Com mais de 35,5 milhões de brasileiros sem acesso à internet em celulares ou computadores de domicílios das classes B, C e D/E, o início do horário eleitoral gratuito, que vai durar de 26 de agosto a 29 de setembro, poderá interferir diretamente na avaliação dos eleitores tradicionais. Esse público ainda prefere acompanhar os movimentos dos candidatos pela TV ou rádio durante a campanha eleitoral.
Atualmente, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 90% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3,5 mil por mês e 70% ganham até dois salários mínimos (R$ 2,4 mil). Ou seja, a falta de condições financeiras dificulta a instalação de internet ou compra de créditos para celulares.
Além disso, há uma tradição entre as classes mais conservadoras em acompanhar os veículos de comunicação. É pela TV e pelo rádio que esse público acompanha as informações de seus candidatos, além de assistir aos debates.
Brasil empobreceu
Entre 2012 e 2022, o Brasil ficou mais pobre em dez anos. Com isso, a fatia de domicílios brasileiros que integra as classes D e E aumentou de 48,7% para 51%, conforme levantamento realizado pela consultoria Tendências. Em números absolutos, são 37,7 milhões de domicílios compondo a base social neste ano.
O país não tem um critério único para classificar as classes de renda. Pelo levantamento da Tendências, as classes D e E são compostas pelos domicílios com renda mensal de até R$ 2,8 mil.
Nesse levantamento de dez anos, a piora da mobilidade social mostra um importante revés para o Brasil. Desde o início dos anos 2000 até meados da década passada, o país viu o fortalecimento da classe C e parecia, enfim, se consolidar como uma economia de classe média – em 2004. Os dados indicam que 64% dos domicílios integravam as classes D e E, enquanto 22,4% pertenciam ao grupo da classe C.
Mas a recessão observada entre 2014 e 2016 e os efeitos econômicos causados pela pandemia do novo coronavirus interromperam esse processo.
Confira o gráfico com os dados
TV e Rádio serão ferramentas importantes
Para o cientista político Carlos Santiago, nem sempre o maior tempo no horário eleitoral gratuito poderá fazer a diferença ou convencer o eleitor em quem votar, embora a TV e o rádio ainda possuem muita força na campanha eleitoral.
“Geralmente as pessoas de mais idade já se acordam ouvindo o rádio. Muita gente, por conta do desemprego, está em casa e pode assistir aos programas de televisão, que hoje faz parte de vários ambientes. Há um grupo de eleitores que já estão aposentados e ficam em casa e a TV ainda é um canal que influencia quem quer enviar uma ideia ou proposta para a sociedade”, avaliou.
Carlos Santiago afirmou, ainda, que, no momento, o eleitor não está muito preocupado com mudanças profundas. “A televisão e o rádio podem ser importantes nas eleições de 2022 para as candidaturas que saibam utilizar essas ferramentas. A internet hoje também é importante na cultura e nas equipes dos candidatos”, ressaltou.
Augusto Costa, para O Poder
Foto: Acervo O Poder