O fim das coligações nas eleições proporcionais modificou o cenário das candidaturas nas eleições de 2022. Por conta disso, existe uma movimentação dos vereadores de Manaus considerados “soldados” de seus partidos para ajudar no quociente eleitoral, além daqueles que têm o plano de conquistar novos cargos.
Este ano, 61% dos vereadores irão tentar alçar voos maiores. O Portal O Poder conversou com dois cientistas políticos para entender melhor o fenômeno.
“Isso impõe aos partidos políticos a obrigatoriedade de lançarem chapas próprias, lista inteira de filiados para a conquista do quociente eleitoral. Se o partido político não alcançar o mínimo de 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados e, no mínimo, para o Estado, o partido perderá parcela significativa do fundo partidário, do fundo eleitoral e não terá mais direito a programa partidário no rádio e na televisão. É um desafio enorme recrutar novas lideranças, colocar seus quadros eletivos para disputar o pleito com o objetivo de ajudar o partido, mas também para ajudar o cacique para viabilizar o seu projeto de poder no âmbito do Executivo”, explica o sociólogo e cientista político Carlos Santiago.
“Com o fato das candidaturas proporcionais não poderem ser passíveis de coligação, cada partido lança sua nominata. Isso fez com que os líderes partidários corressem ‘da sala para a cozinha’ para fazer números. De certa forma, eles apelam aos vereadores para completar a nominata ou para obter o quociente eleitoral, que tem subido a cada eleição. É uma forma de, pelo menos, tentar atingir esse quociente que não é a coisa mais fácil concorrendo isoladamente”, comenta o cientista político e advogado, Helso Ribeiro. “É uma boa desculpa (de que os vereadores seriam soldados de seus partidos). Nas eleições proporcionais o que conta é o quociente eleitoral. Esses vereadores vêm de uma boa chamada, ou seja, vão agregar votos ao partido. É claro que entram pensando em ganhar. Eles não perdem nada e não deixam de ser vereadores pelo fato de entrarem em campanha. É uma forma de manter o nome deles ‘em alta’”, observa Ribeiro.
Novos Voos
Além da tradicional disputa dos vereadores por uma cadeira na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), os parlamentares do eixo municipal tentarão uma cadeira na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
“Penso que temos que interpretar com muito cuidado. Cada cargo eletivo tem a sua competência. Algumas pessoas acham que o ápice seria o Senado. Na verdade, é uma competência mais larga em relação ao vereador que tem a competência muito restrita. O vereador tem uma importância fundamental para uma cidade, um bairro. Já um senador tem uma competência nacional. Não há hierarquia nenhuma de nível de importância, isso no meu entendimento. Cada função tem a sua nobreza e tem a sua finalidade. As pessoas acham que o fato de estar em Brasília (DF) tem um realce maior”, comentou Helso Ribeiro.
“Então, em termos de visibilidade, um vereador de Manaus quase não vai aparecer a não ser com um fato inédito ou com escândalo. É por isso que as pessoas tentam esta mudança além do que quem está com mandato de vereador não perde nada em concorrer a qualquer outro cargo. Eles estão com mandato, é uma forma de ter o nome ‘em alta’ e tentar chamar a atenção do eleitor. Tivemos exemplos nacionais e locais de vereadores que saíram da Câmara Municipal direto para o Senado Federal”, finalizou.
“A Câmara Municipal de Manaus tem uma tradição forte de dirigir vereadores para a Assembleia, Câmara dos Deputados e até para o Senado Federal. São exemplos o senador Jefferson Peres e o senador Plínio Valério. Já Francisco Praciano e Vanessa Grazziotin saíram de vereadores para a Câmara dos Deputados. Há a mudança na legislação eleitoral mas existe a vontade política dos vereadores de disputar outros cargos. O objetivo é claro de conquistar um mandato ou, se não conquistar, reforçar seu nome para as próximas eleições”, observa Carlos Santiago.
Chances
Questionados sobre quais vereadores têm chances reais de se eleger, Helso Ribeiro frisou que depende muito do poder aquisitivo dos candidatos. Ele frisa que terão muitos discursos na campanha sobre a candidatura ser um pedido popular, mas que não é bem assim.
“Diria que vai muito do poderio de gasto nas eleições. Ganho pleito quem agrega o maior poder econômico a sua campanha. Os vereadores que mais conseguirem recursos para a campanha terão mais chances para se eleger deputado estadual, federal ou um outro cargo qualquer”, considera Ribeiro.
“Há a possibilidade real de eleição de Amom Mandel (Cidadania) para a Câmara Federal. Porém há outros postulantes que possuem chances reais de ganhar a vaga”, comentou Carlos Santiago sem citar mais nomes.
Dos 41 vereadores da Câmara Municipal de Manaus (CMM), 61% irão disputar a eleição deste ano. Conforme o sistema de divulgação de candidaturas e contas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 25 parlamentares fizeram o registro de candidatura.
Priscila Rosas, para Portal O Poder
Foto: Acervo O Poder