Em depoimento prestado à Polícia Federal nesta sexta-feira, o tenente-coronel Mauro Cid negou que tivesse qualquer intenção de fugir do país ou conhecimento sobre um eventual pedido de passaporte português em seu nome. Segundo a defesa do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele também afirmou que mensagens atribuídas a ele não são de sua autoria.
O depoimento de Cid foi prestado após uma operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que incluiu busca e apreensão em sua residência e a apreensão de seu celular. A medida, inicialmente prevista para ser uma prisão preventiva, foi revertida durante a madrugada por Moraes, que optou por ouvir Cid antes de avaliar novas providências.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) havia solicitado a prisão de Cid ao STF com base em informações da Polícia Federal, que apontaram a saída de quatro familiares dele rumo aos Estados Unidos. Segundo a PGR, o movimento reforçaria indícios de que Cid e o ex-ministro do Turismo Gilson Machado buscavam viabilizar sua fuga do país. Machado foi preso na manhã desta sexta-feira, após a PF apurar que ele teria procurado o Consulado de Portugal em Recife para obter um passaporte europeu para Cid.
Em depoimento, o tenente-coronel afirmou que não tem contato com Machado desde o fim do governo Bolsonaro.
A suspeita, conforme relatado pela PGR, é de que a iniciativa visava facilitar a saída de Cid do Brasil e, assim, obstruir o andamento da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado — processo em que Cid é réu, ao lado de Jair Bolsonaro e outras autoridades.
O depoimento na sede da PF durou mais de 3 horas. Cid também foi ouvido sobre mensagens publicadas pela Revista Veja. De acordo com a publicação, o tenente-coronel usou um perfil no Instagram para se comunicar com um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o conteúdo de sua delação premiada. Quando foi ouvido no STF, Cid negou que tenha usado o perfil citado.Caso do passaporte
A PF quer saber se Machado atuou para facilitar uma possível saída de Cid do país. Ao GLOBO, o ex-ministro admitiu ter procurado o Consulado de Portugal em Recife, em maio deste ano, por telefone, mas alegou que sua intenção era tratar de uma questão familiar. A medida foi interpretada pela PF como uma possível tentativa de atrapalhar o andamento da ação penal da trama golpista, já que Cid é um dos réus. A Procuradoria-Geral da República (PGR) concordou com a investigação sobre o caso.
A PF reuniu indícios de que Gilson procurou o consulado em Recife, onde mora, para conseguir o passaporte de Cid, mas não teve sucesso. Há a suspeita, contudo, de que ele poderia procurar outras embaixadas ou consulados com o mesmo objetivo, para que o tenente-coronel deixe o país. A PF também ressaltou que em janeiro de 2023, antes de ser preso pela primeira vez, procurou um serviço de assessoria para a obtenção da cidadania portuguesa.
Procurado na quarta-feira, Machado negou que tenha procurado o consulado em busca de um benefício para Cid.
— Estou surpreso. Nunca fui atrás de nada a respeito de Mauro Cid. Tratei do passaporte para o meu pai — afirmou o ex-ministro
A PGR afirma que a atitude pode configurar obstrução de investigação da trama golpista e de outras apurações em curso, além de favorecimento pessoal. A PGR considera, no entanto, que é necessário aprofundar a apuração. De acordo com a Procuradoria, as informações reunidas pela PF apontam “elementos sugestivos” de uma ação de Machado para “obstruir a instrução da Ação Penal n. 2.688/DF e das demais investigações que seguem em curso, possivelmente para viabilizar a evasão do país do réu MAURO CESAR BARBOSA CID, com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, tendo em vista a proximidade do encerramento da instrução processual.”
Da Redação com informações de O GLOBO
Foto: Cristiano Mariz/O GLOBO