O retorno das aulas presenciais na rede estadual de ensino, em Manaus, tem gerado polêmica, discussões, conflitos e trazido à tona a influência político-eleitoral no debate, às vésperas de uma eleição municipal.
De um lado, um estudo técnico da Secretaria de Educação do Estado (Seduc) aponta para a possibilidade de retorno às aulas e, inclusive, com apoio da ampla maioria da comunidade educacional; de outro, sindicatos, movimentos e pessoas ligadas a grupos políticos condenam o retorno e questionam o posicionamento da Seduc.
Com calendário da volta às aulas presenciais e no sistema híbrido marcado para o próximo dia 10, o cronograma da pasta estadual de educação vem sofrendo pressão para que seja mantida a suspensão das aulas, inclusive, já há uma ação na Justiça estadual ingressada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam), para manter este ‘status quo’.
O sindicato defende a manutenção das teleaulas, como tem sido feito desde o dia 23 de março, quando o Estado entrou oficialmente em quarentena devido à pandemia do novo coronavírus no Amazonas. “Não dá pra voltar sem segurança. Quem vai garantir distanciamento em turmas com 60 alunos? Mesmo dividindo em duas, são 30 em cada em sala de 3×4 metros quadrados. Não tem teste nem pra trabalhador nem para estudantes. Por que não manter as aulas remotas? A pandemia não acabou. Estamos lidando com a vida, com a saúde das pessoas”, afirmou a presidente do Sinteam, Ana Cristina Rodrigues.
Ligado ao PCdoB, partido de esquerda e que tradicionalmente movimentou o debate em área pilares, como a educação, o Sinteam realizou nesta segunda-feira, 3, uma assembleia geral na plataforma zoom para discutir com a categoria o retorno às aulas presenciais. Na semana passada, o sindicato realizou assembleias zonais de caráter consultivo. Em ambas as assembleias, a opinião dos servidores foi contrária ao retorno das aulas presenciais e a favor da manutenção das aulas em casa.
Carreata
Outra corrente que defende a manutenção exclusiva das teleaulas, o Sindicato dos Professores e Pedagogos das Escolas Públicas do Ensino Básico de Manaus (Asprom-Sindical), realizou nesta segunda uma carreata em protesto ao retorno às aulas de forma presencial. A carreata se concentrou durante a manhã em frente a Arena Amadeu Teixeira e seguiu em direção à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) para cobrar audiência pública na Comissão de Educação do Parlamento.
Na semana passada, a Asprom-Sindical chegou a aprovar um indicativo de greve nas escolas da rede estadual de ensino na capital amazonense.
Jogo político
Na manhã desta segunda-feira, 3, o pré-candidato à Prefeitura de Manaus pelo Psol, Jonas Araújo, comentou sobre os dados apresentados pela Seduc que mostram aceitação de mais de 97% dos educadores e pais de alunos pelo retorno às aulas. Segundo ele, os dados não são 100% verídicos.
Jonas Araújo explicou que a democratização no ensino não é a volta às aulas presenciais. “Essa contaminação não deverá ocorrer exclusivamente dentro da escola, mas, no trajeto que esses estudantes percorrem para chegar até a unidade de ensino”, ressaltou.
O presidente municipal do Psol explicou que outro fator que deixa a categoria de educadores bastante temerosa, é a possibilidade de uma segunda grande onda de infecção pelo novo coronavírus (Covid-19).
Para Araújo, existem duas leituras que pautaram os técnicos da educação a defenderem o retorno às aulas. “Primeiro é a necessidade de ativar o mercado, pois, o retorno às aulas movimentam o mercado. O segundo ponto é para tirar o foco de uma das principais situações que vem passando o Estado, que é o arquivamento do processo de impeachment do governo do Estado”, disse o pré-candidato a prefeito.
A Seduc não quis comentar o movimento anti-retorno das aulas presenciais.
Henderson Martins, para O Poder
Foto: Divulgação