que os mais ricos paguem mais tributos.
Política externa e guerra comercial
O presidente eleito também terá que lidar com a guerra comercial que seu antecessor iniciou contra a China.
O democrata deve manter o confronto contra o gigante asiático, mas dentro de instituições como a OMC (Organização Mundial do Comércio), marcando uma importante diferença para a postura de Trump.
Apesar disso, Biden deve manter a tentativa dos EUA de impedir que a Huawei implemente a tecnologia 5G em diversos países do mundo.
Reino Unido, Japão e Austrália já excluíram a empresa chinesa da disputa, e o próximo grande campo de batalha entre EUA e China será o Brasil.
O Brasil, que deve fazer em 2021 um dos maiores leilões do mundo sobre a tecnologia 5G, tem a China e os EUA como seus dois maiores parceiros comerciais.
Sob Trump, os EUA prometeram US$ 1 bilhão em crédito para financiar projetos no Brasil, incluindo o 5G, mas uma decisão contra a China pode trazer prejuízos ao país.
A postura de Bolsonaro, que era um grande aliado de Trump, pode mudar junto com a alternância de poder. O presidente brasileiro já disse que será ele quem vai decidir sobre a questão da Huawei.
Agenda ambiental
O Brasil também pode sofrer pressão dos EUA por causa das queimadas e desmatamentos na Amazônia. Biden citou a derrubada da floresta tropical no debate presidencial contra Trump e foi prontamente rebatido pelo presidente brasileiro.
Ao contrário de Trump, Biden tem uma clara agenda ambiental, deve recolocar os EUA no Acordo de Paris e adotar medidas contra o aquecimento global.
Conflitos raciais
No cenário doméstico, o democrata terá de lidar com os conflitos raciais e protestos que voltaram a eclodir nos EUA desde o assassinato de George Floyd. Negro, ele foi assassinado por um policial branco após ser imobilizado e ter o pescoço pressionado pelo joelho do agente durante nove minutos.
A resposta de Trump à volta do movimento Black Lives Matter foi criticar e criminalizar as manifestações e defender o discurso da lei e da ordem.
Biden escolheu a senadora negra Kamala Harris para ser sua vice de chapa e deve adotar uma postura completamente oposta à do atual presidente.
Com isso, deve ter como desafio os movimentos supremacistas brancos. Durante a gestão de Trump, o republicano lidou com os grupos de maneira dúbia e evitou condená-los por mais de uma vez.
Suprema Corte conservadora
Para cumprir grande parte das suas promessas, Biden deve contar com um grande aliado: um Congresso de maioria democrata. A superioridade deve fazer com que ele consiga aprovar suas propostas logo no início do mandato.
Biden, entretanto, deve ter dificuldade com outro poder: o Judiciário.
Trump conseguiu fazer três nomeações de juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett) e construiu uma sólida maioria conservadora no tribunal.
Com 6 juízes conservadores e apenas 3 progressistas, a Corte pode decidir em breve temas como o futuro do Obamacare, políticas de imigração do governo Trump, a proibição da discriminação de casais do mesmo sexo e até aborto.
Por isso, já há democratas que defendem a ampliação do número de juízes na Suprema Corte. Sob pressão do partido, Biden se comprometeu que, caso eleito, formaria uma comissão bipartidária para estudar o assunto.
Conteúdo: G1
Foto: AP Photo Andrew Harnic, Pool