novembro 23, 2024 18:05

Em uma semana os rumos de Silas Câmara mudarão

A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional atualmente tem 228 integrantes: 202 deputados federais e 26 senadores. Composta por 15 partidos, só 26 congressistas podem ser contabilizados como aliados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É comandada pelo deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), considerado independente.

Em 7 de fevereiro, a frente voltará a ser chefiada pelo deputado aliado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) Eli Borges (PL-TO). Haverá um culto de Santa Ceia às 8h da manhã no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Alguns ministros do governo foram convidados e podem comparecer à cerimônia. Dentre eles, o advogado-geral da União, Jorge Messias. A mudança fortalecerá a oposição da bancada evangélica.

Em agosto de 2023, Messias compareceu ao culto de posse de Silas Câmara. Também marcaram presença o então ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (hoje de Empreendedorismo), e o chefe da Secretaria Geral da Presidência, Márcio Macêdo.

A ala bolsonarista seguirá sendo a maior força dentro da bancada, com 119 congressistas dos 228. Ou seja, mais da metade do grupo. A reportagem considerou aliados de Bolsonaro aqueles que apoiaram o ex-presidente nas eleições de 2022 e têm algum vínculo de proximidade com o antigo chefe do Executivo brasileiro nas redes sociais.

Borges reassume o comando da bancada evangélica em um momento de atrito do grupo religioso com Lula.

O novo capítulo da relação conturbada dos evangélicos com o governo se dá por causa da suspensão da norma que concedia isenção fiscal a líderes religiosos pela Receita Federal. Depois da repercussão negativa do ato, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou a criação de um grupo de trabalho para debater uma eventual isenção aos líderes do segmento.

A medida foi definida depois de uma reunião de Silas Câmara com o titular da Fazenda.

O futuro presidente da frente disse que não pretende mexer na decisão de Câmara e que vai continuar debatendo o tema. No entanto, declarou que não irá se render aos “caprichos palacianos”.

“Se o grupo já está instituído pelo atual presidente, terá o meu respeito. Não há necessidade de ampliá-lo. Debater o tema é meu dever parlamentar e a frente continuará fazendo isto, mas nunca rendido aos caprichos palacianos que a priori tem tentado colocar os líderes religiosos contra o povo”, afirmou Borges.

O futuro presidente também disse que sua pauta será a mesma do 1º semestre de 2023, quando esteve à frente da bancada no Congresso.

“Vida, liberdade, família nos moldes judaico-patriarcal, não à descriminalização da maconha e filantropia”, afirmou. Borges acrescentou que pessoalmente vai defender a redução da maioridade penal.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que faz parte da bancada, disse não ver com preocupação o retorno de um congressista bolsonarista ao comando do grupo.

“O deputado Eli Borges já havia assumido antes, então não vejo mudanças significativas quanto a isso”, declarou.

A petista disse esperar que na lista de demandas da bancada seja inserida a inclusão social pautada pelo governo Lula.

“Independentemente de quem assumir, esperamos que haja foco nos projetos de inclusão social do governo, pois o povo evangélico precisa disso”, afirmou.

Entre os integrantes da frente, há congressistas que fazem parte da bancada evangélica mas não são evangélicos.

O deputado Silas Câmara foi procurado, entretanto, até a conclusão desta reportagem, não se manifestou. O espaço segue aberto.

A PRESIDÊNCIA DA FRENTE

No fim de 2022, houve uma reunião com integrantes da bancada para definir o próximo presidente, que teria mandato de 2 anos.

No entanto, não houve consenso quanto à escolha, o que levou a um acordo: de 2023 a 2024, os deputados Eli Borges e Silas Câmara revezariam a presidência a cada semestre. Portanto, a troca de bastão será realizada mais uma vez este ano, com a volta do deputado do PL à frente da bancada.

A ideia é que o revezamento mude a partir do próximo ano, com um nome escolhido no fim de 2024 para comandar a Frente Parlamentar Evangélica em 2025 e em 2026.

Nunca houve eleição para a presidência da bancada. Os nomes são apresentados e um deles é escolhido por “aclamação”, o que não se deu no fim de 2022.

Agora, espera-se que haja uma direção definida no fim deste ano, para que não seja adotada novamente a coordenação compartilhada atual.

AVALIAÇÃO DE LULA ENTRE RELIGIOSOS

A última pesquisa PoderData, realizada de 16 a 18 de dezembro de 2023, mostra que mais da metade (52%) do eleitorado que diz se identificar mais com a religião evangélica considera o governo do presidente Lula “pior” que o de Bolsonaro. A taxa oscilou 5 percentuais para cima desde o início do 3º mandato do petista.

Nesse estrato religioso, 1/3 afirma que a gestão petista é “melhor” que a do ex-presidente –percentual 3 pontos mais baixo que o registrado em janeiro. Outros 15% declaram não ver diferença entre os governos.

Os percentuais são o inverso dos registrados no estrato geral da pesquisa, que mostra que quase metade da população (49%) diz considerar a administração de Lula “melhor” que a de Bolsonaro. Outros 38% avaliam ser “pior”.

O levantamento também cruzou as repostas sobre a avaliação comparativa do governo atual com o anterior dentre os eleitores que declaram se identificar mais com a religião católica.

LULA E CATÓLICOS

O governo finalizou o 1º ano de seu 3º mandato aprovado por 56% do eleitorado católico. A taxa recuou 6 pontos percentuais em relação ao início da administração, quando o petista era aprovado por 62%.

A desaprovação oscilou desfavoravelmente ao governo nesse grupo religioso, mesmo que dentro da margem de erro. No começo do mandato, a gestão era desaprovada por 31% dos fiéis da igreja romana. Em dezembro, os percentuais chegaram a 35%.

Julgamento

O julgamento de Silas Câmara que foi adiado na última quarta-feira, 24, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), será realizado na quarta-feira, 31, quando o deputado corre o risco de perder o mandato na Câmara Federal e a liderança da bancada evangélica que mudará a sua trajetória política.

O parlamentar é acusado de captação e gasto ilícito de recursos financeiros na campanha eleitoral de 2022. Houve despesas com fretamento de aeronaves no Amazonas, que ultrapassaram o valor de R$ 396 mil. Em alguns casos, os voos não contaram com a presença de Silas, e sim de outras pessoas, incluindo deputados estaduais e parentes.

Da Redação, com informações Poder 360

Foto: Reprodução

 

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