Roraima – “[…] descaso total do governo e falta de respeito para com a população”. Essa foi a declaração feita por um familiar de uma paciente que esperou 5h para ser transferida da Policlínica Cosme e Silva para o Hospital das Clínicas (HC), ambos localizados no bairro Pintolândia, zona Oeste de Boa Vista. A denúncia foi enviada a O Poder nesta sexta-feira, 24.
De acordo com a denúncia, a paciente, uma senhora de 66 anos, com comorbidades, recebeu um encaminhamento médico para ser internada no Hospital das Clínicas, devido à enfermidade na perna. O procedimento dizia que ela precisava passar pelo Cosme e Silva, para depois seguir para o HC, onde ficaria internada para tratamento.
“Chegamos ao Cosme e Silva por volta das 17h40. Fomos atendidos, só que não tinha ambulância para levar a minha mãe. Tivemos que esperar até as 22h30 para ser transferida para a unidade hospitalar que fica a uns 200 metros. Isso é um descaso total do governo e falta de respeito para com a população”, declarou.
O familiar do paciente relatou que, segundo os funcionários, a unidade só dispõe de uma ambulância para a transferência de pacientes para toda a cidade. Os servidores afirmaram que o o transporte tinha saído para levar paciente ao Hospital Lotty Iris e depois priorizou outros pacientes que iam para unidades mais longe.
Além disso, eles ressaltaram que os motoristas estavam todos de férias. “Eles disseram que só tem um motorista atendendo o Cosme e Silva, o que estava prejudicando o serviço e acumulando pacientes na sala amarela. Minha mãe teve que ficar em um leito sem lençol no colchão e não recebeu nenhum atendimento ou observação que justificasse ela estar na sala amarela, a não ser a falta de ambulância”, frisou o denunciante.
Por volta das 22h30 a ambulância fez a transferência. Conforme a reclamação, o veículo foi superlotado, mesmo com os pacientes com comorbidades e com as recomendações de sanitárias para evitar aglomeração. “A ambulância foi lotada, sendo três pacientes, dois acompanhantes, o enfermeiro e o motorista. Isso em período de pandemia, é desumano. O governo precisa organizar a saúde pública, ainda mais neste período”, criticou.
Outra denúncia
A reportagem recebeu outra reclamação reforçando a falta de ambulância no atendimento de saúde pública do Estado. Uma paciente contou que, após ser operada no HGR, precisou esperar por 7h até a chegada da ambulância para ser levada ao HC, onde segue internada.
“Estava internada no Hospital das Clínicas, na segunda-feira, e precisei fazer uma cirurgia no Hospital Geral de Roraima [HGR]. O procedimento cirúrgico terminou por volta das 15h e só teve ambulância para me levar de volta às 22h. O HGR é o de referência para pacientes com Covid-19, eu tive que ficar lá por muitas horas somente pela falta de organização do governo. Pedimos providência, porque esta situação já prejudica muita gente e ainda interfere no tratamento de saúde da pessoa que está debilitada”, reclamou.
Saúde de Roraima
Não é a primeira vez que a saúde pública de Roraima vira alvo de denúncia por parte de pacientes. Além da falta de gestão efetiva, para resolver as questões básicas de atendimento, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) tem sido investigada por desvio de recursos públicos, corrupção, irregularidades em licitações e outros problemas.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), é uma das que investiga possíveis irregularidades nos contratos da Sesau. Outro entrave da pasta é a troca de titulares. Leocádio Vasconcelos é o nono secretário somente na gestão de Denarium.
Um dos problemas mais recentes foram os casos de nepotismo na Secretaria de Saúde. O Ministério Público de Roraima (MPRR) recomendou ao governador, Antonio Denarium (PP), e ao secretário de Saúde, a exoneração de servidores comissionados por nepotismo. O documento determinou que os gestores “adotem as medidas administrativas com vistas a regularização da situação de nepotismo observada no âmbito da Secretaria de Saúde”.
O que diz o governo
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação do governo de Roraima, para saber o motivo da demora no atendimento da ambulância, bem como para confirmar a ausência de motoristas por motivo de férias e que medidas serão tomadas para que os problemas sejam sanados e a população receba atendimento digno nas unidades de saúde do Estado.
Por meio de nota, a Sesau informou que “que as Unidades Hospitalares incluindo o Pronto Atendimento Cosme e Silva, Hospital das Clínicas e Hospital Geral de Roraima contam com ambulâncias funcionando 24 horas e realizando o atendimento de urgência e emergência, mantendo assim a remoção contínua de pacientes na medida em que as demandas são registradas”.
A pasta disse, ainda, que a a transferência de paciente segue um protocolo. “A transferência de pacientes de uma unidade para outra é feita assim que o protocolo de transferência é concluído, ou seja, após a conclusão dos exames clínicos do paciente e fechamento do diagnóstico médico e a regulação de leito por parte da unidade que irá receber o paciente, etapas importantes para garantir a segurança do próprio paciente, durante a definição da conduta médica. Ocorre que há momentos em que a demanda aumenta alterando a rotina de trabalho, mas a regulação é feita para que todas as demandas sejam atendidas e os pacientes assistidos”.
Sobre a paciente, a direção do Hospital das Clínicas ressalta que ela recebeu a assistência médica e da equipe multiprofissional desde o momento em que buscou a unidade e que o atendimento é prestado de acordo com a classificação de risco estabelecida pelo Ministério da Saúde.
Denúncias podem ser na sede da Sesau, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h; pelo email: [email protected] ou ainda no telefone da Ouvidoria no telefone: (95) 98410-6188.
Da Redação O Poder
Foto: Divulgação/Secom