De olho em uma vaga na Câmara Municipal de Manaus (CMM) nas eleições deste ano, muitas mulheres enfrentam os desafios de lançar candidatura pela primeira vez e se destacar em um universo dominado pela presença masculina. Um grupo de pré-candidatas ouvidas pelo O Poder afirmam que a participação das mulheres precisa ser mais incentivadas por toda a sociedade, inclusive com a participação de outras mulheres.
Com a determinação que 30% dos concorrentes por partidos precisam ser de candidaturas femininas, muitas chapas não investiam na capacitação de mulheres e apenas incluam nomes para cumprir a cota. A partir deste ano, a Justiça Eleitoral será mais rígida com os partidos que fraudam candidaturas para apenas cumprir a determinação de 30%.
Nas eleições deste ano, inclusive, será a primeira vez que entrará em vigor a resolução que permitirá ao juiz derrubar a lista inteira de candidatos a vereador dos partidos antes da eleição se for constatada irregularidades. Um dos possíveis entraves para os partidos e facilitador para a Justiça, será a obrigatoriedade da apresentação por escrito de todos os candidatos, o que antes não ocorria.
Importância feminina
Diante desse novo possível cenário, a pré-candidata a vereadora Frâncivania Silva, pelo PRTB, afirma que os partidos precisam entender a importância da atuação feminina de fato na política.
“Os partidos tem que entender que a atuação feminina é muito importante para mudança e estabilidade dentro dos espaços. A minha participação no partido PRTB não será somente para preencher cota de um percentual exigido e, sim, para concorrer efetivamente a vaga. Nós mulheres, vamos somar e contribuir para uma maior igualdade política”, afirma.
Segundo a pré-candidata, que é psicóloga e gerontóloga, a maior dificuldade que ela vem enfrentando é com relação a descrença da sociedade na política de uma forma geral. “Essa descrença em relação aos maus políticos e aos casos de corrupções envolvendo gestores, que utilizam dos recursos públicos para os seus próprios interesses. Essas experiências amargas, não deixa o novo apresentar suas propostas. Acredito na minha ideologia e desejo, um país melhor para todos”, disse.
Para levar à frente e alavancar sua candidatura, a pré-candidata tem como objetivos prioritários: promover ações que visem à valorização de mulheres e meninas e à prevenção do assédio sexual e combate à violência contra as mulheres na cidade de Manaus; priorizar para pessoa idosa o embarque e desembarque do transporte coletivo e a garantia da preferência no desembarque; garantir gratuidade no transporte coletivo para os idosos que continuam trabalhando; centros de Reabilitação de Neuropsicologia para todas as idades; criar novas casas- abrigos e ofertar a manutenção, para acolhimento de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar e de seus dependentes.
Frâncivania conta que foi convidada pelo presidente do PRTB, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Josué Neto, que conheceu em 2018 o trabalho que desenvolve nos bastidores com grupos de idosos na capital amazonense. “Eu conheço perto a realidade da pessoa com idade avançada”, garante.
Para garantir de fato a participação das mulheres na política não apenas para cumprir a regra dos 30%, a pré-candidata afirma ter a certeza que falta capacitação e respeito para combater a desigualdade.
“Poucas são mulheres que ocupam cargo de maior status. A explicação pode ser porque os homens têm mais acesso a cargos de liderança, o que faz com que mulheres tenham de ser mais qualificadas do que os homens para conseguir os mesmos cargos. Os homens se incomodam com as mulheres na política, somos despreciadas e discriminadas por eles, muitos consideram que não estamos preparadas”, disse.
Lugar de mulher é na política
Para Shirley Abreu, que é vice-presidente do PT Amazonas e ex-secretária Nacional de Regularização Fundiária da Amazônia Legal, que lançou sua pré-candidatura a vereadora de Manaus, ainda é notório a presença de candidaturas femininas apenas como ‘laranjas’.
