Com a taxa de desemprego no menor nível desde 2014, algumas cidades têm se sobressaído na criação de novas vagas. Nos locais, com mais de 50 mil habitantes, quatro dos cinco municípios que se destacam na criação de emprego neste ano têm colhido bons resultados por apresentarem atividades ligadas de forma direta ou indireta com o agronegócio – o grande motor de crescimento do País.
Um levantamento realizado pela consultoria LCA mostra que as cidades de Cristalina (GO), Venâncio Aires (RS), Canaã dos Carajás (PA), Santa Cruz do Sul (RS), e Lençóis Paulista (SP) são as cinco que mais criaram vagas de trabalho no primeiro semestre de ano em relação ao número de habitantes.
“Tirando Canaã dos Carajás, quatro dos cinco municípios têm vagas ligadas direta ou indiretamente à questão do agronegócio, da agropecuária. É o que tem puxado a economia neste ano”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA e responsável pelo estudo.
O mapeamento da LCA foi realizado com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e, portanto, só inclui o mercado de trabalho formal.
Em Cristalina, por exemplo, foram abertas quase 3,5 mil vagas, o que equivale a 5,6% do total de habitantes no município. Em Venâncio Aires, essa relação é de 5,3%.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB cresceu 1,9% em relação aos últimos três meses de 2022. O resultado foi puxado pelo agronegócio – o setor cresceu 21,6%.
O estudo optou fazer uma relação entre criação de postos de trabalho e tamanho da população, porque municípios mais populosos tendem a apresentar saldos líquidos maiores de criação de emprego, embora nem sempre seja um valor representativo para a dinâmica local.
Os menores, por sua vez, também podem apresentar distorções. Sem o recorte do número mínimo de habitantes, a cidade com maior número de vagas criadas em relação ao tamanho da população é Borá. O município do interior de São Paulo tem apenas 907 habitantes e reportou a abertura de apenas 278 vagas, o que corresponde a uma relação de 30,7%.
A influência do agronegócio fica evidente numa análise detalhada do mercado de trabalho das cidades com melhor desempenho:
- Cristalina: 87% do saldo das vagas vêm diretamente da agropecuária, com o cultivo de soja e outras oleaginosas;
- Venâncio Aires: 95% dos postos são criados pela indústria, sobretudo, pelo processamento do fumo, que está indiretamente ligado à agropecuária;
- Canaã dos Carajás: 77% do total de emprego vem da construção, impulsionada por obras públicas. É a única cidade que se destaca no levantamento da LCA com um mercado de trabalho pouco influenciado pelo agronegócio; o projeto S11D da Vale está localizado na cidade;
- Santa Cruz do Sul: 95% das vagas estão relacionadas com a indústria do fumo;
- Lençóis Paulistas: 59% dos postos foram criados pela indústria, em especial, pela de celulose.
O diretor do FGV Social, Marcelo Neri, afirma que o agronegócio tem sido a solução, com uma elevada geração de emprego. Para ele, o que poderia ser um problema, com aumento da desigualdade social no campo, não tem ocorrido. Pelo contrário. Hoje, diz o executivo, o Centro-Oeste, maior produtor agrícola do País, é a segunda região com menor desigualdade do trabalho. “A renda é alta e isso tem provocado um fluxo migratório de pessoas do Sul para essas fronteiras agrícolas.”
O que esperar do mercado de trabalho
De forma geral, a economia brasileira ainda tem sido capaz de abrir novos postos de trabalho, apesar dos sinais de arrefecimento e da expectativa de desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB).
No primeiro semestre de 2023, o País registrou 1,023 milhão de vagas formais de emprego, de acordo com dados do Caged. É um resultado abaixo do apurado no mesmo período do ano passado, quando houve a criação líquida de 1,388 milhão de postos formais.
“No ano passado, havia um espaço de recuperação um pouco maior para compensar as perdas da pandemia. Neste ano, devemos crescer um pouco menos e, consequentemente, isso afeta o mercado de trabalho”, diz Imaizumi.
Os dados apurados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também têm revelado um cenário bom para o emprego. No trimestre encerrado em junho, a taxa de desocupação foi de 8%, a mais baixa para esse período do ano desde 2014.
“Esse maior dinamismo da ocupação se deu por conta da forte aceleração da atividade doméstica nos primeiros meses do ano, e grande parte desse bom resultado teve como responsável a performance do PIB agropecuário”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências. “Além de uma contribuição direta do setor, acabou gerando efeitos indiretos nos segmentos tanto da indústria como de serviços que são mais intensivos em trabalho.”
Nos próximos meses, a expectativa é de um cenário mais moderado para o mercado de trabalho, sobretudo pela desaceleração do setor agropecuário e pelo esgotamento dos benefícios gerados pela normalização da economia, depois de superada a pior fase da pandemia de covid.
“O setor de serviços deve seguir como principal drive dessa geração de emprego, a indústria deve seguir com um cenário desafiador e a agropecuária tende a apresentar uma acomodação na margem”, afirma Assis.
Na avaliação da Tendências, a taxa de desocupação deve recuar até o fim do ano e voltar a subir em 2024. “Mas vai seguir em patamar reduzido. Não há uma expectativa de que a taxa retorne para os dois dígitos como se viu nos últimos anos”, diz o economista da consultoria.
Com informações do Terra
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