novembro 25, 2024 09:35

Parintins: pacientes são ‘amarrados’ a macas por falta de sedativo, diz Globo

Pacientes com Covid-19 estão sendo amarrados a macas no Hospital Regional Dr. Jofre Matos Cohen em Parintins, a 370 km de Manaus, por falta de medicamentos para sedação. A informação foi divulgada em rede nacional pela TV Globo.

Segundo a emissora, os pacientes com Covid-19 do hospital municipal estão inconscientes, intubados e em estado grave. “Eles passaram o fim de semana amarrados nas próprias macas, com nós improvisados com gaze. O motivo: acabou o sedativo usado na intubação”, diz a reportagem da TV Globo.

A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira disse que diante da situação de não ter sedativos, o procedimento de amarrar o paciente não está errado e explicou o que pode acontecer quando acaba o efeito da sedação.

“A primeira coisa que pode acontecer é uma auto-extubação. Ele tira o tubo e isso pode levar, inclusive, a uma parada cardíaca. É desumano a gente pensar em uma pessoa que vai ser mantida em uma ventilação mecânica, em uma ventilação artificial, sem estar sob analgesia e uma boa sedação. Porque ela vai sentir desconforto, ela vai sentir ansiedade, ela vai sentir medo. E tudo isso vai levar a consequências muito graves mesmo que não na hora, no futuro. Pode levar a várias consequências traumáticas para essa pessoa”, explica Suzana Lobo, presidente da Associação Brasileira de Medicina Intensiva.

Investigação

A Defensoria Pública confirmou a autenticidade dos vídeos e vai apurar a situação dos pacientes. “A Defensoria vai oficiar a Prefeitura de Parintins, mas também a direção do hospital, para pedir esclarecimentos sobre o fato que as imagens retratam. A depender dessa resposta, a gente vai, sim, analisar e considerar, sim, a propositura de uma ação judicial”, afirma o defensor público Rafael Barbosa.

Segundo a Defensoria Pública do Amazonas, pacientes graves de Parintins e de outras cidades do interior ganharam da Justiça o direito de serem transferidos para Manaus, único município que possui hospitais com UTI. Mas, a pedido do governo do estado, o Tribunal de Justiça suspendeu todas as transferências que tinham ordem judicial. Agora, eles aguardam na fila da transferência, que está com quase 150 pacientes.

A intubação é um procedimento que visa preservar a respira em quadros de complicação respiratória grave, como as que acontecem com os pacientes de Covid. Com isso, o paciente passa a respirar com auxílio mecânico. É um dos recursos usados na recuperação de um paciente com Covid.

Antes da pandemia, os hospitais do Amazonas consumiam 800 ampolas por mês de um dos medicamentos usados para sedação. Com a nova explosão de casos de Covid, o número subiu para 28 mil ampolas em dezembro, e 50 mil em janeiro – quando o estado viveu o momento mais crítico.

Hoje, o estado consome mais da metade do produto comercializado no Brasil. Há receio pela falta do produto no mercado, por causa do segundo pico da pandemia.

“Hoje, nós temos uma preocupação no estado com bloqueadores neuromusculares. Entretanto, o estado fez suas compras, fez suas aquisições necessárias. Nos preocupa a produção nacional, porque se repetir em outros estados o que aconteceu aqui no estado do Amazonas, nós podemos ter um desabastecimento nacional se a indústria farmacêutica não aumentar sua produção”, diz Cláudio Nogueira, diretor da Central de Medicamentos/AM.

Por telefone, o secretário de Saúde de Parintins, Clérton Florêncio, disse que a denúncia não procedia e que mandaria uma resposta oficial, mas não atendeu mais o telefone depois. O Jornal Nacional também não conseguiu contato com a prefeitura.

A Secretaria de Saúde do Amazonas declarou que mandou os medicamentos no próprio no sábado, 20, logo depois de receber o pedido do município; que não houve relatos oficiais dos fatos mostrados na reportagem; que tem removido pacientes com recursos próprios e com apoio da FAB; e que nesta terça-feira, 23, uma força tarefa irá a Parintins para verificar o motivo do alto número de internações.

Outro lado 

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de Parintins esclareceu que não houve falta de medicamentos sedativos em pacientes intubados no Hospital Municipal Jofre Cohen, referência no tratamento de Covid-19.

Confira a nota: 

Mesmo com o estoque crítico de bloqueadores neuromusculares no sábado, como informado ao Governo do Estado, em momento algum os pacientes ficaram sem a sedação necessária para mantê-los em ventilação mecânica.

Quanto à denúncia sobre pacientes “amarrados” nas macas, a contenção dos mesmos é necessária para mantê-los em segurança, ao iniciar a diminuição dos sedativos, como no processo de extubação, evitando acidentes com os mesmos em uma movimentação brusca ou qualquer agitação que possa ocorrer após um longo período intubado.

A Secretaria informa também que há um número crescente de pacientes em estado grave, com necessidade de remoção a Manaus para tratamento de alta complexidade e que aguarda a transferência realizada pelo Governo do Estado do Amazonas.

Clerton Rodrigues
Secretário Municipal de Saúde
Josimar Marinho
Diretor Geral do Hospital Jofre Cohen
Renan Nascimento
Diretor Clínico do Hospital Jofre Cohen

 

Conteúdo Globo 

Foto: Divulgação 

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