As conversas paralelas entre os vereadores homens no Plenário Adriano Jorge, da Câmara Municipal de Manaus (CMM), demonstrando ignorância ao tema da tribuna popular “16 dias de ativismo: vamos falar de feminicídio!”, irritaram a convidada, a mestra em Segurança Pública, Cidadania e Direitos Humanos e advogada Cynthia Rocha Mendonça, e a proponente vereadora Professora Jacqueline Pinheiro (Podemos).
No momento que a convidada mostrava dados, o barulho das conversas paralelas pôde ser ouvido na transmissão do Parlamento. Em um dado momento, ela pausou a apresentação.
“Me desculpe, mas eu vou quebrar a liturgia. Estou numa Casa que está repleta de homens e estou vendo a maioria em conversas paralelas. Estamos em uma ação que é voltada para combater esse tipo de comportamento. Então, me perdoem, Vossas Excelências, eu gostaria da atenção dos senhores pois são vetores de informação. Se eu conseguir a atenção dos senhores será de muito valia. Perdão, não irei demorar muito”, frisou Cynthia Mendonça.
Os vereadores Raiff Matos (DC), Sassá da Construção Civil (PT), Capitão Carpê Andrade (Republicanos), Lissandro Breval (Avante) e William Alemão (Cidadania) estavam conversando paralelamente. Após o pedido, o plenário voltou a atenção parcialmente para a convidada.
Ao término da exposição, a vereadora Professora Jacqueline Pinheiro (Podemos) reclamou da atitude dos colegas. “Agradeço doutora Cynthia por tirar seu precioso tempo para a vir aqui abrilhantar com as suas informações sobre a violência contra a mulher. Agradeço a meus amigos pelo comportamento exemplar de estar aqui, ouvindo e contribuindo”, alfinetou.
“Gente, eu vou pedir para os colegas que não querem participar para, ao menos, fazerem silêncio. Nós estamos tratando de um assunto tão importante. Está um conversando com o outro. Isso é um desrespeito ao nosso trabalho aqui. Eu me sinto incomodada. Programamos um momento desse, com uma pessoa de renome para conversar e as pessoas ficam conversando, um para um lado e para o outro. Fica desconfortável”, desabafou. “Nossa Casa está aqui para receber e receber com qualidade. Me desculpem o desabafo, mas, como professora, isso me incomoda. E continuam mesmo com isso. Os funcionários da Casa e o vereador Sassá poderiam trabalhar suas temáticas mais tarde. Chamar nesse nível é complicado”, repreendeu a parlamentar.
Após o ‘desabafo’ da vereadora, a tribuna ocorreu normalmente. O silêncio e “bom comportamento” renderam elogios irônicos de Professora Jacqueline ao fim da tribuna.
“A sala de aula está exemplar agora. ‘Né, menina? Tão de parabéns’. Professor é assim. Ele ensina e parabeniza. É o condicionamento operante para estimular. Agora estou parabenizando vocês pelo comportamento exemplar”, falou.
A convidada da tribuna é a autora do livro Feminicídio, que será lançado nesta quinta-feira, 25, às 16h, na Ordem de Advogados do Brasil – seccional Amazonas (OAB-AM). A tribuna foi requerida pela Comissão da Mulher da Casa Legislativa em razão dos dados de violência doméstica na pandemia.
Após a tribuna, a Sessão Plenária foi suspensa com retomada para a votação dos Projetos de Lei.
Priscila Rosas, para O Poder
Foto: Divulgação
Edição e Revisão: Alyne Araújo e Henderson Martins