junho 12, 2025 04:02

‘Agi dentro das quatro linhas da Constituição’, diz general Heleno no STF

O STF retomou nesta terça-feira, 10, às 9h, os interrogatórios dos réus do núcleo principal da trama golpista que teria sido articulada durante o governo Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente eleito Lula.

Após a oitiva do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier e o ex-ministro da Justiça e do ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, prestou depoimento o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro.

O advogado do general, Matheus Milanez, informou que o réu optaria por fazer uso parcial do direito ao silêncio, respondendo “única e exclusivamente às perguntas de sua defesa”.

Durante o interrogatório, o ex-ministro-chefe do GSI do governo Bolsonaro negou envolvimento em ações golpistas e afirmou que declarações suas foram retiradas de contexto.


Reunião ministerial

Ao ser questionado sobre a reunião ministerial de 5 de julho de 2022, mencionada na denúncia da PGR, Heleno confirmou que havia solicitado à Abin – Agência Brasileira de Inteligência o acompanhamento das campanhas presidenciais daquele ano.

O objetivo, segundo ele, era evitar atentados como o ocorrido em Juiz de Fora em 2018, contra o então candidato Jair Bolsonaro. “Considerava muito importante que houvesse colaboração entre os órgãos de segurança para que aquilo não voltasse a acontecer”, afirmou.

Heleno esclareceu que o acompanhamento se dava em um planejamento estratégico existente desde 1919, envolvendo o TSE, polícias militares, PRF e PF. Ele negou qualquer tentativa de infiltração de agentes da Abin nas campanhas:

“Sempre ocorreu de forma límpida, cristalina, e a gente queria que continuasse a ocorrer.”

Metáforas

Questionado sobre frases ditas na reunião como “tem que virar a mesa” e “tem que dar soco na mesa”, o general respondeu que se tratava de linguagem figurada.

“Essas duas palavras são usadas normalmente quando nós queremos caracterizar que precisa uma ação imediata. Não é nada que envolva urnas eletrônicas. E eu fiz questão de dizer que me preocupava a situação que nós estávamos vivendo politicamente e que nós precisávamos agir antes que isso aí trouxesse maiores problemas para o sucesso das eleições.”

Politização do GSI

Ainda sobre a reunião, disse que não houve desdobramentos formais para o GSI.

“Essas decisões de cunho político, elas paravam ali entre eu e meus assessores mais próximos. Era uma conversa aberta e eu nunca levei assuntos políticos. Tinha de 800 a 1.000 funcionários no GSI e eu nunca conversei com eles sobre assuntos políticos.”

Heleno também rechaçou a acusação de que teria politizado o GSI.

“Não havia clima para fazer pregações políticas, nem utilizar os servidores do GSI para atitudes politizadas.”

 


Negou ainda ter orientado a Abin a produzir relatórios com informações falsas sobre o processo eleitoral ou utilizado recursos do GSI para disseminar desinformação.

Caderneta golpista

Outro ponto abordado foi a chamada “caderneta golpista”, supostamente encontrada em sua posse. Heleno classificou o objeto como uma agenda pessoal, particular e sigilosa.

“Era uma agenda que eu utilizava frequentemente e estava na minha mão quase sempre e onde eu anotava as coisas que eram do meu interesse. E era um documento particular, secreto, que não vinculava os assuntos que estavam escritos nessa agenda e que não apresentava nada que pudesse levar ao julgamento de que essa agenda era uma caderneta golpista.”


Sistema eleitoral

Sobre suas manifestações públicas, reiterou ser defensor do voto impresso, mas sem pretensão de invalidar o sistema eleitoral.

“Esse problema de fraude de urnas eletrônicas é mundial. No mundo inteiro há uma desconfiança em relação ao voto em urnas eletrônicas. Tanto é que houve a criação de uma comissão entre as forças militares para exatamente examinar o grau de confiabilidade das urnas eletrônicas. […] Eu sempre fui adepto do voto impresso, mas era um a mais, não tinha força para transformar aquilo em uma realidade. ” 

E reforçou que aceitou o resultado das eleições: “Não havia outra solução.”


Desinformação

O general também refutou a tese de que tenha contribuído para uma narrativa de desinformação contra o sistema eleitoral.

“Eu não tinha nem tempo para fazer isso.”

Afirmou que nunca estimulou o descumprimento de decisões judiciais, ainda que tenha reconhecido tensões entre o governo Bolsonaro e o Poder Judiciário.

Voo da FAB

Ao ser perguntado quanto ao encontro com o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, no ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, em 16 de dezembro de 2022, Heleno relatou que estava na formatura do neto quando foi chamado pelo presidente Jair Bolsonaro para retornar a Brasília.

Como não havia voo disponível em tempo hábil, solicitou carona no avião do brigadeiro, com quem teve uma breve conversa sobre a situação política.

Segundo o general, Baptista Júnior ficou surpreso com seu desconhecimento sobre determinados acontecimentos. “Ele ficou atônito com meu desconhecimento do que estava acontecendo”, disse.

A reunião com o presidente, marcada para o dia seguinte, acabou não ocorrendo.

Uso da Abin

Heleno também negou que ele ou o ex-diretor da Abin, delegado Alexandre Ramagem, tenham utilizado a agência para fins escusos. “Isso era absolutamente vedado, até pela natureza dos servidores da Abin”, afirmou. Explicou que a agência não é subordinada ao GSI, mas apenas vinculada. “Não posso dar ordens à Abin”, completou.

8 de janeiro

Ao ser questionado sobre os atos de 8 de janeiro, o general respondeu: “Estava em casa. Soube dos acontecimentos pela televisão.”

Disse não ter tido qualquer envolvimento ou prévio conhecimento dos atos.

Quem será ouvido

O “núcleo 1” é composto por Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. Eles serão ouvidos em audiências previstas para acontecer ao longo desta semana, em ordem alfabética.

 

Da Redação com informações de Migalhas

Foto: Reprodução

 

Últimas Notícias

STF forma maioria para responsabilizar big techs por conteúdos de usuários

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou nesta quarta-feira, 11, para que as big techs sejam...

Mais artigos como este

error: Conteúdo protegido!!