novembro 23, 2024 04:38

Alta de juros nos bancos estão levando estrangeiros a retirarem recursos do Brasil em 2022

Devido a aceleração da alta dos juros pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, incluindo o Brasil, está intensificando a saída de capital do mercado financeiro dos países emergentes.

Julho foi o quinto mês consecutivo de fuga de recursos da região nas bolsas e na renda fixa, o que se confirmado deve ser o maior número de meses consecutivos  da retirada de dinheiro já registrado por estes mercados, de acordo com o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne os 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, capital dos Estados Unidos.

No Brasil, a greve dos funcionários do Banco Central atrasou a divulgação dos dados semanais do fluxo cambial,  um dos maiores  termômetros do apetite do investidor estrangeiro para ativos brasileiros. Os números de 2022 mostram que até fevereiro o País recebia uma enxurrada de recursos externos, considerando o canal financeiro, que mostra a movimentação em renda fixa e ações.

Somente em março, este movimento mudou, e houve saídas liquidas de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro, coincidindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o início da elevação dos juros nos Estados Unidos. Em abril, nova retirada de US$ 3,7 bilhões. De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, afirmou na segunda-feira, 25, que a forte saída de recursos em renda fixa em março deve estar relacionada ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.

Na B3, o fluxo de estrangeiros está negativo este  mês em R$ 822 milhões até o dia 21. Em junho houve um respiro, com fluxo positivo de R$ 427 milhões, que aconteceu após a enorme retirada de R$ 14 bilhões em abril e maio.

“O mundo está passando por um dos maiores choques de taxas de juros da memória recente”, ressalta um relatório recente do IIF. Nas primeiras duas semanas de julho, a estimativa é que mais US$ 5,6 bilhões tenham deixado os emergentes.

Desde março, estes países estão perdendo bilhões de dólarespor mês, tanto na renda fixa como nas bolsas, revertendo o movimento de fevereiro, quando haviam recebido US$ 17,6 bilhões.

Segundo o  economista-chefe do Bank of America para os Estados Unidos, Michael Gapen, dois fatores advogam contra os países emergentes, incluindo o Brasil, neste momento: o dólar mais forte e os temores de uma desaceleração no ritmo de crescimento global, com temores de recessão nos EUA e mais fortes ainda na Europa.

“O dólar forte em um ambiente de risco e em que o Fed está elevando sua taxa básica de juros tende a prejudicar os mercados emergentes, principalmente os países que tomaram empréstimos em dólares”, afirma o especialista. “Tem de se levar em conta o risco de uma recessão global. O crescimento nos EUA está diminuindo, fora, também. Obviamente, os mercados emergentes tendem a depender do crescimento global para as exportações, o Brasil menos do que outros, é claro”, acrescenta o economista do Bank of America.

Com os bancos centrais em pleno recesso de aperto monetário para controlar a disparada da inflação, a pressão para saída de recursos dos países emergentes devem permanecer nos próximos meses, de acordo com especialistas . Nesta semana, o (Fed Reserve (Fed, o banco central americano) deve anunciar outro aumento de juros de 75 pontos-base, mantendo uma postura ‘hawkish’ ou seja, de subida nas taxas, até o fim deste ano.

Além dele, o Banco Central Europeu (BCE), elevou o juro da região pela primeira vez em 11 anos, segundo outras autoridades como Canadá e Suíça.

De acordo com a consultoria britânica Capital Economics, ativos financeiros dos mercados emergentes seguirão sob pressão  ao longo de 2022, mas não prevê, contudo, que o cenário se agrave tanto quando em 2013, quando houve uma saída forte de recursos dos mercados emergentes. O período que ficou conhecido como “taper  tantrum”, quando o Fed começou a retirar os estímulos monetários adotados após a crise financeira de 2008.

“O resultado que esperamos que os ativos dos mercados emergentes permaneçam sob pressão a medida que os retornos nos EUA continuem subindo, o crescimento global fique abaixo do esperado e o apetite dos investidores por risco permaneça frágil”,  diz o economista da Capital Ecomomics, James Reilly.

A também britânica Oxford Economics afirma que suas previsões para as economias da América Latina continuam a se deteriorar devido às condições financeiras globais cada vez mais apertadas. “Com os investidores não mais precificando totalmente uma alta de 1 ponto percentual pelo Fed, as pressões de venda sobre preços dos ativos da América Latina diminuíram em relação aos picos vistos na semana passada, mas os riscos de recessão para a região permanecem consideráveis”, conclui a consultoria.

Da Redação O Poder

Conteúdo: Estadão

Foto: Divulgação

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