Roraima – A aldeia Aracaçá, localizada na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, foi incendiada e destruída pelas chamas. O local era onde vivia uma indígena adolescente de 12 anos, que foi estuprada e morta por garimpeiros no início desta semana.
A informação foi repassada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami, em entrevista concedida ao O Poder na tarde desta sexta-feira, 29.
O líder indígena esteve na comunidade Aracaçá nesta semana juntamente com a Polícia Federal e o Exercito para acompanhar. Além da adolescente assassinada, uma mulher indígena teria sido sequestrada e a filha dela, de 3 anos, jogada no rio Uraricoera, onde desapareceu.
Ao chagarem à comunidade, Júnior lembra que se deparou com tudo destruído pelo fogo e os indígenas tinham abandonado o local. Alguns que estavam ainda nas imediações demonstravam medo.
“Quando chegamos lá, alguns indígenas que trabalhavam com os garimpeiros foram até a gente, mas não para passar informação. Eles foram orientados para não contar nada, percebemos isso. Verificamos também que eles estavam com muito medo. […] Com certeza estão sendo ameaçados, coagidos, foram obrigados a aceitar ouro para não contar os crimes que aconteceram, eles falaram isso”, disse o presidente do Condisi-YY.
Ele disse, ainda, que no dia seguinte retomaram à comunidade e nenhum indígena estava no local. Então, aproveitou para caminhar pela região, quando encontrou indícios de um corpo queimado, o que seria parte de um ritual fúnebre comum e tradicional da etnia.
“Encontramos marcas da queimação de um corpo, que a comunidade fez o ritual. Nós, Yanomami, fazemos ritual queimando o corpo, cerimonial fúnebre e luto. Eu sou Yanomami, conheço a cultura e em meus 35 anos nunca vi o que está acontecendo na comunidade Aracaçá”, lamenta.
Segundo o líder, é importante continuar as investigações para que tudo seja devidamente esclarecido e para que não volte a ocorrer outros crimes contra os povos indígenas. Ele ressaltou que os índios “comprados” pelos garimpeiros para ficarem calados atrapalharam as investigações.
Sem indícios
Por meio de nota, a Polícia Federal informou que esteve na comunidade para apurar os fatos. No entanto, até o momento, não foram encontradas provas de crimes na região.
“Após extensas diligências e levantamentos de informações com indígenas da comunidade, não foram encontrados indícios da prática dos crimes de homicídio e estupro ou de óbito por afogamento, conforme narrados na denúncia em epígrafe. As equipes, portanto, ainda estão em diligência em busca de maiores esclarecimentos”.
Anderson Soares, para O Poder
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