As mobilizações de membros do Ministério Público em todo o país, com apoio da Associação Amazonense do Ministério Público (AAMP), continuam para tentar barrar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 05/2021, que altera a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), compromete a democracia e fragiliza a autonomia da instituição. Pela terceira vez, a votação foi remarcada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para terça-feira (19).
Entre outros pontos, o parecer inicial do relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), previa aumentar esse número para quatro e ampliar a composição do colegiado de 14 para 15 conselheiros, o que já tinha sido alvo de críticas de representantes da categoria. Porém, no novo relatório, apresentado quinta-feira (14), o deputado foi mais longe: ampliou as indicações do Legislativo para cinco e aumentou para 17 o número de integrantes do CNMP, contemplando o Ministério Público Militar, que, na versão anterior do texto, havia perdido o direito a uma indicação.
O novo texto retira o dispositivo que dava ao conselho o poder de rever e mudar decisões de integrantes do MP, inclusive em investigações. Conforme o texto, isso ocorreria quando fosse comprovada a utilização do cargo para fins de interferência na ordem pública e política, na organização interna e na independência das instituições e dos órgãos constitucionais.
Para o presidente da Associação Amazonense do Ministério Público (AAMP), Promotor de Justiça Alessandro Samartin de Gouveia, mesmo com as mudanças propostas pelo relator, o texto ainda fere diretamente a independência funcional e a autonomia do Ministério Público.
“A autonomia institucional e a independência funcional do Ministério Público são condições necessárias e imprescindíveis ao cumprimento de sua missão constitucional. Essa proposta não ataca somente o Ministério Público, mas toda a sociedade. Trata-se de prerrogativas que são garantias para sociedade. A PEC inviabilizava o MP de desenvolver uma investigação de forma imparcial, célere e justa”, afirma.
Entre outros pontos criticados, o texto dá ao Congresso o poder de escolher o vice-presidente do CNMP, que passaria a acumular a função de corregedor nacional do Ministério Público — autoridade responsável pela condução de processos disciplinares contra promotores e procuradores.
Atualmente, o vice-presidente do CNMP é o vice-procurador-geral da República, e o corregedor é eleito pelos conselheiros.
Além de prever que o corregedor nacional do Ministério Público envie ao Congresso projeto para instituir um código nacional de ética e disciplina para membros do MP.
Samartin salienta que a proposta é um duro golpe à independência do Ministério Público e pode levar, caso seja aprovada, ao enfraquecimento da autonomia institucional e das prerrogativas dos membros do MP.
“Fica evidente pelos motivos lançados pelo parlamentar que essa PEC tem como objetivo, exclusivamente, uma vingança contra os membros do MP, não pelos seus erros, mas pelos acertos e busca incutir no sistema disciplinar do MP uma interferência política, que não existe desde 1988, quando formatado o modelo atual do MP. Então, afirmar que essas mudanças visam ‘aperfeiçoar’ o Ministério Público é um desrespeito, principalmente, com a sociedade”, afirma o promotor Samartin.
Da Redação com informações da assessoria de imprensa
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