“Em grande parte dos casos, as mulheres são utilizadas como candidaturas operacionais (disponibilizadas para o trabalho eleitoral) e até mesmo como “laranjas”, no caso de repasses de recursos partidários”, disse.
Segundo Abreu, no Partido dos Trabalhadores a regulamentação é cumprida de forma efetiva e as mulheres se negam a participar de forma teatral. “A obrigatoriedade de suprir as chapas proporcionais com 30% de mulheres é levada muito a sério, considerando que as mulheres petistas são oriundas ou militantes de movimentos sociais ou sindicais e não aceitam um papel subalterno nos processos eleitorais”, garante.
Abreu afirma que acredita que será eleita e que as únicas dificuldades que enfrenta são relacionadas ao caos por conta da pandemia do novo coronavírus. “Estou entre as principais candidaturas do PT Manaus. Confio nos apoios que venho recebendo dos amigos e companheiros de dentro e de fora do partido e acredito na vitória nessas eleições municipais. Considerando que este é um momento novo em que somos vítimas de uma pandemia, o que requer soluções inovadoras para que as minhas propostas de trabalho possam chegar até o eleitorado”, disse.
“A realidade brasileira demonstra que a participação feminina nos cargos públicos é infinitamente menor que a dos homens. Essa é uma realidade histórica que pouco a pouco vem sendo combatida e rompida. A história provou que nós podemos, com a eleição de Dilma Rousseff, mas preciso que as mulheres tenham as condições necessárias para fazer política partidária e eleitoral, isso só é possível com mais mulheres nos espaços políticos. Lugar de mulher é na política.”
Otimismo
Para a advogada e servidora pública do Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), Wanessa Pacheco, de 42, que tentará uma vaga na Câmara de Municipal pelo Novo, esse ano será o começo de novas perspectivas para as mulheres.
“Como não haverá coligação na eleição proporcional, e com a exigência mínima de 30% de mulheres candidatas, o papel da mulher na política passou a ser fundamental para o partido lograr êxito nas eleições, e alcançar o quociente eleitoral mínimo, a fim de que consiga conquistar uma cadeira no parlamento”, disse.
Para a pré-candidata, existem duas grandes dificuldades para as mulheres. Segundo ela, a primeira é conciliar os diversos papéis da mulher, de mãe, esposa, profissional, estudante e todos os outros que ela ocupe. “A outra é que a exclusão histórica da presença feminina na política ainda nos causa impactos hoje. Mesmo que os partidos estejam mais abertos a receber mulheres, as próprias mulheres ainda não se veem dentro da política”, disse.
Pacheco acredita que a maioria dos partidos já entendeu a importância da mulher na política, em virtude da capacidade maior de empatia. “Conseguindo fazer políticas públicas de forma diferente dos homens, inclusive, existindo estudos que provam que países liderados por mulheres tem menor índice de corrupção”.
A pré-candidata também acredita que a sociedade está ‘acordando para a política’. “Ela quer ver preparo, firmeza e coerência de ideias. Seja homem ou mulher, saber se comunicar com as pessoas é fundamental para que se faça entender o que queremos passar. A sociedade anseia por se identificar com alguém. E tenho me posicionado para isso. As mulheres têm ganhado seu espaço nos holofotes políticos, e vão ganhar cada vez mais quando entenderem que não se faz política apenas no discurso, e sim com ações”.
Apenas quatro eleitas
Nas eleições municipais de 2016 apenas quatro mulheres foram eleitas para a Câmara de Manaus: Prof. Jaqueline (PHS) com 8.222 votos; Profª Therezinha Ruiz (DEM) com 7.571 votos; Glória Carratte (PRP) com 5.059 votos e; Joana D´Arc Protetora (PR) com apenas 3.261 votos.
Com a eleição de Therezinha Ruiz e Joana Darc para a Assembleia Legislativa em 2018, e a titularização da então suplente Mirtes Salles, o Legislativo municipal possui apenas três mulheres vereadores de um universo de 41 parlamentares.
Álik Menezes, para O Poder
Foto: Montagem